Elas são executivas que comandam as empresas que são da família, mas para isso se prepararam muito. Não são dondocas que foram alçadas aos cargos de comando por serem herdeiras, mas porque provaram suas competências e conquistaram o direito de dirigir os negócios. Todas possuem excelente formação profissional, começaram a trabalhar ou estagiar desde muito jovens, e atuaram no mercado profissional antes de irem trabalhar nas empresas da família. Essas mulheres ( Andrea Seibel ,Alessandra Andrade Vieirae Renata Amano) aprenderam a conciliar a vida familiar, a criação dos filhos e a carreira de empresárias bem-sucedidas que administram grandes empreendimentos.
Por Claudia Costa
Andrea Seibel – Leo Madeiras
A paulistana Andrea Seibel, 43 anos, casada, mãe de gêmeos com 1 ano e um mês de idade, é a diretora presidente da Leo Madeiras, companhia de 76 anos que atua no ramo de materiais para a indústria de marcenaria.
Fundada em 1943, a Leo Madeiras evoluiu de uma simples loja para a maior distribuidora de insumos para marcenaria e indústria de móveis do Brasil, ofertando mais de 15 mil itens. Atualmente, a empresa possui 83 pontos de vendas no País e conta com 3.500 colaboradores.
A executiva Andrea Seibel é advogada, com MBA em Administração pela Fundação Dom Cabral e especialização em Administração de Empresas pela Harvard Business School, a mais conceituada universidade americana.
Antes de assumir o comando da empresa de sua família, ela trabalhou no mercado financeiro por cinco anos, atuando na área jurídica do Banco Unibanco.
Desde muito jovem, aos 13 anos, durante as férias escolares, Andrea fazia estágio na empresa de sua família. Há seis anos ela comanda a Leo Madeiras e tanta responsabilidade fez com que postergasse um pouco o desejo de ser mãe. Sonho que realizou há pouco mais de um ano.
Andrea acredita que a mulher tem um comportamento diferenciado na gestão da empresa. “Somos mais comunicativas, buscamos o consenso e o estilo de liderança é mais participativo. Cada líder é único e temos que honrar os pontos fortes de cada um, independentemente do gênero, valorizamos a complementariedade”, salienta a executiva, explicando que as mulheres ocupam 1/3 dos cargos de liderança na empresa.
Segundo Andrea, a gestão contemporânea das empresas valoriza a complementariedade e a diversidade. “Diferentemente do que aconteceu nos anos 80, quando as mulheres tinham até um estereótipo masculinizado, inclusive no se vestir (usavam blazer com ombreiras), hoje elas até expõem sua feminilidade, doçura e a delicadeza, sem medo de parecer frágeis como administradoras.”
Nas horas vagas, Andrea Seibel gosta de ficar com a família e cuidar das crianças, mas é uma pessoa que valoriza a espiritualidade. Quando sobra um tempo gosta de praticar yoga e meditação.
Alessandra Andrade Vieira – Grupo Folha
A paranaense Alessandra Andrade Vieira, 43 anos, divorciada, mãe de dois filhos, é diretora do grupo Folha de Comunicação, que reúne as empresas de comunicação jornal Folha de Londrina, Bonde, MultiTV e Grafipress. Aos 13 anos de idade ela começou a estagiar no Banco Bamerindus do Brasil, empresa fundada por seu avô Avelino Antônio Vieira.
Alessandra é filha do ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira (in memoriam), o homem do chapéu, como ficou conhecido pelos brasileiros, que além de empresário e pecuarista exerceu a função de ministro da Indústria, do Comércio e do Turismo (governo Itamar Franco) e ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária (governo FHC).
Ela é economista, formada pela Universidade Americana de Paris (França), país onde também trabalhou por um tempo. Também atuou na Bolívia, na cidade de Santa Cruz de La Sierra, em uma empresa de insumos agrícolas. A executiva é poliglota, lê e fala fluente quatro idiomas (inglês, espanhol, francês e italiano). Atualmente, cursa o terceiro ano de Psicologia na PUC-Londrina. Na juventude chegou a estudar um ano e meio de Administração de Empresas.
Em 2011 começou a trabalhar no grupo Folha na área de marketing e depois no RH. Atualmente, é diretora do grupo que possui 320 colaboradores diretos e quase 100 indiretos, sendo o jornal impresso Folha de Londrina seu principal produto, com circulação em 254 localidades dos 399 municípios do Paraná.
Segundo a executiva, os desafios de uma mulher na direção de uma empresa são principalmente dois: “Não se enxergar como o sexo frágil. Muitas vezes, a própria mulher se sabota. E tentar não perder de vista o racional. Ser acolhedora é importante, mas não pode ser predominante em uma gestão. Tem que ter o equilíbrio”, salienta ela.
Alessandra é apaixonada por seu trabalho. Muitas vezes, inicia sua jornada às 7 horas e vai até as 21 horas.
Ela diz que no exterior também presenciou situações preconceituosas em relação à mulher. O fato de ser herdeira também traz alguns preconceitos. “Faz parte da nossa cultura. Muitos herdeiros não se preparam para assumir os negócios da família”, salienta Alessandra, que trabalhou no grupo Folha de comunicação durante três anos sob o comando do pai José Eduardo de Andrade Vieira. “Um dos ensinamentos que aprendi com ele foi que temos que cumprir nossas metas, aconteça o que acontecer. Primeiro temos que fazer o que precisa, depois o que se gosta”, diz a executiva.
