Parte 2
Por Claudia Costa
Sobre as dificuldades que enfrentou enquanto reitor da Universidade, Ascêncio Garcia Lopes lembra quando Leon Peres, governador do Paraná de março a dezembro de 1971, o chamou para uma reunião em Curitiba e disse que gostaria que o doutor Ascêncio renunciasse para poder nomear alguém para ocupar o cargo de reitor. “Eu disse ao governador: Tenho um mandato de quatro anos e ainda faltam dois. Não vou renunciar, mas o senhor tome a atitude que quiser. Levantei-me e fui embora”, explica.
Chegando a Londrina, doutor Ascêncio resolveu ir a Brasília falar com o principal ministro do presidente Emilio Garrastazu Médici. “Fui recebido em audiência, expliquei o que estava acontecendo e o que o governador Leon Peres me disse. O ministro bateu no meu ombro e disse: ‘Volte para Londrina tranquilo, não se preocupe’. Depois de dois dias, saiu um decreto mandando embora o Leon Peres.”
Sobre sua gestão como reitor, ele salienta: “A evolução da Universidade de Londrina teve pontos positivos enormes. Primeiro, o exemplo da medicina praticada, a autonomia e o contato com os diretórios dos estudantes, tudo perfeito, sem nenhum atrito”. Porém, ele relembra que dois meses antes de sair da reitoria recebeu um comunicado do governo federal, através do Ministério da Educação, dizendo para criar um serviço de inteligência na UEL para informar tudo o que se passava na instituição. “Peguei a carta e engavetei. Quando veio o outro reitor, passei a carta para ele. Na minha gestão nunca teve nenhum problema político. O reitor que me sucedeu, parente do governador Ney Braga, teve a capacidade de mandar embora quase todos os médicos que estavam fazendo a melhor medicina do Paraná. Esse reitor contratou um coronel do exército e o colocou como gerente do Hospital Universitário. Ele começou a perseguir os médicos que operavam até as 3 horas da madrugada, querendo que estivessem na sala de aula às 8 horas. Ficaram alguns médicos os outros foram embora. Um dos que foram embora de Londrina foi Flair José Carrilho, hoje professor de clínica médica da USP que recebeu recentemente um título em Barcelona. Carrilho é a maior autoridade em fígado no Brasil”, conta.
O ex-reitor da UEL é contra a politização na gestão da Universidade. “O PT invadiu a Universidade e acabou com ela”, salienta. Ascêncio Garcia Lopes, que também não é favorável ao sistema de cotas nas universidades. Segundo ele, este modelo corta pela raiz a questão da capacidade de disputa entre as pessoas. “O poder público tem que dar condição para a pessoa estudar, dar bolsas de estudo. Tem que dar o anzol e ensinar a pescar”, diz. Ele lembra que, enquanto reitor, foi aos Estados Unidos, com recursos do próprio bolso, para conhecer de perto o sistema de créditos que acabou implantando na UEL. Ele critica a gestão da Universidade que acabou com o programa. “Isto é um desastre.” Outro fato que na sua visão prejudicou a Universidade foi a transformação pelo governo do Paraná, na gestão de Roberto Requião, que mudou o modelo de fundação para autarquia, transformando todos os servidores em funcionários públicos e tirando a autonomia da Universidade.
Próximo de completar 90 anos, o ex-reitor acompanha de perto as agruras e as dificuldades que a educação no Brasil tem passado, em especial na Universidade Estadual de Londrina. Para ele, “a cultura brasileira degringolou (povo e governo)”, diz, salientando que, apesar de o presidente Michel Temer ter sido eleito de forma indireta, ainda é a melhor opção que ele cumpra o mandato até o final e a partir daí que seja investigado, caso seja instaurado algum inquérito. Sobre as investigações da Operação Lava Jato, Ascêncio Garcia Lopes aprova a condução do juiz Sérgio Moro. “Ele está fazendo uma coisa maravilhosa, usou o modelo italiano (referência à Operação Mãos Limpas), não é uma investigação política, mas técnica.”
Para o primeiro reitor da UEL, o curso de medicina tem que dar as respostas e a solução para os grandes e complexos casos de doenças que não estão podendo ser solucionados na cidade. Para ele, é importante para a cidade e para a medicina que Londrina sedie grandes congressos médicos. “Necessitamos de um grande centro de eventos, com hotel, e que comporte mais de mil participantes. Não temos uma liderança no momento para encabeçar um projeto desta envergadura”, salienta.
Ficha técnica
Agradecimentos:
Jackson Liasch (revisão)
Alecksey William (arte)
Fotos SAUEL (Sistema de Arquivos da UEL) e arquivo pessoal. Ascêncio Garcia Lopes
Vídeo: Lucas Costa Milanez
A senhora Cristina Gaspar, funcionária da SAUEL , por sua atenção e dedicação no levantamento dessas fotos históricas.
Manoel diz
Um grande homem,exemplo de londrinense.
Parabéns pela matéria.
valeria diatchuk diz
Foi um homem de grandes lutas em prol do desenvolvimento da cidade de Londrina. Parabéns pela matéria e lembrança em homenagem a este lutador.
Darcy diz
Excelente matéria com a simbiose jornalista e entrevistado. Homens da têmpera do Dr.Ascencio fizeram nossa Londrina gigante. Pena que hoje em dia estejam em falta..
Mais uma vez Parabéns Cláudia.
Darcy diz
Excelente matéria – o que é rotineiro – em se tratando da Cláudia Costa. Homens da têmpera do Dr.Ascensio construiram a Londrina que tanto nos orgulha. Parabéns!!!
Claudia Costa diz
Obrigado Darcy, por seu apoio. abraços