Por Claudia Costa e Elisiê Peixoto
Atraídos pela diversidade das cores, pelo clima tropical, pela natureza harmoniosa, pela beleza natural, muitos orientais trocaram o seu país de origem pelo Brasil. Aqui permaneceram, constituíram família, escolheram suas profissões. Entre elas, as artes plásticas. São nisseis, sanseis, chineses, que unem a habilidade e a paciência de seus ancestrais com o talento revelado em telas e esculturas. O resultado é sempre surpreendente!
Considerada uma das mais antigas e perfeitas do mundo, a pintura japonesa é reconhecidamente expressiva, requintada e admirada. Quem conhece encanta-se pela variedade de estilos e gêneros, pela sintonia de riscos, pinceladas e cores, pela delicadeza e veracidade que essa arte reflete. Creio que essa perfeição decorre da própria natureza dos orientais, que são detalhistas, pacienciosos, habilidosos e dedicados, marcas registradas de seus ancestrais.
Pintores japoneses e naturalizados brasileiros deixaram ou irão deixar um legado de arte que está no acervo de museus, exposições e grandes colecionadores. Por que não falar de Manabu Mabe e Tomie Ohtake, como exemplo? Além de artistas orientais excepcionais que fizeram do Brasil o seu segundo lar, ou até os nikkeis, que estabeleceram uma união de respeito e amor entre o Brasil e o Japão. São artistas espalhados por diversos cantos do País, que conservam as tradições milenares, mantêm a cultura e a educação nipônica e que, de alguma forma, as expressam nas telas, através das tintas e pincéis.
Em Londrina, contamos com quatro artistas plásticos expressivos, que há muitos anos deixam os rastros de uma explosão de cores e traços em diversos locais da cidade. São nomes expressivos, tanto em Londrina como em outros Estados e países: Carlos Sato, Regina Menezes, Carlos Kubo e David Wang. O Portal Ideia Delas conversou com cada um deles, que relembrou a trajetória de sua vida pessoal e artística.
Carlos Sato é londrinense, autodidata, e trabalha em vários segmentos das artes visuais, como design, fotografia, cenografia, ambientação, esculturas, telas. Tem inúmeras obras espalhadas em exposições e salões de arte de todo o País, realizou trabalhos em parceria com arquitetos e decoradores, e há dez anos fundou a F Sato Design & Project, que atua na área de design gráfico, marketing e desenvolvimento de produtos. Por alguns anos se afastou da cidade, em busca do sossego da fazenda, onde apenas aumentou sua admiração por cavalos – a propósito, um tema que se tornou sua marca registrada. Lembra-se da sua primeira experiência como artista, ainda adolescente, no colégio. “Era uma tarde, numa aula de educação artística do professor Mario Takahashi, no Colégio Vicente Rijo. A tarefa era realizar um trabalho artístico. Inventei! Peguei um pedaço de tábua de pinho, desenhei, copiei o rosto de uma figura egípcia, entalhei com um formato em ‘V’, usei uma tinta que havia na casa da minha avó Maria. Foi meu primeiro trabalho.” Recentemente, ao participar da Mostra de Artes e Interiores (MAI), realizada em Londrina, Sato teve outro insight, ao produzir um trabalho para o estabelecimento: “Na véspera da inauguração da Mostra, levamos uma obra em metal, posicionamos, alinhamos e fixamos a escultura folheada de cobre. Estávamos nivelando suas asas com laser. Era noite e paramos por um momento, observamos aquelas asas e ficamos fascinados. No final, ela teve seu destaque sozinha e numa parede, fascinando todos os visitantes da mostra que paravam para uma foto. Pensando bem, creio que a sensação que tive ao finalizar as “asas” é a mesma que tive ao terminar a minha tarefa escolar. Uma sensação única de realização e satisfação que todo pintor ou escultor entende”. Como um artista multifacetado, Sato conta que sua diversidade nas artes vem de muito tempo. “Uma vez, na residência da senhora Tomie Ohtake, perguntei a ela e ao seu curador, Paulo Herkenhoff, sobre os rumos do meu trabalho, já que me identificava com tanta coisa. E, após observarem os meus trabalhos, a resposta de ambos foi a mesma: ‘Continue a fazer de tudo!’ É o que tenho feito ao longo da minha trajetória profissional”, finaliza.
https://www.fsatoescritoriodearte.com/
Regina Menezes é maringaense, viveu em Minas Gerais, mas adotou Londrina como a sua cidade do coração e aqui permaneceu. Herdou do pai o talento para as artes, fez jornalismo e cursos com artistas plásticos que admira. Trabalhou em rádio, jornal, revista e televisão, deu aulas, até optar integralmente pelas artes há 20 anos. “Para mim, tudo se conecta em confluência com a arte. Nesse sentido, sei que a experiência acumulada no dia a dia da comunicação alimenta o fazer artístico e me inspira o tempo todo. Minha rotina no ateliê tem sido de muito trabalho, entre pinturas em telas e em papel, esculturas em aço, em pequenos e grandes formatos, e a minha paixão atual é a gravura digital”, conta a artista. Ela também se envolve em projetos paralelos que a seduzem, como ilustração de livros, participação em campanhas sociais e de saúde, experimentações de técnicas diversas, como a criação de bijoux e joias artesanais. “E nas quais me dediquei até estourar meus ombros e pulsos e, por ordens médicas, fui proibida de continuar. Fiz duas cirurgias”, conta. Vivendo um período de luto, após a perda do seu marido, em agosto, a arte tornou-se sua grande aliada. “Creio que foi um chamamento do destino, um encontro verdadeiro que permanecerá enquanto eu viver.” Ela está de mudança para um novo “apê ateliê”, como costuma chamar o seu futuro espaço. “E onde terei prazer de receber os amigos e clientes”, conclui.
