Por Elisiê Peixoto
Provavelmente você já deve ter escutado testemunhos de fé, histórias de superação, relatos de experiências incríveis. Ou, quem sabe, foi o protagonista de alguma dessas situações. A verdade é que, ao se ter um objetivo com ousadia e perseverança, tudo é possível. O Portal IDEIA DELAS conversou com três personagens que enfrentaram dissabores, obstáculos, dificuldades para alcançarem o topo da montanha. Escalaram com fé, intrepidez e acreditaram em si mesmas. Não desistiram, não desanimaram e finalmente viram sonhos concretizados. Vamos conhecer as histórias de Enrique Molina, Luis Claudio Galhardi e Dolores Martins Cardoso.
Com o pé na estrada
Enrique Molina tem 56 anos, nasceu em Buenos Aires e está no Brasil desde 2004, quando conheceu a sua esposa Tatjana Videira. Aqui se casaram, é professor de espanhol, formado em Ciências Políticas e Relações Internacionais. Sua história é incomum e certamente renderia um livro. Enrique conta que tem um amigo de muitos anos, desde a pré-adolescência, Ricardo Ramos, e que aos 38 anos teve leucemia. Sua história começa exatamente nesse período. “Éramos muito amigos e eu, vendo ele doente, magro, sendo preparado para um transplante de medula, fiz uma promessa a Deus para vê-lo curado e restabelecido. Foi quando prometi fazer um percurso a pé pelo Uruguai, dando testemunho de fé e perseverança. Em abril de 2001 fui para Montevidéu, analisei mapas, pesquisei em bibliotecas, busquei informações de onde ficar, preparei-me financeiramente e finalmente no dia 1º de junho de 2001 coloquei o pé na estrada”, recorda.
Desafios diários
Ele começou a subir por uma determinada região, a passar por diversas cidades, dormia em postos de gasolina, buscava ajuda nas igrejas e em troca se oferecia para trabalhos manuais e voluntários. “Eu nunca pedi dinheiro. E todas as vezes que recebi uma ajuda, procurava retribuir com trabalho. Eu caminhava horas e horas, de uma cidade para outra, dormia a céu aberto, carregava a minha mochila e nada me impedia de continuar, nem sol, nem chuva, nem frio. Eu estava decidido a terminar a minha jornada. Cheguei à cidade de Rivera, que fica no limite de Santana do Livramento (RS), continuei minha viagem, sempre apoiado por pessoas boas de alguma comunidade que me alimentavam. Num certo momento cheguei a ser hospitalizado e, depois de curado, continuei. Quando saí de Montevidéu estava com 102 quilos, quando terminei a viagem, em dezembro de 2002, pesava 73 quilos.”
Roteiro
O viajante fez 3.384 quilômetros a pé, andava cerca de 70 quilômetros por dia. Ele visitou os Estados: Minas, em Lavalleja, Treinta y Tres, Cerro Largo, Tacuarembó, Rivera, Salto, Paysandú, Rio Negro, Soriano, Colonia, San José, Canelones, Rocha, novamente Treinta y Tres, Durazno, Tacuarembó, Flores, Florida e novamente Canelones para regressar a Montevidéu.
Uma jornada vitoriosa
Acabou se tornando uma figura pública e foi apoiado pela rede McDonald’s, após uma reportagem numa das cidades em que passou. “As pessoas me viram na publicação e perguntavam: ‘Você é Enrique, o argentino?’ Isso me ajudou demais. O McDonald’s me forneceu saquinhos com leite em pó e açúcar para a minha viagem e foi de grande valor. Eu parava nos lugares, pegava água quente, misturava e tomava. Também fizeram outra matéria comigo num programa de rádio com bastante audiência em Montevidéu. Isso me abriu portas, ganhei tênis da Nike, Adidas, produtos esportivos, mochila nova, óculos, e recebi de uma rede internacional de hotéis o oferecimento deles para pernoitar, o que foi de grande valia para o restante da minha jornada. Durante todo o meu percurso conheci pessoas incríveis, trabalhei com carentes, compartilhei experiências. Foi um tempo abençoado que me ensinou sobre a humildade e a bondade. E de como a arrogância e a soberba não edificam nada. Somos projetos de Deus e, hoje, sinto-me honrado de ter passado por essa grande experiência que foi um divisor de águas na minha vida.” Enrique Molina é membro e missionário da Igreja Metodista Central de Londrina. Ele faz missão no Panamá, Paraguai e Venezuela, levando o Evangelho de Jesus Cristo.
