Chepli Daher, Ferdinando Milanez, Frank Ogatta e Lázaro de Morais Pinto
Claudia Costa
A palavra patriarca é derivada do grego πατριάρχης, patriarchēs, que significa “chefe” ou “pai de família”, uma composição de πατριά, patria (“família”) e ἄρχειν, archein (“governar”)
O livro de Gênesis conta a história dos patriarcas e toda a Bíblia continua citando os nomes deles, como Abraão, Isaque e Jacó. Também José do Egito foi importante para o povo de Israel. Este período marcou a formação da fé. Tudo o que eles criaram foi transmitido pelas gerações para seus filhos e filhos de seus filhos. Os nomes dos doze filhos de Jacó deram nome às famílias ou tribos de Israel.
E quando falamos em patriarca hoje em dia vem na memória aquela figura do PAI, na essência da palavra. Ele é muito mais do que um provedor, é aquele homem que conseguiu dar amor, proteção, segurança e ser o “guardião” da sua família, orientando seus filhos, dando exemplo, transmitindo valores éticos e zelando pela união e bem-estar de todos. Esses patriarcas nunca estiveram sós nesta jornada por suas famílias, sempre tiveram ao seu lado suas esposas, verdadeiras companheiras e aliadas.
Admiro quem tem e teve essa referência em suas vidas. Se todos os pais soubessem e entendessem a dimensão que a figura paterna tem na vida de um filho, talvez as histórias de vida de muitas pessoas fossem diferentes. Nesta reportagem, o portal IDEIA DELAS entrevistou quatro homens com mais de 80 anos de vida e que vivem rodeados por seus filhos, netos e noras. Chepli Daher, Frank Ogata, Lázaro de Morais e Ferdinando Milanez são pessoas com origens culturais diferentes, mas gozam do amor, da admiração e do respeito de seus familiares que valorizam sua sabedoria e experiência de vida.
O empresário Chepli Tanus Daher Filho, 90 anos, nasceu em Gália, no interior de São Paulo. Ele, a mãe Barbara e o irmão Elias mudaram-se para Piracicaba (SP) logo após a morte precoce do seu pai, que era proprietário de uma fazenda na região. Em Piracicaba, a família abriu seu primeiro negócio, um armarinho denominado Casa 77. Foi nesta cidade que seo Chepli Tanus Daher Filho conheceu o amor da sua vida, dona Jandira, quando esta tinha somente 14 anos. Eles se casaram quando ela tinha 16 anos e seo Chepli 21 anos.
Em 1952, o casal mudou-se para Cornélio Procópio e Chepli Daher começou a trabalhar como corretor de imóveis. Seu irmão Elias Daher era agrônomo na Cia. de Terras Norte do Paraná. Logo em seguida, a família Daher mudou-se para Londrina, conhecida como a “Capital Mundial do Café”.
Este ano o casal completará 68 anos de matrimônio. Como bons descendentes de libaneses, seo Chepli e dona Jandira constituíram uma grande e bela família. São seis filhos (Charles, Elizabeth, Bárbara, Roberto, Solange e Renato), 16 netos e sete bisnetas.
Quem convive com a família Daher percebe o amor e a união entre seus membros. O patriarca Chepli Daher, no alto da sabedoria dos seus 90 anos, é reverenciado por todos, sendo um exemplo de dedicação e amor à sua família. Ele é um homem bem-humorado e carinhoso que conquistou o amor e o respeito de todos. Seu apartamento no centro de Londrina está sempre movimentado com o vaivém dos seus filhos, netos e bisnetos. Dona Jandira Daher, 85 anos, explica que o casal sempre fez questão de reunir a família em encontros como os almoços de domingo. O carinho e o respeito com que o casal Jandira e Chepli se trata é um modelo para seus familiares. Perguntado sobre qual o segredo de manter a família sempre por perto, Chepli Daher resume em uma simples palavra: “amor”.
Seo Chepli não trabalha mais, porém sempre foi um grande empreendedor, um empresário de sucesso e, como pioneiro, contribuiu muito para o desenvolvimento de Londrina e da região Norte do Estado. Ele fundou o Grupo C. Daher, que atualmente é comandado por seus filhos, e possui empresas nos setores de urbanização, construção civil, agronegócio, administração de bens e financeiro.
