Por Claudia Costa
Cego de nascimento, mas com uma vida produtiva
Daniel Picoloto Bernardini, 37 anos, casado, é natural de Bento Gonçalves (RS), mas há alguns anos mora em Balneário Camboriú (SC), onde é secretário-executivo há cinco meses na Helen Keller- escola de cães guias. Ele nasceu prematuro aos seis meses e teve uma série de problemas que culminaram com a cegueira. Daniel conta que foi uma criança normal, interagindo e brincando nas mesmas condições de uma criança que enxerga. Segundo ele, o apoio da família, em especial da sua mãe e do avô militar, foram fundamentais, pois eles nunca mediram esforços para o seu aprendizado. Daniel foi alfabetizado no método braile e sempre frequentou a escola regular. Hoje é graduado em processos gerenciais, massoterapia e está cursando pós-graduação em homeopatia contemporânea.
Aos 9 anos, Daniel começou a usar bengala. “Graças a isso, sempre tive muito boa mobilidade com a bengala, o que me trouxe independência muito cedo. Aos 13 anos, aprendi bastante e ganhei segurança com meu professor e amigo Álvaro da Silva, também cego, que me ensinou muito não só em relação à orientação e mobilidade, mas que foi também uma referência em relação à minha formação”, salienta ele, dizendo que começou a trabalhar como músico aos 15 e aos 18 já era professor de informática para pessoas com deficiência visual.
Daniel sempre quis ter um cão-guia e foi aí que conheceu a escola Helen Keller, onde trabalha há cinco meses como secretário-executivo. Ele esperou aproximadamente dois anos até receber seu primeiro cão-guia, no início de 2013, um mestiço de labrador com golden retriever chamado Rama. Segundo ele, foi muito fácil confiar no cão-guia e se adaptar. “Devido ao excelente trabalho realizado pelo instrutor de mobilidade com cães-guia Fabiano Pereira, que em aulas teóricas e práticas explicou e ensinou detalhadamente como seria o trabalho com o animal”, diz, salientando que foi muito rápida a transição da bengala para o cão-guia. “Não houve dúvidas ou insegurança. Isto se deve a tudo o que o cão-guia proporciona. É fantástico ver a dedicação, o empenho e a relação de carinho que se estabelece, pois só assim o trabalho pode ocorrer de fato.”
O preconceito dificulta o acesso do animal aos locais
O acesso do cão-guia é protegido pela lei 11.126/2005, que estabelece em seu quarto artigo como deve ser comprovada a identificação do cão-guia, além do valor da multa e o tempo de interdição impostos à empresa de transporte ou ao estabelecimento público ou privado responsável pela discriminação. Entretanto, ainda existem ocorrências de preconceito que dificultam o trabalho do animal. “Ainda ocorrem situações em que somos barrados ao ingressar em ambientes como restaurantes e veículos de transporte como táxi e Uber. O cão-guia também atua como um facilitador nas relações interpessoais pois, devido ao interesse pelo cão, as pessoas se aproximam e começam a conversar e só depois acabam percebendo que sou cego. Isso nunca ocorria quando eu usava a bengala”, explica Daniel.
O cão-guia não é animal de estimação
Atualmente, Daniel trabalha com Arya, 5 anos, da raça labrador. “Ela é incrível em seu trabalho, muito precisa e decidida. Nossa relação é de muito carinho. Mesmo quando não está trabalhando em casa, está sempre junto comigo. Este amor que existe faz com que Arya entenda que ela precisa preocupar-se comigo. Na rua, por exemplo, ela desvia de obstáculos e evita as situações de risco para mim.”
Na fase inicial, quando o cão-guia está em processo de treinamento e sua relação está sendo construída com o usuário, outras pessoas não podem interagir com o animal. Segundo Daniel, a família pode interagir com o cão, mas não em demasia, eles são cães de trabalho. “Como exemplo, devemos dizer que o cão-guia deve ser tratado como o fazendeiro trata seu cão de pastoreio, isto é, com todo o carinho e dedicação, mas sabendo que não é um cão de companhia, que tem sua disciplina, que come quando recebe o comando para comer, não sobe em camas e sofás, e separa muito bem o momento de trabalho e o momento de brincar.
Na rua, é muito importante que as pessoas não tirem a concentração do cão-guia em seu trabalho, por isso é importante não tocar no animal e não tentar chamá-lo. “Estas situações podem colocar em risco o cão e seu usuário”, salienta Daniel, dizendo que sua esposa interage com a cachorra quando Arya não está trabalhando.
A rotina profissional do secretário-executivo da escola Helen Keller é bastante agitada. “Saio de casa por volta de 7h30m, tomo ônibus até próximo ao local de trabalho e caminho por volta de 15 minutos em um ritmo bastante rápido até chegar. Normalmente participo de várias reuniões externas, representando a instituição e retornamos para casa por volta de 18 horas. Enquanto estou na escola, Arya fica livre, tomando sol e se divertindo no espaço que temos”, explica ele.
Daniel salienta que se sente totalmente seguro com o trabalho do seu cão-guia. “Mesmo sabendo de todos os problemas de acessibilidade que temos em nossas ruas, a Arya me proporciona tranquilidade. Posso caminhar sem ter que pensar no trajeto, ou em possíveis obstáculos, ela realmente é os meus olhos e eu acabo nem percebendo os obstáculos que existem, pois ela tem esta preocupação e faz isto magistralmente”, diz reconhecendo o trabalho da sua fiel companheira.
Daniel afirma que sua vida melhorou com a chegada do seu cão-guia. “Acima de tudo, ganhei qualidade de vida, posso ir e vir com segurança e tranquilidade, ir a qualquer local que quiser sem depender de outras pessoas, pois com a bengala existem situações que são mais complicadas. Algo incrível, por exemplo, em relação ao lazer, é poder caminhar na praia, seja pela calçada ou faixa de areia, algo que é praticamente impensável com bengala”, afirma.
Agradecimentos:
- Arte-capa : Vladmir Farias- (43) 98401-3175. email : pdfmatriz@gmail.com
- Revisão: Jackson Liasch – fone (43) 99944-4848 – e-mail: liasch@gmail.com
Fontes:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11126.htm
SERVIÇO:
- Helen Keller – escola de cães-guia
- – https://caoguia.org.br/
https://www.institutomagnus.org/
Ruth Bigarelli diz
Parabéns pela reportagem. Abraço fraternal
Claudia Costa diz
Obrigado Ruth por seu apoio.Abraços!
Argentino diz
Parabéns em fim alguém com experiência, visão e coração humano, assumiu a atitude de mostrar a forma de ajudar aos necessitados, ajude também, compartilhem o máximo que puderem, Deus os recompensarás, parabéns a todos,.
Claudia Costa diz
Obrigado, estamos fazendo isso. Você também pode nos ajudar enviando o link para os seus contatos. obrigado, abraços!!!
Wagner Donadio de Souza diz
Muito bom, excelente trabalho!!! É bom sabermos sobre todos esses assuntos que vcs abordam no portal!!!