Por Elisiê Peixoto
Retornei das férias, uma viagem programada, esperada e necessária. Afinal, estava esgotada por conta do trabalho, casa, rotina, tudo aquilo que uma mulher com mil funções sabe exatamente do que se trata. A gente vai acumulando coisas e descuidando da saúde porque acha que está forte. Mas não está e ninguém percebe isso. Se bobear, nem você, né?
Enfim, viajei. Dentro do avião, pensava comigo: “Não acredito, parece um sonho, consegui finalmente dar um tempo na minha vida estressante”. E foi assim, enquanto estava caminhando cerca de 15 mil passos por Lisboa e arredores. Mas qual foi a minha surpresa ao constatar que a saudade da minha casa começou a incomodar e eu, que sou muito intensa na minha vida familiar e caseira, notei que, à medida que o tempo passava, eu vislumbrava o retorno para o meu lar.
Tudo no meu passeio foi absolutamente perfeito, não tenho do que reclamar. Desde a forma que fui recebida na casa da minha anfitriã, da companhia que esteve comigo, dos lugares em que estive, da comida maravilhosa, do vinho diário à noite regado a excelente conversa, das compras e promoções que consegui, da forma tranquila que me virei em Lisboa, do tratamento que recebi dos portugueses. Até os voos foram bons. E isso é um detalhe importante porque morro de medo de avião.
Então, qual a razão de sentir vontade de voltar? Saudade. Não sei definir esse sentimento, mas sentir falta da sua rotina é muito louco. Até porque você sabe que a rotina dura 365 dias, se você não fizer alguma coisa para mudar!
Várias vezes me peguei falando: “isso ou aquilo meus filhos precisavam ver”, ou “vou comprar para agradar Fernando e Roberta”. Lembrei-me de um amigo querido ao entrar em uma loja de artigos cristãos, tomei um vinho maravilhoso em homenagem aos amigos que são sommeliers, durante algumas visitas em praças, sentei-me nas escadarias e pensei na minha amiga que havia me indicado tal lugar. Lembrei-me da minha mãe que adoraria caminhar comigo admirando o Rio Tejo e do meu pai que amava bacalhau à portuguesa. Levantei um brinde às minhas amigas de mais de 40 anos.
Defino saudade como aquele sentimento bom porque me lembro das risadas compartilhadas, da presença física, do abraço, do carinho, da rotina arroz com feijão, da minha cama e do banheiro com a bancada de arsenal de produtos que não deu para carregar. Saudades do meu cachorro idoso, do meu tempo de oração na varanda da minha casa. Saudades até do meu quarto com a luz indireta do abajur no momento da leitura antes de dormir.
Talvez eu esteja mesmo velha. Creio que jovem não sente essa saudade grande quando sai de casa. Eles vão e vêm com a maior tranquilidade. Mas talvez seja apenas eu. Com essa mania de querer estar perto e achar que as coisas não funcionam quando estou longe. Sei lá.
O fato é que na volta foi só alegria, a casa florida, tudo limpo, enfeites mudados de lugar, roupa de cama nova e cheirosa, geladeira cheia, flores e plantas aguadas. Minha filha cuidou de tudo. E o melhor, recebeu-me dizendo: “Mãe, quanta saudade! Que bom que você voltou”.
Viajar é bom, é preciso, é necessário. Mas voltar é a melhor parte. Devo estar velha mesmo.
Foto Pixabay
Revisão Jackson Liasch
Marcio diz
Querida amiga! Sua saudade é linda e romântica. Fez recordar momentos q tive com seu pai , eterno apaixonado! Com sua mãe lembro da intensidade e força , alegre locomotiva de amor familiar! Seus filhos de tantas ternuras e emoções em pura transformação . Parabéns pela vida inspiradora . Só para referenciar a linda foto de Azenhas e seus restaurantes , de onde podemos ver e sentir o pulsar das ondas , onde as brumas nos faz sonhar com doces memórias sublimadas pelo bem querer dos ausentes q amamos . Preciso terminar ! No almoço seria um ótimo branco nacional, a noite um lindo tinto com todas as pompas. A paz de Deus
Elisie diz
Ah que linda mensagem! Um grande e afetuoso abraço!!
Sandra Aguillera diz
Vc é maravilhosa…Seus textos perfeitos, Dom e talenta sob medidaaaaaaaaaaaaaaa
Amo suas escritas. bjus
Elisie diz
Sandrinha do meu coração! Obrigada querida!