A vida do doutor Frank Ogatta, médico ginecologista, filho de imigrantes japoneses, que em julho próximo completará 90 anos, é muito singular e de vanguarda para sua época. Natural de Paraguaçu Paulista, cidade do interior de São Paulo, ele mudou-se para Presidente Prudente (SP) ainda na infância com os pais Maçako e Yoshio Ogatta e suas duas irmãs.
Frank Ogatta cursou Medicina na cidade do Rio de Janeiro, na época capital do Brasil, na conceituada Universidade do Brasil/Faculdade Nacional de Medicina. Ele era o único oriental do curso.
A educação sempre foi um dos principais alicerces dos Ogatta, que apesar de serem imigrantes não viam a vida no Brasil como um momento passageiro na vida da família. Por isso, investir na formação dos filhos foi uma prioridade para seus pais. Seu pai Yoshio Ogatta era um homem de visão que, após ser alfabetizado em português, começou a trabalhar em uma serralheria e depois atuou como corretor de câmbio.
Quem convive com doutor Frank conhece a sua educação exemplar. Ele é um homem de fala serena, atencioso e de gestos grandiosos em benefício dos mais necessitados.
Desde muito jovem, o médico se comprometeu com a comunidade mais simples. Ele foi convidado para vir trabalhar na cidade de Uraí (interior do Paraná, onde a grande maioria dos moradores era descendente de japoneses) em uma grande produtora de rami (fibra muito usada pela indústria têxtil). A cidade necessitava de um médico que fosse fluente em japonês para poder se comunicar e orientar os agricultores a usar os equipamentos e não se machucarem tanto. Muitos dos trabalhadores acabavam se ferindo de forma grave, muitas vezes até com mutilações, enquanto trabalhavam nas máquinas conhecidas como “periquito” usadas na retirada da casca do caule do rami.
Quando foi convidado para trabalhar em Uraí, o médico viveu um dilema. Na época ele já atuava profissionalmente no Rio de Janeiro, cidade com uma boa infraestrutura médico-hospitalar, e Uraí não tinha quase nada de estrutura. Ele conta que refletiu muito sobre como poderia negar o convite de trabalho sem magoar os administradores da cidade. “A solução que encontrei foi fazer algumas ‘exigências’ contratuais que achava que eles não iriam aceitar: uma casa de alvenaria para morar, um carro e também poder trabalhar como um médico particular, com livre acesso a todos os pacientes que necessitassem dos meus cuidados”, conta ele. Resultado: o tiro saiu pela culatra e o doutor Frank Ogatta teve todas as suas solicitações acatadas. O médico ainda retornou para o Rio de Janeiro, onde cumpriu alguns compromissos profissionais antes de mudar-se em definitivo para o interior do Paraná.
Como sempre foi uma pessoa muito dinâmica, participando de agremiações e eventos da colônia japonesa, Frank Ogatta trouxe para Uraí um pouco da experiência adquirida, participando de grêmios na capital fluminense. Na cidade ajudou a estruturar o Posto de Saúde e a Santa Casa e também atuou como professor de matemática no colégio da cidade.
A esposa Toshiko Ikeda Ogatta, miss Nikkei do Paraná, ele já conhecia de vista de um evento que ajudou a promover no Rio de Janeiro em que a bela jovem participou. O casal só veio se casar depois de alguns anos. Dona Toshiko, formada em Administração de Empresas em São Paulo, na época morava em Assaí, cidade vizinha a Uraí, onde o jovem médico fixou residência. O relacionamento do casal foi selado por uma tradição milenar, o Omiai Kekkon, casamento em que os pretendentes são arranjados pelos familiares. Frank e Toshiko se casaram quando ela tinha 19 anos e ele 30. O casal teve quatro filhos: Evaldo (médico), Evelin (médica), Evelise (fisioterapeuta) e Evenilde (professora). Eles são avós de 11 netos.
O médico foi quem realizou o parto do seu filho primogênito Evaldo. A família se mudou para Londrina em 1963, já pensando no futuro dos filhos que precisavam estudar em boas escolas. Segundo o filho Evaldo Ogatta, ele e suas irmãs tiveram uma criação “rígida”, de acordo com a cultura oriental, tendo que respeitar regras e assumindo responsabilidades. Ele salienta a importância e o respeito que todos possuem pelo pai, um verdadeiro patriarca que sempre foi um exemplo para todos na família. “Eu nunca vi meu pai achar ruim de atender um paciente em qualquer horário ou dia semana. Ele sempre atendia a todos com dedicação e respeito”, salienta o filho primogênito.
