A maioria das pessoas escolhe muito jovem a profissão em que vai atuar. Alguns aos 17 anos já estão nos bancos das Universidades e nesta fase da vida é difícil saber com segurança qual profissão seguir. Além de que o sistema de ensino brasileiro não favorece o contato com as diversas áreas do conhecimento que englobam as diversas profissões. Para muitos, a mudança de profissão vem num momento de amadurecimento, depois de já terem vivenciado muitas experiências em alguma área de atuação. E, mesmo tendo sucesso (financeiro e de reconhecimento) nas profissões em que atuam, decidem mudar e correr atrás de seus sonhos e de realização pessoal.
Por Claudia Costa
O economista que se encontrou como missionário
Pedro Leal Júnior, 49 anos, casado com a psicóloga Rute, pai de Raquel, 26 anos, e Camila, 22 anos, estudou Economia e fez especialização em Marketing e Desenvolvimento Geral. Durante 12 anos, exerceu funções em sua área de formação, atuando no departamento financeiro de grandes empresas como o Jornal Folha de Londrina, TV Bandeirantes/Prudente e na Wyny do Brasil – Indústria e Comércio de Couros. Em 1990, Pedro se converteu em evangélico e a partir daí começou a atuar como líder leigo e voluntário nas obras da igreja que frequentava. A vontade de se dedicar exclusivamente às atividades da igreja era grande, porém ele tinha família para sustentar e, por questões financeiras, Pedro foi protelando seu sonho. Em 2003, decidiu estudar Teologia em Londrina na Faculdade Teológica Sul-Americana. Sua decisão contou com o apoio de toda a família, em especial da esposa Rute. Durante o dia, Pedro continuava prestando serviços na área financeira para algumas empresas e, no período noturno, estudava Teologia. “Era o meu desejo atender o chamado de Deus”, explica o pastor Pedro, que há 12 anos exerce o seu ministério atuando junto às Missões em diversos Estados brasileiros e também no exterior. Segundo ele, a mudança de profissão era para atender uma realização pessoal. “Precisava arriscar e perseguir meu sonho. Corri riscos, mas não me arrependo nem um pouco. É Deus que nos sustenta”, explica Pedro. Ele inclusive escreveu um livro: “O Deus que sustenta”. Em março, o pastor Pedro lançará uma coletânea de reflexões de temas variados do dia a dia na perspectiva da Palavra de Deus.
A artista plástica contadora de história
Luciana Bracarense, conhecida por Lu Otto, 46 anos, casada, mãe de um filho, é uma conhecida ilustradora e artista plástica brasileira que mora em Los Angeles, nos Estados Unidos. Formada em Jornalismo e em Letras, possui doutorado em Língua Portuguesa/Retórica pela PUC SP. Durante 18 anos, trabalhou como professora universitária. Sempre gostou de escrever crônicas e ilustrar seus textos. Lu mudou-se para Londres, onde foi fazer um pós-doutorado na área. Durante esse período, ela foi fazer um curso na escola de arte e design Saint Martins e a partir daí iniciou seu trabalho como artista plástica. Assista ao depoimento dela.
A jornalista que foi para trás das câmeras
A transição do jornalismo para a fotografia foi lenta e gradual na vida de Carmen Kley, 61 anos. “Talvez por isso não tenha sentido os ‘efeitos colaterais’ da mudança”, explica Carmen, que trabalhava em jornal havia 29 anos quando decidiu que era hora de se dedicar exclusivamente à fotografia. Ela já tinha exercido diversas funções na área (repórter, editora, pauteira). Entretanto, o trabalho como fotógrafa não tinha uma relação direta com fotojornalismo. Durante cinco anos, a jornalista tentou conciliar as duas atividades. “Comecei a trabalhar como jornalista em 1974, aos 17 anos, na Folha de Londrina. Trabalhei também na Bloch Editores, no Rio de Janeiro, na assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura, em Curitiba, e na Veja Paraná. Mas encerrei a carreira em 2003, na Folha de Londrina, onde passei grande parte da minha juventude e vida adulta. E não me arrependo. Tenho muito mais lembranças boas do que ruins”, salienta Carmen.
A fotografia foi durante muito tempo um hobby para ela, que aos poucos foi se envolvendo até não resistir e abraçar a nova profissão. “Não forcei a barra, aconteceu e eu deixei acontecer. Comecei, profissionalmente, em 1998, fazendo retratos, depois vieram os eventos: festas, aniversários, batizados, casamentos. Durante cinco anos tentei conciliar o trabalho do jornal com a fotografia, mas era uma corrida contra o tempo. Em 2003 optei pela fotografia. E, graças a Deus, posso dizer que deu certo.”
É claro que, quando se muda de profissão, há perdas e ganhos. E é preciso avaliar bem. “No meu caso, uma pergunta foi fundamental para essa decisão: se eu soubesse que iria morrer amanhã, hoje estaria escrevendo ou fotografando? E a resposta foi imediata: fotografando. E se hoje me fizesse a mesma pergunta, a resposta seria, com certeza, a mesma.”
O engenheiro que virou psicólogo
Após 15 anos atuando como engenheiro civil em grandes construtoras e também na sua própria empresa em sociedade com seu irmão, Euclides Lunardelli Filho, 55 anos, casado, decidiu largar a profissão e buscar outra formação. Em 2002, ele voltou para a Universidade para estudar Psicologia. “Migrei da área de exatas para a área de humanas, ou biológicas, tal como na alocação da UEL. Dentre os principais motivos da minha mudança, penso que não me sentia atraído pela engenharia ou por nenhuma outra profissão, ou seja, estava muito imaturo para escolher. São poucos os jovens que têm essa determinação clara. Durante o exercício profissional, deparei-me com dificuldades peculiares à profissão. Passei por um momento de desencantamento e decepção. Busquei terapia para me encontrar e também acabei conhecendo o que considerei um trabalho instigante. Cheio de dúvidas e aos 34 anos de idade, dediquei-me ao novo curso. Hoje, decorridos 17 anos de formado em Psicologia, com orientação psicanalítica, estou certo de ter feito uma boa escolha: a satisfação profissional é o indicador”, salienta Euclides, que possui formação e Psicanálise e especialização em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo.
*** Matéria original publicada em 13 de fevereiro de 2019.
Agradecimentos:
Fotos: Arquivo pessoal dos entrevistados
Arte/capa: Alecksey Willians
Revisão: Jackson Liasch (fone (43) 99944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com
Hylea diz
Muito bom
Carlos diz
Excelente matéria! Acho muito importante as pessoas trabalharem naquilo que realmente gostam! As experiências profissionais exibidas na reportagem são fontes de inspiração para todos nós leitores.