Por Claudia Costa
Hoje (20/04) é comemorado o Dia Internacional do cão-guia. A primeira vez que vi um cão-guia trabalhando – isso mesmo, é um trabalho que o animal presta para um deficiente – foi em 1983, em Orlando (EUA), nos parques da Disneylândia. Na época, me chamou a atenção o cão-guia acompanhando uma pessoa deficiente visual e um outro animal com uma mulher cadeirante (na época achavamos que era um cão-guia, mas o nome correto é cão de assistência) que estavam passeando e se divertindo no parque.
Já faz algum tempo que estou tentando produzir esta reportagem, mas a dificuldade de encontrar pessoas no Brasil que tenham cão-guia foi grande. O que constatei estudando e conhecendo o trabalho realizado é a minha quase total ignorância sobre o assunto. Acredito que essa falta de informação da população em geral é um dos fatores que dificultam popularizar esse assunto, que é uma questão social e de inclusão, fundamental para melhorar a qualidade de vida de pessoas com algum tipo de deficiência. Além disso, essa falta de informação e conhecimento dificulta o apoio da sociedade e empresas para viabilizar a produção e treinamento de cães-guia.
O cão-guia é doado para o deficiente
O Brasil possui menos de uma dezena de escolas capacitadas para o treinamento deste animal. Os cães-guia ainda são escassos no País e insuficientes para atender a grande demanda.
Segundo dados do IBGE (Censo 2010), mais de 6,5 milhões de pessoas disseram ter dificuldades severas para enxergar, sendo que 506 mil informaram serem cegas. Não existem estatísticas oficiais de cães-guia, mas estima-se que sejam menos de 200 no País.
O treinamento de um cão-guia leva em média dois anos e custa de R$ 55 mil a R$ 60 mil. Os animais são entregues gratuitamente aos deficientes visuais, por isso as escolas precisam de apoio para bancar os custos.
Normalmente, os cães selecionados para esse trabalho são das raças labrador e golden retriever, em função do temperamento e habilidade. Seu treinamento envolve aproximadamente dois anos e engloba a socialização em casa de família hospedeira (voluntária), depois mais um ano de treinamento técnico (na escola), até estarem prontos para o trabalho de guiar deficientes visuais. Uma vez prontos, existe um processo de seleção do candidato a receber um cão-guia (com entrevistas, definição de perfil, etc.). Um cão agitado não pode ser doado para uma pessoa calma, além disso a pessoa já deve ter um bom relacionamento/aceitação da sua deficiência visual. Os cães passam em média dez anos atuando como guias até se aposentarem
A Helen Keller – escola de cães-guia, foi fundada em julho de 2000 na cidade de Florianópolis (SC), pelo dr. Augusto Luiz Gonzaga e um grupo de amigos. No ano de 2008, sua sede foi transferida para Balneário Camboriú (SC). Sem referências no Brasil e utilizando seus contatos profissionais, ele buscou apoio no exterior, onde Ian Cox, membro da Federação Internacional de Cães-guia na Nova Zelândia, acreditou e facilitou a ida de brasileiros ao exterior, buscando formação necessária. Com esta iniciativa começaram a circular pelo Brasil cães-guia vindos da Nova Zelândia, Austrália e EUA. A escola possui um centro de treinamento e sobrevive de parcerias e do apoio de voluntários. A Helen Keller possui um criadouro próprio de cães-guia. Atualmente, existe uma lista de duas mil pessoas inscritas para receber um desses animais.
Lei regulamenta trabalho e acesso do cão-guia
O Senado Federal aprovou em abril de 2018 um projeto de lei (PLS 411/2015) ampliando a atuação do trabalho do cão-guia, que passou a poder atender pessoas com outras deficiências, que podem ser acompanhadas de cão de assistência em locais públicos e privados, abertos ao público ou de uso coletivo, a exemplo do que já é permitido a cegos com cão-guia. Este projeto de lei estendeu o direito já garantido pela lei 11.126/2005 para contemplar as demais categorias de cães de assistência, como cães-ouvintes, que alertam pessoas com deficiência auditiva sobre sinais sonoros; cães de alerta, cujos sentidos aguçados percebem quando alguém pode ter uma crise diabética, alérgica ou epilética; cães para autistas, que ajudam a confortar o usuário durante eventuais crises; e cães para cadeirantes, que abrem e fecham portas, pegam objetos pouco acessíveis ou caídos no chão e apertam botões de elevadores. O projeto é de autoria do senador Ciro Nogueira (PP-PI).
Instituto Magnus seleciona famílias para socializar futuros cães-guias
Com a meta de entregar 60 cães-guias por ano, o Instituto Magnus necessita encontrar cerca de 200 famílias de Sorocaba e região, interior do estado de São Paulo, que estejam dispostas a acolher um cão e socializá-lo. O papel dessas famílias socializadoras no primeiro ano de vida dos filhotes é essencial. Elas têm o compromisso de expor os cães a uma rotina diária que conta com tarefas como passear em espaços públicos, conviver com outros animais e pessoas, entre outras atividades. Todos os custos, desde alimentação, medicamentos, acompanhamento veterinário e adestramento são de responsabilidade do Instituto Magnus.
Após o período de aproximadamente um ano de socialização, os cães são devolvidos ao Instituto para receber o treinamento adequado para ser guia. O processo todo dura cerca de 18 meses até que o ele possa ser destinado a uma pessoa com deficiência visual, que participa da última etapa de treinamento do animal para se adaptar ao novo companheiro.
Quem tiver interesse em ser família voluntária para socialização, basta se inscrever no site www.institutomagnus.org onde também é possível conhecer mais sobre o programa. Mais informações podem ser obtidas também através do contato@institutomagnus.org ou pelos telefones (15) 3042-1110 ou 99755-7201.
Agradecimentos:
- Arte-capa : Vladmir Farias- (43) 98401-3175. email : pdfmatriz@gmail.com
- Revisão: Jackson Liasch – fone (43) 99944-4848 – e-mail: liasch@gmail.com
Fontes:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11126.htm
SERVIÇO:
- Helen Keller – escola de cães-guia
https://www.institutomagnus.org/
- Instituto IRIS
Mari Luce Stock diz
Muito boa a reportagem da Claudia Costa sobre cães guia.
Não tinha absolutamente conhecimento sobre o tema e gostei das informações recebidas. Que aumente no país esse trabalho, como ela tão bem colocou, de inclusão.
Parabéns!
Claudia Costa diz
Obrigado Marilu, por isso que é importante informar as pessoas sobre esse assunto. abraços
Cristiano Garcia diz
Gostei da matéria. Já gosto muito de animais, e realmente é incrível saber desses detalhes do adestramento e do tempo de trabalho dessas criaturas de Deus. E gostei do nome. Cães de assistência.
Claudia Costa diz
Bom dia, obrigado por seu feedback Cristiano. Abraços!!!