“Navegar é preciso; viver não é preciso.”
Quero para mim o espírito desta frase, transformada.
A forma para a casar com o que eu sou.
Viver não é necessário; o que é necessário é criar .
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso
Tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso
Tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho
Na essência anímica do meu sangue o propósito
Impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
Para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.
Fernando Pessoa
Por Claudia Costa
Nos versos do poeta Fernando Pessoa a nossa reverência e homenagem ao amigo jornalista Oswaldo Militão. Um profissional dedicado e um repórter na concepção da palavra, que está sempre em busca de uma informação exclusiva, que vai completar 81 anos no próximo 18 de fevereiro de 2019. Ele ainda mantém um ritmo grande de produção, assinando uma coluna diária na Folha de Londrina, gravando de segunda a sexta-feira o programa de televisão Militão & Militão e produzindo uma revista bimensal, a Spotlight. Em um país como o Brasil, em que uma pessoa acima dos 50 anos é vista como um velho, Militão é um exemplo para todos que acreditam que trabalhar é viver.
Quem convive com o jornalista tem uma certeza: o amor que Militão devota a Londrina, cidade que o acolheu em 1956 vindo de Bela Vista do Paraíso. Sua mãe, dona Zulmira, desejava que o filho estudasse e se tornasse um advogado. O curso ele concluiu, porém a paixão pelo jornalismo falou mais alto e há 60 anos ele assina na Folha de Londrina uma coluna, denominada Folha Social. Mas é muito mais que social, aborda temas como política, economia, curiosidades, dentre tantos assuntos.
Na profissão de jornalista ele começou por acaso. Quando chegou à cidade, sua mãe foi procurar nas páginas da Folha de Londrina uma pensão para o filho morar. Ao folhear o jornal, dona Zulmira se deparou com um anúncio que dizia: “Procura-se um colega para alugar quarto na Avenida Higienópolis. Tratar com Walmor no Lar Hotel”, publicado pelo jornalista Walmor Macarini (que era redator da Folha de Londrina) procurando alguém para dividir as despesas. E foi assim que começou a história de uma grande amizade entre os dois jornalistas. Militão conta que, quando saía do colégio, sempre passava pela Folha de Londrina e ficava acompanhando o trabalho dos amigos. “Um dia, o Walmor Macarini foi a um churrasco com uma bela namorada, tomou muito sol e pegou uma insolação.” Walmor então perguntou se o colega de quarto sabia datilografar e se poderia ir ao jornal e procurar em sua gaveta um livro de poesia, ligar para o cinema e pegar a programação dos filmes do dia seguinte. “Foi assim que comecei no jornalismo”, explica Militão.
Eu o entrevistei no Hotel Bourbon, do seu amigo Roberto Vezozo, um dos pontos preferidos dos políticos e empresários, em uma tarde de quarta-feira, dia de rush na redação, pois neste dia da semana Militão tem que fechar duas colunas. Mesmo tendo pouco tempo, ele foi gentil como sempre e contou ao Portal IDEIA DELAS um pouco da sua vida e histórias de Londrina e seus personagens.
Um homem de família
O são-paulino Militão é casado com a professora aposentada Inêz Terezinha Goes, com quem teve um casal de filhos: Xênia e Marcelo. É avô de tres lindos jovens: Ana Carolina, Emanuel e Luiza . O filho Marcelo seguiu a profissão do pai, depois de um tempo trabalhando com televisão (TV Coroados). Xênia trabalha no cartório Rocha, de propriedade da família de seu marido. O filho Marcelo é o grande parceiro do pai na produção das matérias veiculadas na coluna da Folha de Londrina, na revista Spotlight e no programa de TV Militão & Militão, que vai ao ar de segunda a sexta-feira na CNT.
Oswaldo Militão foi editor de esporte da Folha de Londrina de 56 a 70, e juntamente editava a coluna Sociedade. Aliás, a coluna social (denominada Sociedade pelo jornalista Nilson Rimoli) foi uma sugestão do colunista social curitibano Dino Almeida, do jornal Diário do Paraná. “Ele disse que estava na hora de a Folha de Londrina ter uma coluna social e que isso ajudaria a vender mais jornal.” Era a época do famoso colunista carioca Ibrahim Sued, que retratava nas páginas do jornal O Globo a rica sociedade carioca. Ibrahim tinha um bordão que ficou famoso: “Ademã, que eu vou em frente”.
