Neste momento de combate ao coronavírus, quando o momento é de insegurança e ansiedade, quando todos estão reclusos em suas casas aguardando melhores notícias, as ações solidárias começam a se manifestar, tornaram-se uma das principais armas contra a pandemia. As pessoas estão mais emotivas, mais sensíveis e solidárias. Voluntários de todas as idades e classes sociais unem-se para ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade social, idosos —mais suscetíveis a complicações da Covid-19. A internet tem sido uma grande aliada nas ações. Através de whatsaps, pessoas estão contribuindo com doações, trocando ideias, levantando voluntários, buscando recursos, ensinando a fazer e contribuindo de forma expressiva.Vamos acompanhar algumas ações que partem de cidadãos e instituições. Todos unidos e de mãos dadas para que a maior crise de saúde do mundo seja superada!
Por Elisiê Peixoto
Todos juntos somos fortes
Celita Salmaso Trelha, fisioterapeuta, professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), mestre em Saúde Coletiva e doutora em Ciências da Saúde, residente em Londrina, Paraná.
“Desde criança, admirava ver a minha mãe – apesar de ser de uma família simples – colhendo frutas e legumes que ela mesmo plantava, e toda semana levava para famílias mais necessitadas. Essas lembranças são muito marcantes em minha vida, e foi um dos motivos pelos quais escolhi a área da saúde, para efetivamente ajudar a vida das pessoas. Tem sido um aprendizado poder trabalhar com áreas e temática diferentes da minha e de forma integrada. Sou muito grata pela oportunidade de poder contribuir e ao mesmo tempo contar com o apoio de todos”, explica Celita Salmaso Trelha, que integra a equipe de uma ampla ação solidária.
“Começamos a ação observando a necessidade de soluções para proteção dos profissionais de saúde frente à pandemia do Covid-19. Assim foi criado em Londrina um grupo com alguns impressores 3D, entre pessoas físicas, empresas e entidades nas redes sociais, eu e meu marido. Ele, por ser diretor de Ciência e Tecnologia da Codel, e eu, por ser da área da saúde, enxergamos que podíamos colaborar. Sou profissional da saúde e acredito que precisamos também cuidar de quem cuida. Iniciou-se esta ação para elaboração de face shield, máscara que oferece proteção facial, evitando o contato com gotículas, saliva e fluidos nasais que possam atingir o rosto, nariz, boca e olhos. O protetor é transparente e reutilizável. O equipamento é composto de um suporte, elástico de fixação e visor de acetato ou PETG. O suporte está sendo impresso em impressoras 3D, com apoio de pessoas, empresas e instituições. Conseguimos doações de filamentos, elásticos e acetato e PETG”, explica a professora.
Da ação participam cerca de 100 pessoas, entre impressores 3D, professores, estudantes e pós-graduandos do Curso de Fisioterapia da UEL, professoras do Curso de Design de Moda da UEL, pessoas voluntárias, empresas, instituições, como a CODEL que articulou o processo. “Também a Penitenciária Estadual de Londrina está fazendo a costura do elástico e irá colaborar na montagem. E a Reitoria da UEL colaborou na aquisição de compra de parte de materiais de filamento e PETG. Até o momento confeccionamos cerca de 1.000 face shields e a meta é chegar a 2.000, para atender a demanda do Hospital Universitário da UEL (HU-UEL) que é o hospital de referência para o enfrentamento da pandemia. O grupo de impressores 3D trabalhou intensamente na elaboração de um modelo para o suporte da máscara, buscamos validar esse modelo junto à diretoria do HU-UEL, atendendo às regulamentações. E na sequência padronizar o modelo a ser produzido, entramos em contato com professores do Curso de Design de Moda da UEL e melhoramos a forma de fixação do elástico na máscara, montamos uma linha de montagem da face shields com professores e residentes do Curso de Fisioterapia da UEL. Também temos voluntários envolvidos na coleta dos suportes”, completa.
Ação solidária nos condomínios
Katia Hidemi Morioka Koyashiki, aposentada do Banco do Brasil, trabalha com costura criativa, Patchwork, residente em Londrina, Paraná.
“Fizemos uma grande campanha das vizinhas do Condomínio Alphaville2, em Londrina, para confeccionarmos máscaras de tecido para doação, para proteção e combate contra esse novo coronovirus, o COVID-19. Por sugestão da Teresa, minha amiga e costureira, iniciamos a confeccionar mascaras. Foi inspirado no projeto da Rose Petrus, que me passou todas as dicas de como confeccionar e forneceu moldes via WhatsApp. Logo percebi que apenas nós duas não íamos conseguir produzir a quantidade necessária. Tive a ideia de colocar no grupo das vizinhas, explicando e solicitando doação de materiais porque as lojas estavam fechadas. Deixei uma caixa em frente a minha casa, e logo começaram as doações de elásticos, tecidos, linha, saquinhos plásticos para a confecção e embalagem das máscaras”, conta Katia.
