Profissionais de diversas áreas – enfermeira coordenadora de serviço de urgência e emergência, professora em unidade de atendimento a menores infratores, eletricista, motorista de ambulância e técnica de enfermagem em UTI neonatal – contam sobre sua atuação e o que fazem para diminuir o estresse no dia a dia
Claudia Costa e Elisiê Peixoto
A vida moderna aumentou muito o nível de cobrança das pessoas. Muitos compromissos, pouco tempo para dar conta de tantas responsabilidades e para descansar, ansiedade, falta de paciência… Enfim, vivemos numa roda-viva e, se não soubermos administrá-la, podemos ficar doentes.
O cortisol é um hormônio que o corpo humano produz e que causa o estresse. Na dosagem certa, a liberação do cortisol é importante para a manutenção da nossa sobrevivência. Ele é considerado o hormônio do estresse crônico porque fica no organismo, diferente da adrenalina, que causa as reações e vai embora. O cortisol inflama o organismo, que vai responder em vários órgãos: cérebro, intestino, células adiposas. Já os hormônios do prazer são a endorfina, serotonina e dopamina. Liberamos eles quando praticamos alguma atividade física, pois melhoram o humor e trazem a sensação de bem-estar.
A torcedora número 1 do Londrina
A enfermeira Izonete de Cassia Meneguzzo, 55 anos, divorciada, mãe de dois jovens, trabalha há 19 anos no serviço de urgência e emergência da Unimed Londrina, sendo 5 anos colaboradora e 14 anos na empresa terceirizada Medilar, prestando este serviço para os clientes da cooperativa médica. Recentemente, ela voltou a ser funcionária da Unimed.
Desde o ano 2000 ela é a enfermeira coordenadora desse serviço. São 19 anos com um mesmo telefone celular, responsável pelo serviço dia e noite. “Já fiz parte da equipe operacional, saindo nas ambulâncias e fazendo o atendimento in loco. Hoje, faço atendimentos direto com o paciente esporadicamente, mas vivencio diariamente a coordenação do serviço. Essa função é bem estressante, pois não é somente um paciente, são todos os clientes. São inúmeras situações dia e noite. Muitas vezes, são pacientes graves que estão em uma cidade que não tem complexidade para serem atendidos em seu estado clínico global e precisam de tratamento imediato num hospital em cidade com maior complexidade. Sendo cliente Unimed, ele tem o direito de ser transportado para receber esse atendimento. Não podemos realizar esse transporte em uma ambulância simples, mas sim em uma unidade com equipe composta por enfermeiro, condutor de veículo de emergência e médico emergencialista.”
Izonete conta que diminui o estresse vivido com sua própria equipe e indo atender a equipe do Londrina Esporte Clube. “Conversar com eles nos faz bem, somos uma família. As situações estressantes são colocadas para fora nas conversas e nas trocas de experiências. Eu também me desestresso ficando com meu filho, minha mãe, minha neta de 3 anos, além é claro do meu prazer que é acompanhar os meus meninos do Tubarão (jogadores da equipe do Londrina Esporte Clube). Ir aos jogos, enfeitar o vestiário, colocar mensagens de motivação e receber o abraço de cada jogador antes de eles irem ao vestiário e após cada jogo é sempre muito bom.” Izonete é fã número 1 da equipe do Londrina. Ela acompanha o time de futebol desde 2000 como enfermeira da ambulância e responsável técnica pelo evento. A relação com os jogadores é muito próxima. É como se fosse uma tia deles, pois ela sempre chega três horas antes do jogo, enfeita o vestiário, coloca docinhos e mensagens positivas. “É uma coisa que conquistei ano a ano. Então esse amor mútuo é um dos motivos que me deixam feliz e realizada”, afirma a enfermeira.
Não leva problemas para casa
A professora Giane Aparecida Cadorin, 53 anos, casada, mãe de três filhos, trabalha há 33 anos na rede pública estadual e há 14 anos atua como professora em uma unidade de internação para menores infratores.
“A rotina do professor por si só já é bastante estressante e pela especificidade do meu local de trabalho isso toma uma proporção ainda maior. Atendo adolescentes que cumprem medida socioeducativa com privação de liberdade. Eles chegam até nós com muita dificuldade de aprendizagem e sem vínculo algum com o processo educativo. Muitos se encontram em estado de abstinência por uso de drogas, outros abandonados pela família devido às circunstâncias, o que gera uma situação ainda mais difícil para a realização do trabalho”, salienta Giane.
Ela explica que é um desafio conseguir retomar o processo de aprendizagem nas condições em que se encontram esses jovens, pois requer muito esforço e dedicação. “Para que o trabalho aconteça e tudo fique mais leve, estabeleço inicialmente um vínculo para que eu possa realizar o trabalho de maneira humanizada. Não foco no motivo que o levou a estar ali e sim como o meu trabalho pode contribuir para que ele saia dessa situação e retome a sua vida. Isso sem dúvida deixa tudo mais leve, menos estressante”, ressalta a professora.
