Por Elisiê Peixoto
“Precisamos ser menos dramáticos e mais ágeis, mais práticos, mais positivos, mais agradecidos. E os problemas vão continuar porque a vida surra qualquer um, de alguma forma.”
Na semana que passou eu estava entrando no supermercado quando um jovem me abordou com educação e uma certa timidez. Pediu-me desculpas e emendou: “Não quero dinheiro, apenas preciso da sua ajuda”. É óbvio que parei para escutá-lo. Ali na minha frente estava um homem na faixa dos 40 anos, trajando uma calça e uma camisa simples, um par de chinelos, cabisbaixo, barba por fazer, me pedindo uma lata de leite em pó para o filho. Relatou que estava desempregado há um ano e com dois filhos pequenos para manter. Pedi que me aguardasse, que iria comprar. Entrei no mercado, corri até as gôndolas e comprei duas latas e alguns biscoitos para entregar ao homem, visivelmente cansado e um tanto envergonhado. Ao voltar pra casa, depois de ter abastecido a minha despensa, pensei: “Aquele homem vive uma realidade mais comum do que imagino e eu reclamo de barriga cheia, sem fazer absolutamente nada para ajudar a mudar essa realidade”. E na rotina da vida costumamos agir assim. Reclamar das mínimas coisas, da chuva, do sol, do trânsito, da falta de tempo, do dia corrido, da comida mal temperada, do restaurante cheio, da fila do banco, do patrão que cobra demais e do funcionário que faz de menos. Por que estamos insatisfeitos, quando poderíamos encontrar alegria nas mínimas coisas e observar situações muito piores que a nossa? Permaneci com a imagem daquele homem na minha mente durante dias. Recordo-me que, ao entregar as latas de leite em pó, ele ficou tão comovido e agradecido que acabei ficando muito constrangida. Afinal, não fiz nada demais,
nada que me causasse algum desconforto ou que me pesasse no bolso.
Percebi que tenho muito e que não reconheço isso e que situações assim são corriqueiras e demonstram a fragilidade humana tão próxima de nós. A gente não enxerga isso por conta dos problemas pessoais e de forma egoísta, porque os nossos problemas são sempre os maiores sob o nosso ponto de vista. Meu pai falava que, ao achar que os nossos problemas seriam os mais
complicados e insolúveis, bastava sentar-se ao lado de qualquer pessoa e perguntar: “Como está a sua vida?” Certamente alguém teria ou terá uma dificuldade muito maior que a sua. Aquele homem do supermercado acabou me dando um “chacoalhão” que me envergonhou. Ajudar o próximo, escutá-lo, ampará-lo, faz bem. E nos faz enxergar o outro lado da margem. A vida parece que vai nos tornando insensíveis diante dos problemas sociais, não queremos nos comprometer e os mínimos problemas pessoais são motivos de lamúrias e reclamações infinitas. Precisamos ser menos dramáticos e mais ágeis, mais práticos, mais positivos, mais agradecidos. E os problemas vão continuar porque a vida surra qualquer um, de alguma forma. Talvez a melhor forma de sobrevivência e de se manter feliz, em primeiro lugar, é reconhecer o que temos, por quem estamos cercados, e de quantas batalhas saímos inteiros e fortes. E aprender a valorizar o nosso jardim, apesar de
sempre achar que a grama do vizinho é mais bonita do que a nossa. Acredite, não é.
Teresinha Rosa diz
Excelente Elisiê ! Aprender a valorizar a vida e agradecer a Deus pelas grandes e pequenas coisas!
Abraço!
Solange diz
Tá lindo, Elisiê. É isso mesmo.Gostei da “vida surra”…
Regina Aranda diz
Adorei,minha querida.Essa é a realidade de muitos e a’ nos,cabe fazer algo para minimizar o sofrimento do proximo.Quanto a reclamar,aprendi a agradecer mesmo quando estou sendo “surrada”.Dou valor as minimas coisas e Deus nao me falta.Gratidao por cpt esse lindo e verdadeiro texto.Bjs😘
neusa pinto diz
Amei ! Mais uma vez ,como sempre , sábio texto ! PARABÉNS !!!!!
Monica diz
Adorei o texto, Eliziê!!! Sábias e verdadeiras palavras …Beijos e saudades!