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Regina Menezes, maringaense que morou em BH e adotou Londrina por opção e pelo coração.
Carlos Kubo nasceu em Lins (SP), em 1949, mas residiu em São Paulo com a família por muitos anos. Está em Londrina há quatro anos e meio e optou por uma cidade menor em busca de qualidade de vida. Mesmo tendo pais japoneses, Kubo considera-se um típico brasileiro. Seus trabalhos retratam isso, uma perfeita harmonia entre as suas raízes japonesas e a experiência de vida no Brasil. Para ele, a importância desses dois mundos distintos apenas acrescenta na sua sensibilidade tão bem refletida na pintura. “Entendo que a arte não tem fronteiras, existe uma harmonia e equilíbrio. Assim, é quase impossível distinguir uma linha divisória entre o Ocidente e Oriente”, comenta o artista, com mais de 40 anos de profissão. Em Londrina, onde tem seu ateliê, Kubo tem suas obras nas quais é possível observar o uso da transparência, do contínuo movimento das cores. A espátula tornou-se uma extensão de seus dedos e de seus sentimentos mais profundos. A criação é o motor que impulsiona a sua vida e, enquanto executa um trabalho, ele e a sua obra confundem-se. “Quero aprimorar-me interiormente porque tudo que eu for como ser humano passarei para os meus quadros, afinal são o espelho da minha alma”, reflete o pintor que já participou de centenas de exposições, com obras em acervos particulares tanto dentro como fora do País. Atualmente, Kubo tem se dedicado às esculturas. “Um novo desafio. Sou feliz com o que faço e produzo, sou grato, fiz da pintura a minha vida”, revela o artista que intitulou sua atual série de quadros e esculturas com a palavra “Gratidão”.
http://www.carloskubo.com.br/
David Wang, 53 anos, é chinês, nascido na ilha de Taiwan, mudou-se para o Brasil quando tinha apenas 14 anos, fugindo dos conflitos e de uma possível guerra entre a Ilha e a China. Inicialmente, os Estados Unidos eram o destino da família, mas por dificuldades e pela demora para obter o visto americano acabaram aportando no Brasil. Ele salienta que em Taiwan as crianças são estimuladas a exercer a criatividade desde pequenas. David Wang é um artista dedicado e perfeccionista. Em sua casa ou em seu estúdio está sempre com seus cadernos em que trabalha esboços de algum projeto que deseja realizar. Suas obras foram influenciadas por diversos artistas e estilos que vão dos impressionistas ao barroco e aos clássicos. “Gosto muito de Rembrandt (holandês), Diego Velasques (espanhol), Caravaggio (italiano), mas para mim o mestre dos mestres é o pintor francês Bouquerou”, explica ele. David Wang é um artista plural que transita com muita criatividade e desenvoltura em diversas áreas: pintura, esculturas, desenhos, gravuras, vitrais, dentre outras. David Wang estudou na Escola Pan-Americana de Artes, de São Paulo, onde aprendeu muito sobre técnicas, e cursou Artes Plásticas na conceituada Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), também na capital paulista. Suas obras são de uma beleza singular, com muitas cores e traços marcantes, e já foram expostas em vários países como EUA, Itália, Argentina, China e Taiwan. O artista diz que o seu processo de criação é bem particular e que sempre escuta música quando está desenvolvendo um trabalho. O ritmo depende do estilo da obra que estiver desenvolvendo. “Não pinto para vender. Eu vendo para pintar. Quando estou criando, estou fazendo aquele trabalho para mim. É um processo de criação, de liberdade e aprendizado. O objetivo é satisfazer uma necessidade e o resultado sempre acaba agradando as pessoas”, explica Wang, que tem muitos admiradores por seu estilo.
https://www.facebook.com/davidwangpen/
“Não pinto para vender. Eu vendo para pintar. Quando estou criando, estou fazendo aquele trabalho para mim”.
Arte da capa Fernando Peixoto
Rozangela Ortiz diz
Que linda amiga essa matéria sobre esses talentos em Londrina, eu mesma não resisti aquelas asas q estavam expostas no MAI, realmente londrina tem muitos artista bons. Excelente matéria, como sempre Elisiê vc arrasa na suas matérias. Sucesso !
Ana Lucia diz
Adorei a matéria !! Gente talentosa, trabalhos maravilhosos e melhor, em Londrina. Parabéns!