Para manter uma vida saudável, Giane salienta que não leva os problemas do trabalho para casa. “Faço caminhadas diárias ao ar livre, gosto de sair para me divertir com os amigos e nos finais de semana não abro mão de estar com minha família. Isso para mim faz toda a diferença! Sou feliz com meu trabalho, pois sei que a educação faz a diferença na vida do ser humano.”
Segurança e qualidade
Marcelo Rodrigues, 38 anos, engenheiro eletricista, trabalha durante oito horas diárias na Universidade Estadual de Londrina. Explica que a profissão exige conhecimento técnico e dedicação. Como trabalha no campus da universidade, grandes decisões dependem dele em situações de risco, como a queda de uma árvore, enfrentando chuvas e raios para restabelecer a energia, precisando analisar com cautela o que foi danificado. “Por eu ser o engenheiro responsável dessa área, cabe a mim decidir o que fazer. Há situações em que consulto a chefia, ouço as opiniões, mas na rotina a decisão cabe a mim. Certa vez um poste derrubou a energia do campus com a UEL em plena atividade. Eu e o eletricista tentamos arrumar, mas não foi possível. Naquela época liguei para o prefeito e avisei que iríamos ficar sem energia. Ele estava em reunião, mas comuniquei. Afinal, havia aparelhos, experimentos que precisavam ser desligados. Mas no final deu tudo certo. A eletricidade e o profissional dessa área são importantes, um não funciona sem o outro. As pessoas usam a eletricidade 24 horas e não analisam a importância que tem”, comenta Marcelo, que escolheu a profissão ainda quando era criança. Relembra que não conhecia nada sobre as questões físicas do funcionamento, mas tinha curiosidade. E, hoje, poder aplicar o seu conhecimento e compreender tudo aquilo que antes era misterioso dá ao engenheiro uma grande sensação de realização.
Todo cuidado é pouco
A maior situação de risco de um engenheiro elétrico, sem dúvida, é o choque, que é seriíssimo. Ele explica: “Essencialmente com atividades em campo, quando temos queda de energia, de uma árvore, e muitas vezes à noite, nos finais de semana, durante recesso, feriados. Não importa, temos que sair a campo, investigar, lidar com animais peçonhentos, ter muito cuidado com a remoção de galhos de árvores que estão sobre a rede elétrica, trabalhar em postes comprometidos, tomar cuidados com a reposição, com a falta de iluminação”.
Marcelo conclui relatando um episódio que poderia ter sido fatal. “Durante um serviço foi preciso interromper uma via parcialmente. O segurança do campus estava nos auxiliando quando um carro veio em alta velocidade, não respeitou as pessoas que estavam lá, não respeitou as normas de segurança. Estávamos na meia faixa, tudo sinalizado com cones, solicitando que passasse um carro por vez. Ainda assim, o cidadão passou ignorando a tudo e a todos. E, alertado, colocou a mão para fora e fez um ‘gesto’ desrespeitoso. São situações que acontecem e colocam a vida do profissional em risco.” Por isso e por outros motivos, o engenheiro dá um conselho a todo jovem que opta em seguir esta profissão: “Tem que gostar desse trabalho, estudar, compartilhar conhecimento técnico, respeitar as pessoas que trabalham com você e não pensar em ganhar dinheiro, porque dificilmente o profissional ficará rico”.
Anjos escolhidos
A técnica de enfermagem Regilene Rosa Miyakawa, 45 anos, trabalha no Hospital Evangélico de Londrina. Ela tem uma experiência pessoal emocionante que a conduziu para a função que hoje exerce na UTI neonatal. Há 21 anos residia no Japão e lá, com uma gestação incompleta, com seis meses, deu à luz um menino pesando apenas 500 gramas. Durante quatro meses ela visitava o filho diariamente na UTI e observava o cuidado durante 24 horas prestado pelas enfermeiras. “Eu me comovia em saber que aquelas profissionais deixavam seus familiares e cuidavam tão bem do meu filho, um estrangeiro, que ninguém conhecia. Ele teve alta e hoje é um lindo jovem e com saúde. Quando retornei para o Brasil, em 2005, tive a ‘sede’ de fazer algo pelo próximo. Fiz o curso de técnica de enfermagem e Deus preparou o HEL, era o meu sonho trabalhar lá. Permaneci cinco anos na pediatria e fui promovida para a UTI, onde cuido de bebês prematuros. Eu me identifiquei com a dor das mães que deixam os bebês na incubadora porque vivi exatamente isso. Então faço o melhor que posso. Creio que somos anjos escolhidos por Deus para cuidar desses bebezinhos”, diz ela.
