Por Juliana Barbosa
Quando o carnaval se aproxima, um dos tipos de samba mais ouvidos é o samba de enredo. Embalados pela música, os integrantes das escolas de samba desfilam contando uma história para o público. Além da música, o tema é representado também pelas fantasias, alegorias e coreografias, produzidas por artistas que se dedicam à arte carnavalesca durante o ano todo.
Os bastidores das escolas de samba são um espetáculo à parte. Basta a escola de samba definir o assunto de seu desfile, o que acontece com quase um ano de antecedência, inicia-se uma longa maratona de pesquisa, criação e produção. Nas grandes agremiações cariocas, em todo esse período, textos, imagens, sons e movimentos misturam-se em um rico diálogo de linguagens para representar o tema definido para o carnaval. O samba de enredo é a trilha sonora do espetáculo, e o desafio de seus compositores é musicar, com riqueza poética e melódica, a temática escolhida.
Para embalar os foliões das escolas de samba e explicar a temática do desfile aos espectadores, o samba de enredo é criado a partir da sinopse, que é o roteiro sobre o tema do desfile, elaborado a partir de pesquisas. Martinho da Vila, que criou vários sambas para a Unidos de Vila Isabel, costuma dizer que o compositor tem que se apaixonar pelo enredo e ter muita calma para ‘ruminar’ o tema. Ele acha que se um samba for realmente bom, pode inspirar o carnavalesco a recriar as alegorias e incentivar bons arranjos por parte da bateria.
O samba de enredo é uma coisa tão séria no carnaval que entre todos os quesitos avaliados em um desfile, é o único que sempre esteve submetido ao julgamento. Segundo os pesquisadores Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas, o primeiro regulamento criado com critérios mais rígidos, em 1933, estabeleceu que as escolas seriam julgadas a partir de quatro critérios: a poesia do samba, o enredo, a originalidade e o conjunto. Atualmente, em relação ao samba, os jurados devem avaliar a letra e a melodia, respeitando-se a licença poética. A letra é avaliada a partir da adequação ao enredo, da riqueza poética e do entrosamento de seus versos com os desenhos melódicos. Quanto à melodia devem ser consideradas as características rítmicas próprias do samba, o bom gosto de seus desenhos musicais, bem como a capacidade de sua harmonia musical facilitar o canto e a dança dos foliões na avenida.
O que muita gente não sabe é que para a definição do samba de enredo há um processo de seleção, coordenado pela diretoria de cada agremiação carnavalesca. Durante o concurso, os compositores apresentam seus sambas nos ensaios que acontecem nas quadras das escolas de samba. São várias dezenas de composições concorrentes em cada escola, que vão sendo eliminadas até que se defina a trilha sonora oficial do desfile. No dia da escolha do samba vencedor acontece um dos mais emocionantes eventos nas sedes das escolas de samba, a “Final do Samba”. A partir desse dia, toda a escola tem um só hino, que deve ser aprendido e cantado por todos os integrantes no dia do desfile.
Entre meados da década de 1950 e o fim dos anos 70, muitos sambas de enredo ultrapassaram os limites da avenida e se perpetuaram no cancioneiro popular do país. Foi o auge em termos de sucesso popular. A partir da década seguinte o aspecto visual dos desfiles de carnaval foi se tornando mais sofisticado e chamando mais atenção que os sambas. Mas os sambas dos desfiles carnavalescos ainda encantam as multidões e têm conteúdos históricos e de atualidade muito interessantes de acompanhar. Quem procura ouvi-los com curiosidade acaba se apaixonando e acompanhando sempre com atenção redobrada.
*** A professora doutora Juliana Barbosa é Pesquisadora da cultura do samba e doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina
Iraídes Terra diz
Quando jovem gostei muito de brincar carnaval,hoje não mais.Mas gosto muito de apreciiar as escolas que são fantásticas .
Claudia Costa diz
O Carnaval é uma festa da cultura brasileira. Temos que compartilhar sua história, evolução com todas as gerações.Abraços Iraídes!!