Renata Amano – Fiação de Seda Bratac
Uma mulher no comando da transformação de uma empresa. É a empresária Renata Amano, 45 anos, diretora do Conselho de Administração da Fiação de Seda Bratac, fundada em 1940 por seu avô, Kenji Amano, em Bastos, cidade do interior de São Paulo.
O seu pai, Antônio Takao Amano, 77 anos, é o atual presidente do Conselho de Administração da empresa. Ele trabalhou na Bratac por 55 anos. Renata é a mais velha das cinco filhas de dona Maria Tereza e seo Antônio Amano. Há cinco anos, ela trocou uma bela carreira como executiva em São Paulo para vir trabalhar na Bratac em Londrina.
Renata Amano é a única mulher a participar do Conselho de Administração da empresa, que desde a sua chegada faz as reuniões em português – anteriormente, as reuniões do Conselho eram realizadas no idioma japonês. Formada em Direito, ela possui várias especialidades na área: Direito Tributário, Empresarial, mestrado em Direito Comercial e MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria.
A empresária é casada com o engenheiro Ricardo Koesling Affonso, com quem tem três filhos (Manuela, 13 anos; Rafaela, 10 anos; e Miguel, 3 anos). Segundo a executiva, seu marido é seu grande incentivador e parceiro. “Ele é um pai muito presente e me ajuda muito”, diz ela, que conta ainda com um apoio importante na gestão da sua casa. “A Beth, profissional formada em auxiliar de enfermagem, trabalha conosco desde o nascimento do Miguel”, salienta ela.
A Fiação de Seda Bratac possui 1.300 funcionários e produz 580 toneladas de fios de seda por ano. E 98% da produção de fios de seda são exportados para França, Itália, Japão e Vietnã. A companhia possui 36 unidades pelo País, sendo que as fábricas de Londrina (PR) e Bastos (SP) são as únicas que possuem todos os processos de produção. São 2.500 famílias de sericicultores que prestam serviços para a empresa na produção do casulo do bicho-da-seda. Segundo Renata, o objetivo é expandir ainda mais esse número de fornecedores.
A executiva salienta que a cultura japonesa é conservadora, que o preconceito é algo natural, mas que vai se rompendo as barreiras no dia a dia. Ela acredita que a mulher tem um olhar diferente do mundo e é muito saudável esse equilíbrio entre o pensamento masculino e o feminino. “80% dos nossos colaboradores são mulheres, apoiadoras do processo de transformação da empresa, e grandes líderes que tomam decisões”, salienta orgulhosa do trabalho de sua equipe.
Renata explica que seus pais são sua grande referência e em especial sua mãe, que fez carreira como executiva na Federação do Comércio de São Paulo. “Cresci testemunhando que trabalhar fora, ter sucesso pessoal/profissional e cuidar dos filhos era algo muito natural para as mulheres que se dedicam àquilo que amam. Meus pais tiveram cinco filhas e minha mãe até hoje nunca diminuiu o ritmo de trabalho. E meu pai continua atuando na empresa com a mesma determinação há mais de 50 anos”, salienta Renata, que trabalha uma média de 10 horas diárias.
Em 2017, Renata Amano participou da constituição da Abraseda – Associação Brasileira da Seda. Trata-se de um projeto inovador no Brasil, que visa agregar toda a cadeia produtiva da seda em âmbito nacional com o objetivo precípuo de fomentar, de forma integral e sustentável, todas as etapas desde a produção de ovos do bicho-da-seda, criação de larvas de sirgo, produção de casulos, indústria de fiação, indústria de tecelagem e confecção, comercialização e moda, incluindo projetos de pesquisa e desenvolvimento em inovação e empreendedorismo para aplicação da seda em outros segmentos de mercado além do têxtil.
Ela é diretora geral da regional Londrina do Conselho Paranaense da Cidadania Empresarial (FIEP), uma organização que articula e orienta os interesses em investimento na área de sustentabilidade, apoiando a formação de empresários e cidadãos comprometidos.
Quando não está viajando a trabalho, Renata curte muito ficar com a família. “Em casa acordamos muito cedo, às 5h30, então às 6 horas já estamos todos tomando café juntos antes de ir trabalhar. Faço o possível para chegar em casa às 18h30m para aproveitar e brincar com as crianças”, salienta ela.
Agradecimentos:
Fotos: Arquivo pessoal dos entrevistados
Ilustração da capa: Pixabay
Revisão: Jackson Liasch (fone (43) 99944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com
Rozângela ortiz diz
Amei a matéria, Esta cada vez mais dificel um pai,empresário, fazer seu sucessor e ver essas jovens já assumindo lugar de destaque na empresa da família e muito gratificante. Parabéns .
Oziel diz
Parabéns a essas pessoas que não se acomodaram pela condição econômica e social e foram à luta!
Tenho admiração por pessoas assim, talvez eu teria me acomodado!!!
Creio que a educação da família tenha sido muito importante!
Parabéns pela matéria!
Claudia Costa diz
Dr. Oziel as histórias dessas mulheres são sim muito especial. Não se acomodaram e foram a luta. Obrigado por seu comentário. abraços Claudia Costa