Bebês com risco
Regilene trabalha 12 horas, das 7 às 19 horas, descansa 36 horas. Ressalta que dá atendimento de qualidade e humanização, afinal cuida de prematuro extremo, com 500 gramas até 1 quilo e pouco. “Os bebês requerem muito cuidado, desde o toque de mão até o tom de voz porque são sensíveis. Atendemos bebês com risco, são mantidos com vida por meio de drogas calculadas e recalculadas e aparelhos que mantêm a pressão, o batimento cardíaco, oxigenação no sangue. Tudo avaliado pelo médico que prescreve. Nós, técnicas, fazemos o cálculo que o médico necessita e vamos administrando pelas bombas de infusão, cuidamos 24 horas. Algumas vezes as drogas não dão o resultado esperado, infelizmente. É quando acontece uma parada respiratória e somos as primeiras que avaliamos e entramos em contato emergencial com o médico que fica na UTI conosco o tempo todo. Ele é chamado e imediatamente puxamos o carrinho de emergência e administramos a adrenalina conforme o que o pediatra passa para a reanimação. Um momento de estresse absoluto que vivenciamos. Mas eu gosto de salientar que temos mais alegrias do que tristezas. Da mesma forma que pode acontecer de ‘perdermos’ um paciente, logo em seguida quadrigêmeos podem estar nascendo e precisando da nossa atenção”, revela a enfermeira.
Em vários momentos, a profissional precisou tomar uma decisão difícil para salvar uma vida. “A primeira coisa que fazemos é ter um contato tátil, estímulo tátil com o bebê, mexemos e já ventilamos a criança, e o médico toma a conduta. Quando o monitor acusa e toca o alarme, prontamente estamos ali ao lado da incubadora e temos que agir com destreza e rapidez. Trata-se de uma vida! Sou realizada na minha função. Há dez anos faço parte da Associação Beneficente Evangélica de Londrina e poder realizar esse trabalho me completa. Quero continuar ali, cuidando desses bebês da mesma forma que um dia cuidaram do meu filho”, completa.
Salvando vidas
Geraldo Aparecido Correia, 51 anos, foi durante muitos anos motorista de ambulância. E por essa razão tem vasta experiência no dia a dia em situações de total estresse. Ele conta sobre os 15 anos em que atuou na profissão: “Só no SAMU foram dez anos, com uma rotina que começava às 19 horas e se estendia até as 7 da manhã. Fomos os primeiros a começar o serviço de atendimento móvel de urgência em Londrina. Foi necessário fazer um curso no quartel de bombeiros durante 15 dias para aprender técnicas de atendimento em uma situação de trauma ou clínica. E tudo o que aprendi exerci com dedicação e amor, muitas vezes arriscando a minha vida e de outros que trabalhavam comigo para salvar a vida do próximo. Atuamos muito em bairros e periferias pobres da cidade, onde realmente as pessoas necessitam do serviço”, diz Geraldo.
Agilidade e responsabilidade
Ele relata que a sua maior experiência foi buscar uma gestante em trabalho de parto no Jardim União da Vitória, em Londrina. “Ela já era mãe de três filhos. E, quando a colocamos dentro da ambulância, a bolsa rompeu e tivemos que fazer o parto ali mesmo. Outra situação foi ao atender uma moça com 31 anos, na estrada do Limoeiro (PR). Ela e o marido estavam de moto quando um trator atravessou a pista repentinamente. O marido se desequilibrou, a esposa caiu e a grade do trator arrancou a perna dela. Quando cheguei lá, e estávamos muito longe, a levamos ao hospital. Os médicos tentaram implantar a perna, porém os ferimentos foram graves e não foi possível. Mas fiz a minha parte. Ao longo dos anos em que trabalhei no SAMU, ajudei a salvar vidas, sou grato por isso.”
Uma equipe comprometida
Ele revela que, para ser um motorista de ambulância do SAMU, o profissional precisa ser tranquilo, ter domínio próprio, calma, ser experiente no volante, muito ágil e acima de tudo gostar do que faz. “A humildade e o respeito de uma equipe resultam em um ótimo plantão. Claro que temos estresse por causa do trânsito, tem que ser bom na direção e, dependendo da situação que tem que enfrentar, ter muita responsabilidade e sabedoria. Hoje trabalho na UPA do Jardim Sabará e não dirijo mais ambulância. Mas ressalto que os anos em que trabalhei serviram de larga experiência”, conclui.
Agradecimento:
Fotos: Arquivo pessoal
Revisão: Jackson Liasch (fone (43) 99944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com
Sandra diz
Excelente artigo!
Parabens Jorbalistas Elisiê peixoto e Claudia Costa!