Zona da Boemia
Militão é acima de tudo um repórter. Não acessa a internet, mas lê muitos jornais e revistas brasileiras e internacionais que os amigos trazem para ele e, principalmente, está sempre conversando com pessoas comuns, formadores de opinião e autoridades. Ele sempre tem uma informação privilegiada para divulgar.
Na época de ouro do café em Londrina, era na Zona da Boemia, denominada por ele elegantemente, que os negócios aconteciam. “Era lá que muitos negócios eram fechados, no restaurante do Toninho e do Oswaldo Farinha”, explica Militão. Até hoje ele divulga notícias de algumas de suas fontes daquela época através do pseudônimo de Lurdinha Chupeta.
Na Folha de Londrina fez de tudo um pouco. Foi revisor e até escreveu uma coluna de variedades, denominada Tia Jurema, nome que o jornalista João Rimoli criou. “Uma vez, uma senhora ligou reclamando que a receita estava errada e que o bolo queimou. Era para assar por 20 minutos e publicamos que eram 40 minutos de forno”, diverte-se ao relembrar o fato.
O jornalista é uma fonte de informação importante sobre a história de Londrina e possui uma memória invejável. Lembra-se de fatos e pessoas que ajudaram a construir esta cidade. Quando questionado como ele vê sua amada Londrina hoje, ele comenta: “Não queria ser prefeito de Londrina hoje. É um cargo espinhoso. A cidade precisa de mais indústria, mais emprego e mais dinheiro. Teve uma fase que Londrina era mais querida e as pessoas não falavam tanto mal da cidade”.
Militão ocupou há alguns anos diversos cargos nas administrações. Foi presidente da Autarquia Municipal de Esportes (Ametur), quando implantou uma sugestão do amigo jornalista Flavio Campos, os Jogos Intersociedades, que mobilizavam os atletas e associados de todos os clubes da cidade. Também trabalhou no Instituto de Previdência do Estado (IPE) e atuou por dois mandatos como juiz classista da Justiça do Trabalho. “Já fui até suplente de vereador em Londrina. Tive muito mais votos do que alguns dos vereadores atuais”, explica ele.
Questionado sobre qual notícia não gostou de dar, ele não titubeou: “A morte do João Milanez”, explicou ele. “O Milanez foi um baluarte de Londrina, assim como Orlando Mayrink Gois. Eles fazem muita falta à cidade. Também não gostei de noticiar a morte do dr. José Eduardo Vieira, o sucessor do Milanez no comando da Folha de Londrina.”
A notícia que diz que gostaria de ter dado e não o fez foi o nascimento dos filhos, Xênia e Marcelo Militão.
Os amigos falam sobre o jornalista
*** Matéria original publicada em maio de 2019.
Agradecimentos:
Revisão de textos: Jackson Liasch (fone (43) 9 9944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com)
Fotos/arquivo pessoal dos entrevistado
Ilustração capa: Alecksey Willimans
Marival Antonio Mazzio diz
Parabéns Claudia pela reportagem sobre esse ícone do jornalismo londrinense. Militão merece mesmo todas as honrarias possíveis.
Marcelo diz
Parabéns Claudia excelente matéria.Marcelo Soares da costa.
Xenia diz
Obrigada querida Claudia por esta homenagem para meu pai.Ele ficou mt feliz!
Claudia Costa diz
Nós que ficamos honradas dele nos conceder essa entrevista. Todos nós sabemos que o Militão não gosta de holofote. beijos
Isnard Cordeiro diz
Parece que estava vendo quando conheci o Militão em junho de 1961, quando ele e o Nelson Severino (hoje morando em Várzea Grande.MS) eram os responsáveis pelo esporte da Folha. Milita foi meu primeiro chefe lá e aprendi muito com ele. É meu padrinho de casamento no religioso. Ainda hoje estive vendo as fotos do casório. Parabéns menina, continuas escrevendo muito bem.
Celio Guergoletto diz
Osvaldo MIlitao além de grande jornalista , pessoa humana extraordinaria, vivi 12 anos na camara municipal, ele foi a pessoa que mais me impressionou, pelo companherismo, pela amizade e tudo mais. vida longa amigo.
Elisiê Peixoto diz
Ele é tudo isso mesmo! Sempre pronto a atender todos!
Adelci Brandão diz
GRANDE OSVALDO MILITÃO, ASSISTI E LI MUITO SOBRE O QUE ELE PUBLICAVA. ABRAÇOS.