Parte 1
Por Claudia Costa
Falar sobre o pioneirismo e a história de vida do médico Ascencio Garcia Lopes, grande articulador e fundador da Faculdade de Medicina, e o principal responsável pela fundação da Universidade Estadual de Londrina (UEL), instituição na qual foi o primeiro reitor, é um desafio e também uma grande responsabilidade. Sua história de vida se confunde com o desenvolvimento da medicina e da educação em Londrina e no Paraná. Ele foi presidente da Associação Médica de Londrina (1966), fundou a Faculdade de Medicina (1967), foi o primeiro reitor da UEL (gestão 1970/1974) e Secretário da Ciência e Tecnologia do Ensino Superior do Paraná, em 1984, no governo Álvaro Dias. Também foi um dos principais articuladores para a instalação da PUC em Londrina.
Uma referência como profissional, cidadão e homem público, por sua conduta ética e pelo seu empreendedorismo, Ascencio Garcia Lopes esbanja saúde e vitalidade aos 89 anos e sete meses de vida, como gosta de frisar. O médico mantém uma rotina de vida muito produtiva, pratica musculação e hidroginástica três vezes por semana e administra suas propriedades rurais, onde é criador de gado da raça Angus. Ele vai duas vezes por semana para uma de suas fazendas, próxima da cidade de Londrina.
Sua história de vida está intimamente ligada à área médica e à educação. A medicina entrou na sua vida por decisão da mãe espanhola, dona Maria Dolores Lopes Lopes. O padre da escola onde estudava, em Jacarezinho, convidou o jovem Ascencio, de apenas 13 anos, para seguir a carreira eclesiástica. Mas, dona Maria Dolores Garcia Lopes decidiu que o filho iria fazer medicina. E, assim, Ascencio Garcia Lopes foi para a capital paulista com apenas 14 anos, concluiu seus estudos e cursou Medicina na Universidade de São Paulo (USP), na época a mais conceituada do País.
Natural de Pedregulho, cidade do interior de São Paulo, é neto de uma família de imigrantes espanhóis (Pedro Lopez Molina e Maria Rodrigues Lopes), que vieram para o Brasil para “fazer a América”. “Mas ficaram aqui ‘fazendo o Brasil’ para si e para as futuras gerações”, faz questão de ressaltar Ascêncio Garcia Lopes, com orgulho dos familiares que vieram trabalhar nas fazendas de café.
Ascêncio fala sempre com muito orgulho da história de seus ascendentes espanhóis e com afeto e muito carinho sobre seus nove netos e quatros filhos (Luis Henrique, Ascêncio Júnior, Antônio Carlos e Isabella), frutos do seu casamento com Wania Ruth Prata Tibery. O médico viveu uma tragédia familiar em 2011 com a morte da única filha, a empresária Isabella Tiberry Garcia Lopes, aos 49 anos. Ela foi vítima de um assalto praticado por dois jovens em um semáforo no centro de Londrina. Pela perda prematura da filha, o ex-reitor costuma dizer, resignado: “Eu só entendo por Deus, só Ele sabe das coisas, de tudo”.
Casado há 10 anos com a empresária Sueli Oliveira Garcia Lopes, a quem chama carinhosamente de Chica, o casal gosta de aproveitar a vida e passear. Já visitaram 45 países e estão sempre fazendo novos planos. É bonito de ver o respeito, o companheirismo e o carinho entre os dois.
Um homem de visão e articulador
Ascencio Garcia Lopes era um renomado cirurgião gástrico em Londrina quando, já presidente da Associação Médica de Londrina (1966), decidiu junto com algumas entidades que a cidade necessitava de uma faculdade de Medicina, pois os jovens londrinenses tinham que ir para grandes centros estudar. Recebeu apoio de diversas entidades da sociedade organizada, como AML, Rotary, Lions, dentre outras.
Ele conta que estava hospedado no hotel Bourbon um senhor cujo filho era médico no Rio de Janeiro. “Eu morava em uma casa atrás da Catedral e este senhor leu no jornal que queríamos fundar a faculdade. Ele foi bater na porta da minha casa dizendo que era pai do doutor José Roberto Ferreira, médico da Faculdade Gama Filho, e tinha certeza absoluta de que, se o convidássemos, ele viria a Londrina para trocar ideias e orientar sobre como implantar a faculdade”, relembra doutor Ascencio.
E assim foi feito. Com o apoio e a experiência do médico José Roberto Ferreira, decidiram que o modelo da faculdade seria de uma fundação, com autonomia, mas com o patrocínio do governo. Desta maneira, surgiu a Faculdade de Medicina (Fesulon), com um conselho composto por seis representantes: dois do governo estadual, dois da prefeitura e dois da Associação Médica. O conselho é que mandava na faculdade, é como se fosse um governo autônomo.
“Fomos ao governador do Estado, Ney Braga, apresentamos o projeto e em um mês a lei estava pronta e aprovada pela Assembleia Legislativa do Paraná”, diz ele, explicando que a Faculdade começou a funcionar com verba do Estado, mas com autonomia e decisões definidas pelo seu próprio conselho.
“Foi uma revolução. Convidei os melhores profissionais de São Paulo para serem professores. Todos prestaram concurso, mas não eram funcionários públicos. Eles eram contratados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Faculdade de Medicina chacoalhou Londrina. Ela estava entre as sete melhores do Brasil”, ressalta Ascêncio Garcia Lopes. Ele foi eleito diretor da instituição, mas continuava atuando como médico e cirurgião em seu consultório durante meio período. Mãos à obra e muita articulação fizeram o sonho da faculdade ser implantado e logo surgiu a ideia de agregar mais cursos.