O casal Toshiko e Frank Ogatta é uma referência não só para seus familiares, que não medem esforços para estarem juntos, mas para toda uma colônia oriental que vê neles um modelo e exemplo a ser seguido. Os Ogatta sempre foram festeiros, gostam de dançar e participar da vida social da cidade.
Em 2018, o dr. Frank foi condecorado pelo governo japonês com a comenda “Ordem do Sol Nascente” pelo trabalho realizado junto à comunidade carente no Paraná. Ele coordenou durante 17 anos uma equipe de 30 profissionais, sendo 15 médicos e 15 técnicos da área da saúde, que viajavam pelo Estado atendendo a população mais necessitada. O trabalho de todos os profissionais era voluntário.
Ferdinando Milanez, 82 anos, é descendente de italianos, de Treviso, cidade da região de Vêneto, Nordeste da Itália. No Brasil, sua família se fixou em Meleiro (SC), município com sete mil habitantes (segundo dados do último censo), que possui muitos descendentes de italianos e tem na cultura do arroz e do milho suas principais produções. Ele tem 10 irmãos, sendo sete somente por parte de pai. Ferdinando é filho de Páscoa Savi e Paschoal Milanez.
Em 1959, aos 22 anos de idade, Ferdinando deixou a cidade de Meleiro, onde trabalhava na lavoura e na serralheria da família, para vir estudar e trabalhar em Londrina (PR), cidade onde seu irmão, o jornalista João Milanez, tinha recém-adquirido o jornal Folha de Londrina.
Formado em Direito pela Universidade Estadual de Londrina, Ferdinando nunca exerceu a profissão. Ele trabalhou até os 80 anos como contato publicitário no jornal Folha de Londrina, empresa da qual foi um dos proprietários.
Assim como seu pai, o nono Paschoal, Ferdinando Milanez sempre foi um homem agregador. Um verdadeiro patriarca. Sua família (filhos, netos e dezenas de sobrinhos, das famílias Milanez, Macarini e Gomes, do lado da esposa) sempre esteve e estará presente em sua vida. “O ‘velho’ Paschoal era muito brincalhão e gostava de festa na família. Eu procuro estar sempre junto dos meus familiares, acho que herdei dele esse jeito de ser”, diz Ferdinando, que sempre adorou saborear um bom vinho, dançar e jogar futebol.
A casa de Ferdinando Milanez é o porto seguro e referência da família em Londrina. Ele é casado há 47 anos com a professora aposentada Ivone Milanez, com quem teve três filhos (Fernanda, Rodrigo e Renata) e seis netos. Sua primogênita, a dentista Fernanda Milanez, diz que o pai é um exemplo de honestidade e que sempre se preocupou em passar valores éticos para sua família. “Ele sempre foi um homem trabalhador, com princípios éticos, e muito bem-humorado. Temos muito orgulho dele”, salienta ela.
Para Ferdinando Milanez, o segredo de manter uma família unida pode ser resumido da seguinte forma: “O amor e a fé que mantemos em nossa família. A presença da igreja na vida de todos, transmitindo ensinamentos fundamentais para a educação dos nossos filhos e netos”, ressalta.
Lázaro de Morais Pinto, 89 anos, ou simplesmente Lazito como é chamado pelos familiares e amigos, é uma referência não somente para a família, mas também para os moradores de Ibiporã. O empresário é natural de Carlópolis, mas foi na cidade de Ibiporã que ele construiu sua vida após o casamento com a professora Maria Moya de Morais, 81 anos. O casal comemora em maio 54 anos de união. São pais de quatro filhos (Adriana, Sandra, Fernando e Caroline) e têm oito netos.
Lázaro de Morais é um homem empreendedor, quando tinha apenas 15 anos já trabalhava como comerciário em Carlópolis. Aliás, o comércio sempre foi sua grande paixão profissional. Ele foi o fundador da Associação Comercial de Ibiporã e da APRAS (Associação Paranaense de Supermercados), Regional Londrina, atuando sempre em prol do associativismo. Seu primeiro negócio em Ibiporã foi uma loja de secos e molhados e, em 1971, abriu o supermercado Universal, o primeiro da cidade, que vendeu em 2008 uma das lojas para o grupo Viscardi e a outra para o Almeida Mercados. Em 2002, o empresário constituiu a empresa Ibiporã Investimentos, que trabalha com locação de imóveis próprios.