Observação: Ricardo Ramos fez o transplante em março de 2002 no Hospital Mount Sinai, Nova York, EUA, onde mora com a sua esposa e dois filhos.
Construindo pontes, ligando pessoas
Luis Claudio Galhardi, 57 anos, é engenheiro civil, trabalhou com planejamento de ocupação de solo no litoral paranaense, programa da
Secretaria de Planejamento do Estado do Paraná, foi funcionário, diretor técnico da Construtora Canaã, fundador e sócio proprietário da Construtora Almanary, proprietário da Construtora Galhardi. Numa certa altura da vida, resolveu romper com a profissão para dedicar-se à questão da cultura de paz. E tem feito isso há 18 anos, com excelência e dedicação. Foi coordenador do Movimento pela Paz e Não Violência Londrina Pazeando, de 2000 a 2017, e é presença certa com ações eficazes no que se refere a movimentos pela paz. “Desde 2017 sou o gestor da Ong Londrina Pazeando, secretário do Conselho Municipal de Cultura de Paz de Londrina (Compaz), criado em 2008. Iniciei minha trajetória num momento pessoal muito difícil, vivendo uma separação. Eu já trabalhava no terceiro setor como voluntário, sempre foi algo que me
realizava e eu decidi, efetivamente, fazer algo para ajudar as pessoas. Estava fragilizado e sabia que aquela atitude me edificaria, me faria bem. Era o momento da criação da lei da Primeira Semana da Paz. Peguei essa bandeira e não deixei mais, entrei de cabeça. Costumo dizer que, hoje, continuo sendo engenheiro de alguma forma porque ajudo a construir pontes e a ligar pessoas.”
Londrina Pazeando
Galhardi afirma que infelizmente não existe uma política de cultura de paz no Brasil. “Seguimos as diretrizes da ONU. Infelizmente, no Brasil existe um enorme desperdício de vidas, quando muitas pessoas morrem diariamente, alvo da violência. Tínhamos que ter maior segurança pública aliada à integridade física do cidadão. Como não é possível, procuramos fazer a nossa parte, divulgando a necessidade da construção de uma cultura de paz, da união, de boas ações, essa é a nossa proposta. Procuramos ter ações efetivas e eficazes, trabalhamos para isso. Em Londrina, estamos no décimo abraço pela paz, buscamos a adesão de empresários da cidade, queremos a interação da população, realizamos eventos em bairros, não paramos de trabalhar pela cultura de paz. Você tem que começar por algum lugar, pode ser numa comunidade, na sua cidade, mas é importante fazer algo para tentar mudar essa realidade. A linguagem bélica está presente na vida corriqueira dos nossos filhos, desde o berço, quando interpretamos canções de ninar para eles dormirem, como ‘Boi da cara preta’, ‘O cravo brigou com a rosa’, e por aí afora. Quando vejo crianças com videogames de batalhas e violência, heróis armados, entendo como tudo contribui para a perpetuação da cultura da violência diária dentro da nossa própria casa”, ressalta. O Movimento Pela Paz e Não Violência, o Londrina Pazeando, é uma instituição sem fins lucrativos e com independência administrativa e financeira. Ao longo de sua trajetória tem feito um trabalho admirável, buscando alternativas para a redução da violência.
No site http://www.londrinapazeando.org.br/ é possível ver o expressivo trabalho de voluntários dedicados.
Quando o risco é o milagre
Dolores Martins Cardoso, 35 anos, é formada em Nutrição, dona da Padaria Verde, em Londrina, e, apesar de jovem, já enfrentou grandes batalhas. “Mas saí inteira de todas elas na força de Deus”, revela. No final de 2006, tomando banho, notou um caroço no seio, fez a biópsia, e constatou-se câncer de mama. “Fiz primeiro a quimioterapia, depois a mastectomia, em julho de 2007. Mal terminei as sessões de quimioterapia, e ainda me recuperando da recente cirurgia, descobri que estava grávida. Meu médico e toda a família surtaram porque tinham medo que a agressividade do tratamento pudesse comprometer a gestação e o bebê. Foi um tempo complicado, eu tinha acabado de enfrentar
uma doença grave, era muito arriscado engravidar antes de completar cinco anos da doença por conta de uma recidiva, estava com 25 anos, meu namorado com 27 anos, e nós ainda sem uma estabilidade financeira. Morávamos com nossos pais. Mas casamos! E nosso casamento foi
maravilhoso! O pré-natal seguiu paralelo ao acompanhamento oncológico e após um ano do final de tratamento nasceu nosso filho Miguel, lindo, forte, com quatro quilos, 52 centímetros. Afirmo que foi um grande milagre de Deus devido às circunstâncias.”
