Por Claudia Costa
Parece uma dança em que a harmonia do vaivém das agulhas dita os ritmos dos pontos trançados que transformam simples fios em lindas peças. Quem observa uma pessoa fazendo tricô e/ou crochê sabe como do “nada” as hábeis mãos e agulhas se enamoram e dão vida a peças de vestuário, enfeites, roupas de cama, mesa e banho.
Desde o tempo da vovó, o trabalho manual nunca saiu de moda. Invejo as pessoas que conseguem colocar em prática e criar belas peças de tricô e crochê. O fato de eu ser canhota nunca me facilitou esse aprendizado. Desisti, o máximo que consigo fazer é bordar. Minha mãe foi uma bordadeira de mão cheia (hoje já não enxerga o suficiente) que usava dedal para proteger os dedos. Essa é uma cena que sempre lembrarei. Hoje, a maioria das pessoas nem conhece esse artefato. Ando nostálgica, mas voltemos à matéria…
Historiadores acreditam que o tricô nasceu no Mediterrâneo e se espalhou pela Europa e para os demais países. As peças mais antigas que existem foram descobertas no Egito e são de 1200 d.C. O tricô era feito pelos homens, enquanto as mulheres se incumbiam de produzir o fio com a roca de fiar. Os mais famosos tipos de tricô vêm das Ilhas Britânicas (Ilha Jersey, Fair, Ilhas Aran, Ilhas Shetland). Apesar de as ilhas serem próximas umas das outras, cada população desenvolveu sua característica própria e marcante de tricotar.
Mais que um trabalho, uma paixão
A empresária Ana Paula Farias, 44 anos, do Espaço e Arte Artesanato, explica que aprendeu a fazer tricô e crochê aos 10 anos com sua avó paterna. Ela trabalha desde os 18 anos com artesanato, produzindo peças com pinturas, bordados, crochê, tricô e patchwork. Há seis anos, Ana Paula abriu o próprio negócio que vai de vento em popa. Ela é uma apaixonada por artesanato e em sua loja, além dos artigos para produzir as peças, as clientes participam de cursos e até se encontram para um chá da tarde. “O artesanato é mais que um remédio para algumas pessoas. Eu tinha uma cliente que estava com depressão e, depois que começou a tecer suas peças, melhorou e acabou sarando”, diz entusiasmada. Segundo Ana Paula, algumas peças são mais trabalhadas e demoram até semanas para ficar prontas, outras em dois a três dias são concluídas. “A pessoa precisa ser persistente, ter determinação e vontade. Sempre valerá a pena.”
Em uma manhã de sábado ensolarado, a professora Suely Beggiato, da Duas Arteiras, empresa que mantém com a filha Isabela, ministra curso de Amigurumi na loja Arte e Cor, que promove cursos e comercializa produtos no segmento de artesanato e aviamentos. Lá as amigas Tereza Pinheiro, Crystiane Ursi, Alice Nabeshima Hara, Mônica Galindo e Enoi Izumi estão reunidas para aprender com a professora Suely a arte de confeccionar o Amigurumi, a técnica japonesa para criar pequenos bonecos feitos de crochê ou tricô. Uma delícia ver a reunião dessas mulheres, que atuam em diversas áreas profissionais, mas que se dão o direito de tricotar, literalmente. Saudades de uma época em que tínhamos menos pressa e coser (juntar com pontos feitos com agulha e qualquer tipo de linha, fio etc.; costurar) uma roupa e um enfeite era algo tão comum.
Iria Eyko Nonaca, 51 anos, é a proprietária da empresa Arte e Cor. Ela aprendeu aos 8 anos com sua mãe, dona Linda, a tricotar e começou seu negócio com a amiga Júlia Hansen em 1986, como hobby, na feira do produtor, quando surgiram algumas encomendas. Em 2001, após o nascimento da filha Izabella, resolveu investir e montar sua empresa. Hoje, a Arte e Cor é uma conceituada loja no ramo de artesanato e o seu espaço acolhedor faz com que as alunas se sintam em casa. A receita do sucesso tem uma certa dose da disciplina oriental. “Fazer com muito zelo e dedicação, tendo um ótimo acabamento, e sempre tentando fazer o melhor de cada peça, que acaba se destacando entre as outras”, explica Iria Nonaca.
A jornalista e publicitária Ursula Poli, 52 anos, moradora de Curitiba, também aprendeu a fazer tricô e crochê com as avós, Elsa e Ilda. “No início, minhas produções viravam mantinhas para minhas bonecas”, explica ela.
Desde a adolescência, Ursula confecciona peças de crochê. “Eu morava em Cornélio Procópio, interior do Paraná, e lá não havia muitas opções em blusas de lã e linha. E as peças industrializadas eram muito caras. Como eu gostava de tricotar, fazia as contas e percebia que, com o preço de uma comprada em loja, conseguia fazer duas para mim. E exclusivas. Adorava tricotar as com motivo em jaquard (desenhos que vão formando a figura que a gente quer com a mudança de cores). E, como na época as referências eram muito escassas – não existia internet – eu mesma criava as minhas, a partir das cores das lãs que encontrava nas lojas de armarinhos. Fazia para mim e para minha família ou amigos que me pediam. O valor da mão de obra era o mesmo do pago pelas lãs”, diz ela.
Ursula teve que dar um tempo nas agulhas porque desenvolveu uma tendinite por causa do tricô e da profissão. Em 2007, depois de várias tentativas e graças à indicação de uma amiga, começou a desvendar o mistério do Amigurumi e se apaixonou pela técnica. “Minha alegria em superar esse desafio foi tão grande que publiquei no facebook meu primeiro trabalho. Daí as pessoas começaram a me pedir para fazer para elas e dei início a essa atividade”, diz ela, explicando que se dedica nos finais de semana e à noite às produções das peças.
Ursula Poli dá uma dica para quem deseja aprender a fazer trabalhos manuais. “Como em toda atividade, em primeiro lugar precisa amar o que vai fazer. Como são produtos feitos à mão, acredito muito na energia e nos sentimentos que a gente passa para eles enquanto está confeccionando. E nem sempre conseguimos vender pelo valor ideal, se contarmos a dificuldade de execução, a preocupação com os detalhes, acabamento, apresentação”, ensina ela.
As redes sociais são as principais fontes de divulgação do trabalho dessas empresárias artesãs.
Fonte: A história do tricô
https://rosanetrico.wordpress.com/historia-do-trico/
Revisão de textos: Jackson Liasch (fone (43) 9 9944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com)
Serviço:
- Duas Arteiras
https://www.facebook.com/duasarteirasmaeefilha/
- Arte e Cor
https://www.facebook.com/arteecorbd/
Instagram arteecorlondrina.
- Espaço e Arte Artesanato
https://www.facebook.com/espacoearte10/
Instagram: @espaco_e_arte10
- Ursula Poli
Ana Paula diz
A materia ficou maravilhosa, e é notável como as avós deixou uma herança maravilhosa para suas netas. Já fiz curso com a Suely, ela é maravilhosa e ensina super bem e muito criariva.
Eu tenho facilidade de ensinar canhotos, sou ambidestra, então deixo este desafio para você Claudia Costa, aprender a fazer crochê. Beijos
Claudia Costa diz
Obrigada Ana Paula. Quando tiver um tempinho eu tentarei. Prometo!!!
Maria diz
Muito boa essa matéria, me fez recordar quando comecei a tricotar, fazia roupas para minhas bonecas. Vocês estão de PARABÉNS, na escolha das matérias.