Por Elisiê Peixoto
“E o melhor barulho era o da chave abrindo a porta, na madrugada, quando chegavam sãos e salvos em casa. Depois começam os estudos, aulas de inglês, de natação, de balé, e a gente renuncia a nossa suada poupança para aquela viagem tão sonhada. O carro vai ficando velho na garagem, a reforma da casa é adiada, vamos comprando menos pra nós e
mais pra eles. Sonhamos com uma boa faculdade para os filhos, uma vida sempre melhor que a nossa. E a fase que dá menos trabalho não chega, apenas muda de foco.”
Tive uma mãe jovem porque se casou aos 17 anos e me ganhou com 18 anos. Vaidosa, dona Norma se cuidava e algumas vezes surpreendeu as pessoas por ser a minha mãe. Sempre me intrigou como ela cuidou de mim, sozinha, inexperiente, sem os recursos que hoje temos, desde as abençoadas escolas maternais, internet e celulares, e tudo que facilita a vida das mães atuais. Sou de uma geração que já tinha mais facilidades, tanto que continuei trabalhando ativamente mesmo quando me tornei mãe depois dos 20 anos e numa fase profissional em ascendência. Mas, ainda assim, precisei fazer renúncias e abrir mão de algumas coisas para gerar, ter, criar e manter os filhos. Mãe nunca reclama, ou, se reclama, depois se arrepende. Dona Norma dizia que toda mãe sempre espera que a próxima fase do filho vai ser menos trabalhosa. Mas que eu me preparasse, porque essa fase nunca chegaria. E que filho era para a vida toda, tivesse 5 ou 50 anos. E que essa história de que damos asas para eles pousarem donos dos próprios ninhos era conversa fiada.
Isso não existe, porque mãe não tem pausa, a gente sempre está com a cabeça neles. Quando os filhos são crianças, nossas preocupações são umas. Quando adolescentes, são outras. Quando adultos, formados, casados ou solteiros, quando se tornam pais, quando envelhecem, são outros problemas diferentes. Só muda o tipo de preocupação. Lembro-me de que, com os filhos pequenos, precisei abrir mão de algo que sempre foi vital para mim, o sono. Eles dormiam pouco (e a Roberta foi campeã neste quesito), e assim passei noites intermináveis em claro. Isso não seria um problema, se eu não precisasse trabalhar no dia seguinte. Depois continuei sem dormir quando eram adolescentes. E o melhor barulho era o da chave abrindo a porta, na madrugada, quando chegavam sãos e salvos em casa. Depois começam os estudos, aulas de inglês, de natação, de balé, e a gente renuncia a nossa suada poupança para aquela viagem tão sonhada. O carro vai ficando velho na garagem, a reforma da casa é adiada, vamos comprando menos para nós e mais pra eles. Sonhamos com uma boa faculdade para os filhos, uma vida sempre melhor que a nossa. E a fase melhor e que dá menos trabalho não chega, apenas muda de foco. Eu acho que a mãe nunca tem pausa ou, se tem, certamente não é no coração e na mente. Estamos sempre pensando neles, se estão precisando de alguma coisa ou se falhamos em algo. Tenho uma filha casada e um filho morando fora. Quando acordo, o primeiro pensamento é neles. Se demoram para responder o whatsapp, cismo que aconteceu algo. Se vão ao médico por algum motivo, minha preocupação é a mesma de quando os levava ao pediatra. Se estão tristes ou frustrados, não vejo graça em nada. Mas, se estão felizes, meu coração exulta de alegria, comemoro cada vitória. Se precisam de ajuda, dou o colo porque sei que sou o porto seguro. Porque mãe é assim, não porque sou melhor ou pior. Porque sou mãe como vocês. Ontem resolvi fazer uma faxina no armário em que guardo fotos, recortes, álbuns, coisas de décadas e décadas. Naqueles álbuns amarelados e tão distantes das fotos digitalizadas de hoje, encontrei-me na Roberta e no Fernando, pequenos, crianças, tão dependentes de mim. Encontrei-me nas festinhas quando eu os levava e ia buscar de carro madrugada afora. Encontrei-me na foto com a minha mãe segurando ambos no colo, encontrei-me na formatura do Fernando e no casamento da Roberta. Estou lá, presente sempre. Assim como a minha mãe continua por aqui, nos detalhes da minha casa, no colar de pérolas que herdei, no jogo de chá de Limoges e no quadro assinado por Villar, datado de 1957, e que ela tinha o maior apreço (e que herdou da minha avó). Dona Norma dizia: “Elisiê, um dia o jogo de porcelana será da Roberta e o quadro do Fernando”. Serão sim, mãe. De alguma forma sempre estaremos juntas. Acredito que nunca desatei dela e ela nunca desatou de mim. E isso começa lá atrás, na minha e na sua vida, quando somos escolhidas para ser mãe e filha.
Feliz dia, semana, mês e uma vida inteira como mães!
Revisão de textos: Jackson Liasch (fone (43) 9 9944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com)
Cidinha Prandini Pereira diz
Como sempre… excelente texto!!! Traduz muito bem o ser mãe! Só faltou arrematar como q ouvi de uma amiga qdo me tornei mãe: “ser mãe é perder o sossego para o resto da vida!” Mas, bendita felicidade! E os netinhos, então? Aguarde!!!!
Sandra diz
Coisa mais lindaaaaa de texto !!!Um primor…como amor de mãe!!!❤Simmm, nossos pensamentos são p eles, logo cedo e tbém.nossas orações !!! Sou um mãe realizada e tive uma Mãe maravilhosa !!!Sou muito grata à Deus por isso !!!Parabéns minha amiga pelo texto comovente e pela mãe especial q vc é !!! Feliz Dia das Mães p todas !!! ❤🌷❤🌷❤
Silvia Villarinhos Landgraf diz
Amei seu texto, Elisiê.
Profundo e verdadeiro..
O barulho da chave abrindo a porta de casa é o melhor sim do mundo. Parabéns.
Ana Luisa Cintra diz
Parabéns a todas as mães!! E a vc Elisie, pelo talento e habilidade de escrever de forma tão verdadeira, leve e agradável de ler!! Sou muito feliz e realizada por ser mãe e por ter a graça e a bênção de ter tido uma mãe maravilhosa!
neusa pinto diz
Tô aqui ,chorando e me lembrando da Dna Alzira ,como vc da inesquecível e apaixonante Dna Norma ! Como é bom ter essas recordações ! E,por + que um dia dissemos ,não vou repetir isso ou aquilo que ela fazia, me pego tal e qual ….rsrsrs
Temos ,nelas , um exemplo a ser seguido e espero estar seguindo direitinho …rsrsrs
O que falar dessas bençãos em nossas vidas ,nossos filhos ? Casam ,mudam,nos dão netos e….continuam sendo as cças que sempre protegemos e demos colo !
É !!!!!! mãe não tem pausa !
Bjos !
Como ,sempre ,maravilhoso texto ! Parabéns !
Não só eu ,mas tdas as mães se identificaram com ele !