Perdas
Após alguns anos e com o filho maior, Dolores passou por dois abortos, quando teve que fazer uma cirurgia de endometriose. “Era algo enorme e que não tinha mais como relevar, operei, e em 2017 engravidei do Samuel. A gestação foi bem acompanhada pela minha médica porque desde o início constatou-se um hematoma muito grande na placenta, foi uma gestação difícil, mas o bebê estava se desenvolvendo muito bem. Tomava todos os cuidados. Infelizmente, ao fazer um ultrassom, quando já estava com quase seis meses de gestação, foi detectada uma perda enorme de líquido amniótico, precisei fazer cesárea às pressas. Ele nasceu vivo e ainda tive a oportunidade de pegá-lo no colo. Quando eu entrei na UTI, seus batimentos aceleraram ao sentir a minha presença. Infelizmente ele não sobreviveu, devido à prematuridade extrema. Fiquei imensamente triste, mas busquei em Deus a força que precisava. E Ele tem me sustentado todos os dias. Nosso anjo Samuel faleceu no começo de 2018”, conta.
Sendo fortalecida
A nutricionista conta que, no dia em que o bebê faleceu, o marido foi à missa e a liturgia era sobre a passagem de 1 Samuel, 3: 10:19, e aquela mensagem foi um consolo. “Meu marido chegou no quarto do hospital e leu pra mim os versículos. Depois daquelas palavras, eu já tinha a certeza que havia chegado a hora dele. O dia que o Senhor chamou Samuel. Nós, como cristãos, entendemos que Ele iria levar meu pequeno filho para junto Dele, era a Sua vontade. Aquilo abrandou o meu coração de uma forma muito grande. Tive a certeza que Jesus estava segurando as minhas mãos. Não questionei, apenas aceitei. Precisei passar por tudo isso, mas sou uma mulher grata, principalmente por sentir e ter a certeza de Deus sempre olhando por nós, não importa o tipo de situação que você está enfrentando. Hoje tenho um grupo da igreja católica ‘Amigos em Deus’, que me fortalece e ensina, todos os dias.”
Da experiência difícil para algo positivo
Dolores e o marido Mário Henrique Cardoso estão à frente do restaurante Padaria Verde, que serve comida saudável, cardápio preparado por ela. “Fiz nutrição por causa da doença que enfrentei. Imaginava trabalhar dentro de algum hospital, ajudar as pessoas. E então a vida foi me guiando para a área de restaurantes e alimentação coletiva. Eu me apaixonei. Logo pensei que poderia ajudar as pessoas da mesma forma, levando saúde através da alimentação que preparamos. Então, toda semana fazemos um menu saudável e muito gostoso. Atendo muitas mulheres que enfrentam quimioterapia, E hoje, muitas vêm almoçar conosco. Sou disposta, trabalho o dia todo, cuido da casa, da família, estou ótima, firme nas promessas do Senhor para a minha vida”. Após a sua experiência com o câncer, a nutricionista lançou um livro “Paz, Amor e Quimioterapias”, em 2012.
Fotos Arquivo Pessoal
Revisão: Jackson Liasch (fone (43) 99944-4848 – e-mail: (jackson.liasch@gmail.com)
Wagner Donadio diz
É sempre ver, ler, saber… sobre historias que nos de forças e esperança. Assim vamos nos apoiando e construindo novas estradas. Parabéns pelo texto.
Ana Lucia diz
Superação e esperança . Pessoas tentando fazer o melhor, uma lição sempre…. parabéns pela linda matéria.
Patty Urizzi diz
Dolores, a Dô, que foi a dama do meu casamento quando tinha uns 7 anos…se transformou numa mulher de valor e garra. Fico feliz de ver a pessoa linda que vc se tornou e a família linda q vc gerou! E vc está certa… Deus sabe de tudo e nos leva para nosso melhor caminho ! Bjo imenso qquer dia vou te ver na padaria!