A criação da Universidade acabou acontecendo durante o governo de Paulo Pimentel, pelo Decreto nº 18.110, de 28 de janeiro de 1970 , quando foram criadas três instituições: a de Londrina (FUEL), a de Maringá (UEM) e a de Ponta Grossa (UEPG). As três seguiram o modelo de fundação, com autonomia administrativa, mas com apoio financeiro do governo estadual. Os alunos pagavam uma mensalidade que girava em torno de 20% do valor do curso.. “Isto era ótimo, pois o aluno sabia que estava pagando e exigia. E com este valor a Universidade tinha autonomia para bancar alguns custos do dia a dia”, salienta o ex-reitor, explicando que na época foram implantados 14 cursos superiores em Londrina.
Ficha técnica
Agradecimentos:
Jackson Liasch (revisão)
Alecksey William (arte)
Fotos SAUEL (Sistema de Arquivos da UEL) e arquivo pessoal. Ascêncio Garcia Lopes
Vídeo: Lucas Costa Milanez
A senhora Cristina Gaspar, funcionária da SAUEL , por sua atenção e dedicação no levantamento dessas fotos históricas.
Mafalda diz
Gostei muito. É a nossa história valeu amiga Claudia.
carlos diz
Dr. Ascênci Garcia Lopes. Conheci desde que veio para Londrina, meu pai executou obras em sua residencia, houve um momento triste por lá, Ele sabe o que perdeu. Lembro do médico com sensibilidade humana indiscutivel e que o tornou homem de mediar grandes projetos em londrina na área médica. Fez a primeira cirurgia que precisei: uma operação de Hérnia Umbilical se não me engano. Lembra Dr. do dia em que Vc sofreu mais que a tua Paciente de Assis e dos pais Dela que chegou com quadro de apêndice suporada e com grave infecção generalizada, Vc tentou de tudo para salvar a Fátima, mas a cada uma das 3 cirurgias, que meus familiares assistiram através daquele postigo , Dr., Vc saia e nós víamos sua expressão de dor. Vc está onde está por mérito de sua alma do bem e de seu trabalho exemplar. A menina se foi, mas tenho certeza que até hj marca sua vida como se fosse uma perda sua em particular. sou filho do teu amigo da época in memorian, o Sr Adelino Augusto de oliveira, o português que tanto fez nessa Londrina como Construtor e que seu nome nunca foi lembrado pelos orgãos públicos, Meu Pazi, Meu tio João e meu Primo Abílio, foram grandes mestres da construção por ai. Vc Dr., faz parte de momens médicos como Waldomiro Ayres, Otávio Genta, o Pediatra pai dos menos favorecidos Dr. Farid Libos, meu querido amigo que já se foi como os que te citei entre outros que houveram nos anos 57 a 1965, e os que após exercem essa difícil missão de salvar vidas.Londrina deve a Vcs. muito do que representa na área do conhecimento e formação em ciencias biomédicas diversas. que Deus te proteja e a sua família. vc entende S.”.S.”S.’., Seja feliz sob o manto protetor do Grande Pai dos Mundos que com Certeza está dentro de ti.
Leonardo diz
Grande figura o dr. Ascêncio; e excelente trabalho de preservação de aspectos importantes da história de Londrina essa entrevista.
José Ângelo Garcia diz
Conheci o Dr. ASCENCIO quando eu, um jovem gerente de apenas 23 anos do Banestado, fui visitado por ele para fazer um “financiamento “para a UEL, pois as verbas do Governo estavam atrasadas e, a folha de pagamento dos funcionários ,tinha que ser paga….
Homem formidavel
Ana Marta diz
O Dr. Ascêncio Garcia Lopes é um homem além do seu tempo!! Ah! Se existissem outros assim!!! Viu que a educação e a cultura são a mola mestra para o desenvolvimento de um país!!! Meus parabéns e minha grande admiração por este profissional que em qualquer área que fosse seria o top por sua inteligência e empreendedorismo. 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝🔝
Adriana diz
Dr Ascencio e Dr Lúcio ,Profissionais de alto nível , que temos o orgulho de ter em nossa cidade . Obrigada pela obstinação e amor pela medicina e pelo ser humano .
Janaina diz
Homem de valor , o mundo precisa deles, deveriam ser eternos !!!
Marcos Rogério diz
Ascencio Garcia Lopes. Um homem incrível. Fui funcionário dele. Meu primeiro registro profissional 01/06/95. Tenho muito a a agradecê-lo. Pois minha formação profissional é responsabilidade começaram ali. Obrigado Doutor Ascencio.
Didiza diz
Sou Didiza, fui educada sob a regência e o patrocínio do Dr. Ascencio e da dona Wânia e hoje sou residente em Manaus e funcionária pública aposentada pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, porque eles me ensinaram a *pescar*. Dizer obrigada a essa pessoa fantástica é pouco, mas é assim que demonstramos nossa gratidão. Queridos muito obrigada por tudo!
Claudia Taha diz
Amei reviver a história da fundação de nossa Universidade pela narrativa apaixonada e emocionante do meu querido aluno de inglês. Obrigada por compartilhar!
Claudia Costa diz
Claudia, muito obrigada por seu feedback. abraços!!!