Por Elisiê Peixoto
Cantar é um dom. Tocar é um dom. E quem pode fazer disso uma profissão, que maravilha. E quem faz disso uma segunda opção de trabalho ou apenas um hobby e prazer, melhor ainda. Para alguns não importa se o público na mesa de um bar seja de uma pessoa ou centenas delas. Para outros, cantar ou tocar em um casamento proporciona o mesmo prazer que se apresentar em um show lotado. Afinal, quando o assunto é cantar e tocar, o prazer está acima desses detalhes. Cantar está intrínseco na vida deles, faz parte do adormecer e acordar, da rotina do dia, das comemorações, das tristezas, do corpo e da alma.
Para todos os entrevistados, a música faz parte da essência da vida. Eles respiram música, seja MPB, gospel, samba, pop, clássica, blues ou jazz. São apreciadores de belas canções, cresceram ouvindo música, alguns incentivados em lares evangélicos com canções do meio gospel; outros, atentos aos pais apreciadores de jazz; outros, ainda, participantes das rodas de samba da família; e alguns vendo a mãe ao piano, o avô ao clarinete e o pai ao violão.
O fato é que são conhecedores e pesquisadores, fazem belas interpretações, cada um no seu estilo, escolhem repertório, são respeitados e elogiados. A maioria está na estrada tem algum tempo, perseverou, acreditou e hoje colhe os frutos. O Ideia Delas conversou com Kiko Jozzolino, Adilza Regina Carvalho de Oliveira, Ângela Maria de Souza, Liliana Accorsi e Ana Carolina Vilela da Costa. Gente boa, da melhor qualidade quando se fala em música. Vamos conhecer a trajetória de cada um?
Kiko Jozzolino tem 47 anos, é guitarrista e produtor musical, com vasta experiência na área. Cresceu em um ambiente familiar cercado por música, porque a mãe tocava piano e violão, e o avô foi baterista e maestro de uma orquestra americana. “Desde cedo eu sempre escutei música e, claro, isso despertou interesse. Sem perceber fui me envolvendo e gostando”, revela. Ele é autodidata, “mas depois de me profissionalizar, fiz aulas no IGT – Instituto de Guitarra e Tecnologia de São Paulo, onde fiquei um ano estudando, mas sou, basicamente, um músico autodidata”, destaca.
O músico se encantou com o gênero blues, nos anos 80, e logo de cara apaixonou-se pelo estilo de B.B. King e de Eric Clapton. A partir disso, foi se aprimorando, estudando e pesquisando até chegar onde chegou, com reconhecimento do público. “Há oito anos parei de tocar em bares da cidade. Hoje faço apresentações em eventos corporativos e casamentos, produzo eventos em Londrina, Curitiba, Brasília e Salvador, como o Festival de Blues, do qual sou o idealizador e já em sua nona edição em Londrina e terceira em Curitiba. Toco muito mais em outras cidades do que em Londrina, costumo dizer que o cenário musical na minha cidade anda um pouco difícil para o gênero que interpreto e do qual sou aficionado, o blues.”
Ele ressalta que, atualmente, depois de muitos anos de trabalho, conseguiu construir uma carreira sólida, passo a passo. “Precisei estudar e trabalhar muito, ser músico, e do gênero que toco, não é fácil, precisa-se de pesquisa, conhecimento. Mas valeu a pena. A sensação de tocar e cantar é algo indescritível, quando se faz o que se gosta é muito positivo. Graças a Deus posso viver bem da minha profissão. Nada é forçado, meu trabalho é um prazer, e vale a pena qualquer investimento”, completa.
Questionado sobre nomes que influenciaram a sua trajetória profissional, Jozzolino diz: “Certamente que B.B. King e Eric Clapton foram e são os meus ídolos. Mas não posso deixar de citar Buddy Guy, Jeff Beck, Beatles. Tem muitas feras neste cenário blues, cantores e guitarristas excepcionais que sempre nos inspiram”.