A dedicação e o amor à família são características marcantes em seo Lazito, que tem na sua grande companheira de vida, a esposa dona Maria, sua aliada. O casal não mediu esforços para proporcionar a melhor educação aos filhos. “Ele é um pai amoroso e um homem muito trabalhador, honesto e respeitoso. Sempre incentivamos nossos filhos a estudar, pois conhecimento é um patrimônio que ninguém perde”, salienta dona Maria, que trabalhou durante muitos anos na Secretaria de Educação da cidade e depois ao lado do marido nos negócios da família.
Agradecimentos:
Fotos: Arquivo Pessoal
Arte-capa : Vladmir Farias- (43) 98401-3175. email : pdfmatriz@gmail.com
Revisão: Jackson Liasch (fone (43) 99944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com
Dayse Teresinha Genta Cordioli diz
Parabéns Ferdinando,amigo de longa data e agora sogro do meu filho.
Pessoa especial,alegre ,comunicativa,que faz a felicidade de todos que o cercam!
Pedro diz
Muito legal!
Isaltino Franco Correia cirurgião diz
Parabéns para Claudia, sempre uma brilhante jornalista.
Escolheu , com brilhantismo, dignos representantes dos pioneiros de Londrina.
Em especial meu amigo Nando, um homem de raro carácter, digno em todos os aspectos
Soraia diz
Meu compadre Ferdinando Milanez é um homem como poucos : íntegro, um coração do tamanho do mundo e uma alegria contagiante. Ele é sua esposa Ivone abraçaram meu marido quando este chegou em Londrina e depois eu também fui amorosamente acolhida. Faltam palavras para descrevê-lo mas termino com esta frase: Um homem temente a Deus, um homem do bem.
Fernanda Gomes Milanez Garboza diz
Excelente reportagem! Parabéns, Claudia!
Parabéns aos quatro patriarcas, os Guardiões da Família, papel fundamental na construção de valores e na perpetuação do amor.
Em especial ao meu pai, Ferdinando, por quem tenho imensa admiração, respeito e gratidão. TE AMO, PAI !!
Maria cristina siqueira de toledo diz
Parabéns aos patriarcas, titulo sugestivo e que faz jus à matéria de Caudia Costa. Parabéns, Claudia. Jornalista sendo Jornalista! Orgulho de vc, menina!
Renata Gomes Milanez Cordioli diz
Obrigada Claudinha pela linda reportagem!
Muito pai, um homem humilde, sincero, determinado e trabalhador.
Seu coração, cheio de bondade , sempre ajudando o próximo.
Tenho admiração e gratidão eterna por ele.
Selma G. Campos diz
A dupla Ferdinando e Ivone é um exemplo muito bem lembrado pela Cláudia. O amor, integridade e religiosidade sempre foram presentes no suporte familiar por nós observado.
Dalva Gomes Scalassara diz
Ferdinando Milanez, homem honrado guerreiro e acima de tudo temente à Deus. Ele e minha irmã Ivone criaram uma linda família. Tiveram três filhos maravilhosos, todos de um carácter invejável. Seus netos não poderiam ser diferentes pois foram educados com o exemplo que aprenderam em casa com seus pais e avós.
Encerro dizendo que sua familia é muito abençoada e abençoadora.
Colocaram Deus em primeiro lugar em suas vidas
Gabriel diz
Linda a reportagem! É uma honra ser da família do tio Nando! Alegria em pessoa (:
GILMAR DONIZETE DA SILVA diz
É para mim e os meus uma honra ser amigo e eventual conviva das reuniões da família do Ferdinando Milanez.
São um exemplo de união, alegria, cordialidade e amor.
Como londrinense nato, entendo que foi para a nossa cidade uma dádiva de DEUS o Nando ter vindo para cá, ter participado ativamente do progresso de nossa cidade, mas sobretudo, junto com a Ivone, ter constituído uma família tão preciosa a qual tanto amamos.
Vida longa e bênçãos para todos eles.
Mãe Nina diz
Parabéns pela matéria. Estou muito orgulhosa do seu trabalho!