Por Elisiê Peixoto
“Mantenho-me firme quando a angustia e a saudade aparecem. Não as fortaleço. Respiro, espero-as passar e contemplo o amanhecer. Ele chega, faz-me crer que a esperança tem me sustentado nessa prova, apesar das desastrosas consequências para o mundo.”
“Apesar de tudo, ainda tenho uma sobra da esperança”. Foi o que escutei de um amigo, dias atrás. Revidei: “então, se você tem apenas uma sobra, você não tem coisa alguma, porque esperança deve ser plena e total”. Ele apenas sorriu timidamente, fez um aceno com a cabeça, demonstrando que concordava.
Acredito que nunca em tempo algum, conjugou-se tanto o verbo “esperançar”. Como estamos verbalizando e expressando a esperança! A gente está vendo o final do ano chegar, um 2020 doído, difícil, que nos ensinou algo fundamental: a fragilidade humana diante de um vírus indomável que fez um estrago no universo. O mundo interrompeu suas atividades, precisou fechar para a reforma e esperar por ajuda.
Talvez, em toda a vida, nunca fomos tão gratos pelas mínimas coisas, valorizamos as menores. E ignoramos as maiores, afinal, é possível passar sem elas. Em casa, sem maiores opções de diversão, estamos reaprendendo a arte do bom relacionamento. Voltamos a almoçar juntos, a assistir as mesmas séries, sentar na sala para conversar, dar boa noite e bom dia. Sim, coisas rotineiras que fizeram com que a vida na mesma embarcação se tornasse possível com paciência, amor e resignação. A todos foi necessária a tolerância na essência da palavra.
Nessa tempestade, depois de tantos meses com a embarcação atingida por ondas enormes, um raio de sol aparece. A esperança está na eficácia das vacinas, no sopro de Deus sobre a terra.
Desde o começo da pandemia e passado o impacto dos primeiros dias, tenho buscado conjugar o verbo “esperançar” nas minhas atitudes junto às emoções dos meus filhos, dos amigos, que vez ou outra, desmoronam. A solidariedade tem sido uma arma positiva, ela tem crescido, tem saltado barreiras, estendido as mãos. Observo ações, e mesmo com o coração apertado, esboço um sorriso ao contemplar a humanidade mais sensível.
Sabemos que dias difíceis chegam ao fim. O coronavírus também. Como mantenho a minha esperança viva, essa dura lição resultará em um bom ensinamento: somos vulneráveis, a vida é um sopro, o mundo mudou, o momento é de ajuda, oração, confiança. Nossos netos e filhos pequenos certamente vão escutar muitas histórias acerca da pandemia. Mas algo de positivo surge em meio ao caos, o aprendizado. Afinal, somos ondas do mesmo mar. Ponto. Ninguém é melhor que ninguém. Ponto.
Mantenho-me firme quando a angustia e a saudade aparecem. Não as fortaleço. Respiro, espero-as passar e contemplo o amanhecer. Ele chega, faz-me crer que a esperança tem me sustentado nessa prova, apesar das desastrosas consequências para o mundo. Estou agarrada à esperança feito uma criança no colo da mãe. A esperança tem sido o meu porto seguro, o alivio da alma, seca as lágrimas, faz-me adormecer. Tem sido minha aliada e amiga.
Sim, meus amigos, dias melhores virão. E estão a caminho.
Neusa diz
Sensacional, como sempre 👏👏👏🙏🙏🙏🥰
Viviane Canziani Pagani diz
Muita sensibilidade! Parabéns!
Sandra Paolielo Piazzalunga diz
Parabéns minha amiga pela sensibilidade em transmitir as emoções que a humanidade tem vivido nessa pandemia!! Somos todos iguais, definitivamente !!!👏👏👏👏👏👏👏
Sandra diz
Muito boa mesma!
Fé e esperança – É o que.nos faz olhar pra frente e ver alem da pandemia e suas catástrofes.
Crônica perfeita, parabéns!