Adilza Regina Carvalho de Oliveira tem 29 anos, é pedagoga, professora da rede municipal. Canta desde os cinco anos de idade, criada em um lar evangélico e sempre apreciando os pais que tocavam juntos. O início da carreira não poderia ser diferente, mostrando a que veio no coral da igreja Assembleia de Deus. “Meu pai toca violão e eu sempre admirei esse talento. Adoro cantar e faço isso desde muito cedo, meus primeiros passos foram com a música gospel, mas com os anos comecei a incursionar em outros estilos, pesquisei, aprofundei-me, estudei. Comecei em 2008 no grupo Contraponto e até hoje canto em casamentos e eventos. Adoro samba, admiro os compositores, desde os mais antigos até os contemporâneos. Mas não me apresento na noite em bares, é uma vida muito desgastante, cansativa, prefiro casamentos e eventos corporativos”, comenta a cantora que é mezzo, e tem uma técnica especial para gravar as canções. “Costumo ouvir as músicas que quero interpretar sempre antes de dormir. É um momento tranquilo em que escuto com precisão, atenção às letras. Cuido da minha voz, mas sei que devo cuidar mais, mesmo sabendo que o meu corpo todo já vivencia a música, estou totalmente inserida nela, porém a minha voz é dom de Deus, tenho que preservá-la e para isso são necessários cuidados especiais. Ando um pouco descuidada com isso, mas sei que a minha voz é uma indispensável ferramenta de trabalho e preciso estar atenta para não comprometê-la.”
Adilza revela três nomes que admira pela interpretação, voz, composição e talento. “Na verdade sou bastante eclética, porque gosto demais do sambista Arlindo Cruz, da cantora gospel Aline Barros e da super star Whitney Houston. Todos com seu estilo único. Mas meu projeto ainda é gravar um disco gospel. Como trabalho e tenho uma vida corrida, o projeto vai sendo adiado, mas creio que no tempo certo de Deus vai acontecer e certamente darei o melhor da minha voz”, finaliza.
Ângela Maria de Souza é funcionária da Universidade Estadual de Londrina, 53 anos, casada com o instrumentista, produtor e compositor londrinense Vagner Nogueira. “Minha mãe conta que eu já cantava aos quatro anos de idade. Então, cresci cantando, minha família toda canta, meu avô tocava clarinete na Igreja Assembleia de Deus, minha mãe, avó e tias cantavam no coral. Sou soprano e, já adulta, aperfeiçoei minha técnica com a professora Valquíria Ferraz. Até 1990 eu só cantava no meio evangélico, depois comecei a cantar MPB, meu marido Vagner Nogueira é produtor, instrumentista, atualmente me acompanha nas apresentações, ele é bastante conhecido e requisitado, tem experiência, formamos uma boa dupla. Faço parte de um grupo que se apresenta em casamentos: “Vozes Barrocas”. Gosto muito de me sentar com ele, escolher o repertório, conhecer as letras, as composições, é um trabalho de pesquisa sonora, de conhecimento”, diz a cantora que tem alguns shows que são conhecidos pelo público.
A cantora apresentou-se no Bar Valentino, em Londrina, em 2016, com o espetáculo “Ângela Maria cantando músicas de Ângela Maria em Samba e Rock”, e com enorme sucesso. Ela e o marido também costumam ensaiar e já montaram apresentações como “Tributo a Michael Jackson”, “Tributo a Whitney Houston, Tributo a dona Ivone Lara”. “E também gostamos de elaborar trabalho de pesquisa das músicas e suas respectivas épocas, interpretamos canções de memoráveis compositores, aqueles que farão parte da história.” E cita Bachianas Brasileiras nº 5, de Villa-Lobos, como a sua preferida. Gal Costa, Elis Regina e Marisa Monte estão no rol das cantoras que mais aprecia. Ângela é bem conhecida pela interpretação de Ave Maria de Charles Gounod, uma das músicas oficiais dos casamentos. “Tem muitos cantores excepcionais no mundo todo. Porém, preciso ter ouvido e coração aguçados para saber interpretar. Música requer emoção.”
Liliana Accorsi é formada em Administração de Empresas, sempre gostou de música e cresceu em uma família alegre. O avô e a mãe gostavam muito de música, a tia cantava. “Eu tocava violão na adolescência e adorava escutar James Taylor, Caroline King, Carly Simon, John Denver. Certa vez, interpretei Country Road, na boate Step by Step, em Londrina, nos anos 80, e até hoje as pessoas lembram e comentam. A música sempre fez parte da minha vida, mas depois de casada e com três filhos, afastada do violão e entristecida com a morte da minha mãe, foi que procurei na música o consolo e a melhor forma de expor meus sentimentos. A música sempre exerceu esse importante papel em mim”, comenta Liliana.
O interesse foi reforçado durante as saídas a passeio com amigos, quando um grande conhecedor de música e também amigo, José Flávio Garcia, a presenteava com CDs de jazz. “Isso me despertou e comecei a escutar com mais afinco e apaixonei-me pelo estilo. Fiz aulas na Escola Keynort Music e firmei uma parceria com a pianista Solange Scripes, uma dupla que permaneceu por um bom tempo no piano e voz. Fui incentivada por Marco Veronesi, que faz parte do Programa Italiano da Universidade Estadual de Londrina, a gravar um CD. Procurei o pianista e arranjador Matheus Gonzáles, com a orientação do Marco, Zé Flávio e Pedro Franciscon (ele realizou um belo trabalho de edição e masterização)”, revela.