Ela completa: “Perguntei se alguém podia auxiliar, e para minha surpresa houve adesão de muitas voluntárias, inclusive até vizinhas de outros condomínios e da Gleba Palhano. Quem não sabia costurar, oferecia-se para lavar e embalar, outras para cortar os tecidos, elástico, e ainda outras com doação de recursos. E quando vimos, em pouco tempo já tínhamos produzidas e doado muitas mascaras. Fruto da dedicação, e solidariedade. Ressalto que a Multitex e a Bentos Patchwork também doaram tecidos para o nosso projeto. No total foram doadas aproximadamente mil máscaras e cinco litros de álcool gel. A doação foi para as equipes de Assistência Social da Prefeitura de Londrina, da Assistência aos Moradores de Rua, dos Catadores de Papel, Casas de Apoio e do Acolhimento, ao ILECE, ao Lar Anália Franco, para a Cooperativa de Lixo reciclável, Casa do Caminho, Creche Santa Fe, Asilos, fisioterapeutas, cuidadores de pessoas idosas, e outros. Nosso trabalho consiste na luta contra a disseminação do COVID.19. Acreditamos que qualquer proteção é importante, as máscaras impedem a transmissão para outras pessoas, principalmente quando estão na fase assintomáticas. Tanto é que, o Ministério da Saúde recomendou a utilização da máscara de tecido, para que não utilizemos as máscaras cirúrgicas que devem ser reservadas para quem atua na área da saúde ou com suspeita de estar com o coronavirus.”.
Para Kátia, o trabalho está sendo muito gratificante. “Porque estarmos fazendo a nossa parte para lutar contra este inimigo invisível, o COVID.19! E mais, houve uma energia muito grande, conseguimos conhecer melhor as vizinhas, sem contatos, apenas pelo WhatsApp. E também conseguimos envolver marido, mães com mais de 80 anos se sentindo uteis, participando, filhos, marido, todos auxiliando, aproveitando a quarentena. Tudo que fizemos foi sem abraços, beijos, mas com muito amor”, finaliza.
Fazem parte do grupo de voluntárias Karime, Patricia Vizis, Valeri Vizis, Andrea Name, Angelica Sato, Edna Junco, ELma Vizis, Fernanda Louv. Marcia Cubas,Maria Lucia, Maria Nakamura, Silmeia, Siomara, Erica Santos, Renilda Acosta, Salete Abrao, Gisela, além de varias colaboradoras do Condomínio Alphaville2.
Exemplo de voluntários
Deborah Bassoli, empresária, e Valtemir Soares Jr, jornalista, ambos moradores em Curitiba, Paraná.
“Desde o início da pandemia, há semanas, estamos cozinhando para os moradores de rua que não são atendidos por outros grupos solidários que já atuam em Curitiba. Além disso, temos a preocupação de levar itens de higiene para essas pessoas e passar as orientações básicas sobre limpeza. Somos em seis amigos no total. Além de nós, participam Daniel Snege, Caetano Bassoli, Alexandra Tsubota e Lucélia Bobek. Estamos atendendo uma média de 100 pessoas por ação – num total de 200 semanalmente – e estamos trabalhando para aumentar esse número. Para isso, seria muito importante receber novas doações”, ressalta a empresária.
Eles explicam como é feita a ação: “São duas vezes por semana, segundas e quintas, com almoço servido em embalagem térmica, acompanhado de água mineral, duas frutas e o kit de higiene (sabonete e papel higiênico), comenta Deborah. “O trabalho tem três etapas básicas: conseguir as doações, principalmente em dinheiro, pois a ideia é fazer uma corrente solidária comprando os itens nos comércios de bairro e, assim, ajudar a movimentar os negócios de pequenos comerciantes. Depois o preparo das refeições nas duas vezes semanais e depois a entrega dos almoços”, ambos destacam.
“Para nós do grupo, o momento atual requer mobilização para levar um pouco de apoio àqueles que nada tem. É uma questão de solidariedade e humanismo diante dessa pandemia que atinge a todos sem distinção, estando mais vulnerável essa população de rua. Queremos fazer desta ação uma atividade permanente e atingir o maior número de pessoas possível. Ou seja, mesmo depois que a pandemia passar, o objetivo é dar prosseguimento no trabalho, pois, como dizia a campanha do Betinho: Fome, não dá para esquecer”, conclui Valtemir.
Ajudando ao próximo
Soraya Ayoub Franzon, arquiteta/ designer de moda, residente em Londrina, Paraná.
“Fui contatada por Cristiane Cordeiro, diretora de Planejamento e Integração Acadêmica, da Universidade Estadual de Londrina. Ela me convidou para participar de uma ação solidária. Sou designer de moda e pude contribuir. Confeccionamos o protótipo que seguiu junto com a modelagem para uma empresa que fez o corte e outra que confeccionou em Apucarana (PR). Foram feitas 4 mil peças em TNT. O grupo continua confeccionando a face shields que são feitas por etapas porque as impressoras não fazem muitas por dia, são vários voluntários que ficam recolhendo conforme vão ficando prontas. Depois são levadas para a colocação do elástico e por último o acetato”, explica Soraya.
Fotos: arquivo pessoal
Miguel Abrão diz
Parabéns pelo Espírito solidário e responsável de todos envolvidos nestas importantes ações sociais. Fiquei feliz ao ver minha esposa e outras pessoas dispostas e dedicadas a ação de produzir mascaras de proteção. A Salete Abrão faz com muito carinho este belo gesto de amor ao proximo.Deus abençoe a todas.
Valtemir Soares diz
Em primeiro lugar, parabéns a todos os voluntários que são retratados aqui nessa reportagem e também a centenas e centenas de outros que estão em diferentes cidades do Brasil indo para a linha de frente fazer a diferença. Temos um poder público ineficaz e, se queremos um país mais igual, isso começa por cada cidadão mudando o seu entorno. Em segundo lugar, os nossos agradecimentos do grupo Em Ação ao site por abrir espaço para contar a nossa história. Abraço a todos e que consigamos vencer esse momento difícil da melhor forma possível