A endometriose é a principal causa da infertilidade feminina

O médico Ricardo Alves Mendes Pereira explica que a endometriose é uma doença ginecológica caracterizada pela presença da mucosa do endométrio fora da cavidade uterina

 

Por Claudia Costa

O útero é revestido internamente por uma mucosa denominada endométrio. Essa superfície recebe um estímulo de hormônio do ovário, o estradiol (estrogênio), que a faz crescer, preparando a mulher todo mês para a gestação. Quando não acontece a fertilização, esse tecido se descama e provoca o sangramento da menstruação. A endometriose acontece quando essa camada se desenvolve fora da cavidade uterina, podendo atingir partes altas do abdômen e até do tórax.

Sintomas

A endometriose decorre de um processo inflamatório em função da presença do endométrio fora da cavidade uterina. Os sintomas são diversos e dependem de onde a endometriose esteja localizada, porém o mais proeminente é a dor. “Os sintomas mais comuns são as chamadas cólicas menstruais, que podem ser decorrentes da patologia ou não. A endometriose não é a única causa de cólicas menstruais, mas é a principal quando essas cólicas são intensas. Outros sintomas são: dores pélvicas, alterações urinárias, infertilidade, dor para evacuar, dor durante o ato sexual, dentre outros”, explica o médico Ricardo Alves Mendes Pereira, ginecologista obstetra com especialidade em ginecologia no Hospital Clinico y Provincial da Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona (Espanha). Formado há 30 anos, Pereira é um dos maiores especialistas em endometriose. Ele é um dos autores do livro “Endometriose, resolvendo a dor e o sonho de ser mãe”. Atualmente, é diretor do Centro de Endometriose do Hospital Santa Joana (São Paulo) e também atende no Hospital Israelita Albert Einstein (SP). No Paraná, mantém um consultório (o Materclin) e é diretor médico do Hospital Evangélico.

Vida sexual

Um dos principais sintomas da endometriose é a dor durante a relação sexual, principalmente a dor de profundidade, quando o pênis toca o fundo da vagina. “O fundo da vagina, pelo lado do abdômen, é um dos locais mais comuns do aparecimento da endometriose (que é uma inflamação), portanto quando acontece esse toque vai haver um sintoma doloroso. Dependendo da intensidade da dor, ela pode atrapalhar a vida sexual do casal”, explica o especialista.

 

Cólica menstrual

A cólica menstrual pode ser um processo que não necessita de tratamento se for um desconforto suportável. O que não é normal é uma cólica menstrual que diminua a qualidade de vida da mulher. Quando isso acontece, esse sintoma deve ser investigado.

 

Causas da doença

Segundo o médico Ricardo Alves Mendes Pereira, é muito difícil identificar as causas da doença, porém existem várias teorias. A mais comum é a genética. “Filhas de mulheres que tenham endometriose têm de sete a dez vezes mais chances de desenvolverem o problema do que filhas de mulheres que não tenham a doença”, salienta o especialista.

A segunda causa mais provável é uma alteração do tecido de revestimento da cavidade abdominal, o peritônio (uma membrana que reveste os órgãos abdominais), que provoca uma alteração chamada metaplásica. O tecido passa a se comportar como se fosse o endométrio.

Também existe a teoria de que uma das causas da endometriose é um refluxo da menstruação para fora da cavidade abdominal.

O médico salienta que a ciência médica ainda precisa apresentar um estudo que identifique as reais causas da endometriose. “Não tem como prevenir a doença porque ainda não são conhecidas as reais causas da endometriose.”

Diagnóstico

Para diagnosticar o problema é fundamental que o médico faça uma boa anamnese (entrevista), ouvindo as queixas da paciente, principalmente sobre dor no período pré-menstrual, durante a menstruação e no período de ovulação. O exame ginecológico é complementado com exames de imagem. “Um médico/examinador experiente que consiga identificar a endometriose através do ultrassom transvaginal e da ressonância magnética. Apenas quando identificarmos o endométrio fora do útero através da retirada desse tecido é que vamos ter a certeza da endometriose”, explica Ricardo Alves Pereira.

Tratamento

A endometriose se manifesta a partir da adolescência até a menopausa. A lesão, uma vez formada, nunca mais desaparece, somente quando é retirada cirurgicamente. Os sintomas são tratados com medicamentos, às vezes utilizando drogas que bloqueiam os hormônios e anti-inflamatórios.

A doença é a principal causa de infertilidade feminina, porém o médico salienta que nem sempre uma mulher que tenha endometriose será infértil. A cirurgia é realizada por laparoscopia. “Em geral, quando a endometriose não causou deformidades nas trompas, não causou alteração na reserva do ovário, a paciente tem uma boa chance de conseguir engravidar de forma espontânea. Porém, existem casos em que somente com um tratamento a mulher conseguirá engravidar”, explica o médico. Após a cirurgia, a paciente fica sem medicamento (menstruando normalmente) para que o médico possa acompanhar a evolução do tratamento. Também é realizado um acompanhamento durante três meses, com exames como ultrassom.

 

Serviço:

Dr. Ricardo Alves Mendes Pereira

• Diretor do Centro de Endometriose Santa Joana, em São Paulo.
• Médico do Hospital Israelita Albert Einstein – São Paulo.
• Médico do Hospital Evangélico de Londrina (PR).
• ** Agradecimento: Lucas Costa Milanez (captação da imagem e edição)