O CD contou com algumas participações expressivas de Londrina, além de Roberto Menescal. “Muita gente talentosa fez parte dos arranjos, entre eles Roger Aleixo, Diogo Burka, Paulo Siqueira, André Siqueira, Gabriel Zara, Marcelo Casagrande, Vitor Gorni, Filipe Barthen, Gilberto de Queiroz, Paulo Deggau.”
Para Liliana, gravar o CD foi algo precioso porque serviu de alicerce, aprendizado, e proporcionando enorme prazer. “Durante a gravação vi que precisava aprender mais, formei uma banda com Matheus, Roger e Diogo. Atualmente é formada por Matheus Gonzáles, no piano; Diogo Burka, no contrabaixo elétrico e acústico; Fábio Farinha, na bateria. Semanalmente nos reunimos, fazemos o repertório e preparamos shows. Eventualmente sou convidada para cantar ou monto um espetáculo. Mas, para mim, o importante é que tudo tenha a minha cara, que o lugar tenha o meu jeito de ser. Tenho paixão pelo jazz e pela bossa nova. Gosto de música pop com uma certa pegadinha jazz e também faço muito piano e voz com o Matheus.”
Para ela, cantar significa emocionar, passar sentimento, “e, se tocar o coração de alguém, sinto que alcancei o meu objetivo”. Finaliza fazendo alguns agradecimentos: “Ressalto três nomes: Zé Flávio, quase o meu mentor; Marco Veronesi, que até hoje me corrige duramente, mas eu gosto, porque tenho a possibilidade de melhorar. E, em especial, agradeço ao meu grande amigo Pedro Franciscon, que infelizmente nos deixou. Ele sempre me orientou da melhor forma. A eles todo o meu carinho e gratidão”.
Ana Carolina Vilela da Costa tem 21 anos, nasceu e mora em Londrina, canta profissionalmente desde os 18 anos, mas revela que ainda criança já gostava de cantar. “Comecei profissionalmente quando estourou o sucesso ‘Trem-bala’, o que me rendeu um contrato com a Som Livre e a gravação de um disco com 13 faixas inéditas. O hit Trem-bala ultrapassou as 90 milhões de visualizações e o mesmo disco, meu álbum de estreia, que leva o meu nome, concorreu ao Grammy Latino como ‘Melhor álbum pop em língua portuguesa’. Pelo que sei, acho que sou a única londrinense que concorreu ao Grammy Latino numa categoria importantíssima, ao lado de feras como Erasmo Carlos, Iza e Xenia. Só essa indicação já foi uma alegria e uma vitória. Cantar para mim significa estar viva. Eu gosto, inclusive, quando não estou no palco, e me faz um bem absurdo”, relata.
Atualmente, Ana Carolina tem focado um bom tempo no seu canal no YouTube, onde posta vídeos para interagir mais com o público. “E na criação do meu novo tour, que deve ir pra estrada ainda no primeiro semestre. Canto MPB/pop, estou dentro do que as pessoas chamam de nova MPB.” Com mais de 400 mil seguidores nas redes sociais (Facebook e Instagram) e um milhão de inscritos no Youtube, Ana tem seu estilo e gênero que conquistaram fãs de diferentes idades. Os vídeos têm formatos mais intimistas, próximos de uma conversa ou bate-papo mesmo. Em alguns, Ana recebe convidados. Tudo é assunto: música, cotidiano, histórias e muitos outros exemplos. “Gravei os vídeos com muito carinho, pensando em todo o mundo que vai assistir e se identificar de alguma forma. É muito louco porque você tem essa responsabilidade de saber que tem um milhão de pessoas acompanhando de alguma forma. Quero muito que as pessoas vejam e fiquem próximas de mim”, conclui.
https://www.youtube.com/channel/UCLYHckv6c8Eky4Z02B6v34w
Arte: Fernando Peixoto
Revisão: Jackson Liasch
ADILZA diz
Eu amei estar nessa coluna Maravilhosa, sou grata a vida dessa mulher de fibra e talentosa ELISIE PEIXOTO obrogada pela oportunidade! Grande bjooo
Amei rever histórias incríveis de super artistas dessa terra chamada Londrina !
Rozângela diz
Lendo essa matéria percebi quantos cantores talentosos de vários estilos londrina tem que a gente nem sabia; parabéns.