Três cabeleireiros conceituados, Rose Oliveira, Caio Matos e Denise Ferreira, falam sobre cuidados, tendências e a novidade do visagismo, desmitificando o tema de beleza e atualizando nossas concepções
Cristye Vilas Boas
Pode-se dizer que vivemos uma época de excelência e inovação. Paradigmas e ideias que pareciam solidificadas se desfazem a todo momento e em todas as áreas, profissionais e até mesmo seu público precisam se atualizar, crescer, mudar a maneira de fazer as coisas. No mundo dos cabeleireiros isso não é diferente. Hoje, o cuidado e a preocupação com os cabelos estão ainda mais fortes, mas aliados à valorização da praticidade e funcionalidade. Conversamos com três cabeleireiros sobre temas distintos, mas que fazem parte da mesma esfera, e descobrimos o que ainda se mantém e o que muda a cada dia.
Como manter um cabelo saudável em qualquer estação?
Já estamos na metade de julho, mais para lá do inverno do que para cá. Ainda assim, os dias úmidos e frios, alternados de calor, estão aí. Há algum segredo para se manter um cabelo bonito mesmo com essa variação climática toda? E, principalmente, quando é quase impossível encontrar um cabelo livre de química hoje em dia? A cabeleireira e proprietária do Status Cabeleireiros, Rose Oliveira, falou sobre o tema com a gente.
No salão
“Em primeiro lugar, é preciso saber como está esse cabelo e, a partir daí, saberemos a melhor maneira de tratar e cuidar dele”, diz ela. “No salão, trabalhamos muito com os loiros e esse tipo de cabelo é o que precisa de mais cuidados. Nós temos vários tratamentos específicos para isso, que devolvem para o cabelo os nutrientes e componentes que se perderam com a química. O importante é identificar a necessidade do cabelo e focar nisso.”
Rose conta que um dos carros-chefes do salão é a reconstrução, justamente por esse trabalho com os loiros. Cabeleireira há mais de 30 anos, ela explica que traz para o salão apenas produtos de ponta e os administra em cada cabelo conforme a necessidade. “Não é só para os cabelos loiros que vale essa ideia. Às vezes, um cabelo um pouco menos danificado, se receber uma quantidade menor de produto, pensando na reconstrução, por exemplo, já ganha o efeito que queremos”, explica. “E não é apenas em situações extremas que se deve ter esse cuidado. No salão, mesmo que a cliente vá fazer uma simples escova, aplicamos junto um produto de reconstrução, por exemplo, que potencialize a ação positiva que terá nesse cabelo, e também protegê-lo.”
Em casa
“Uma vez que você tenha encontrado um salão e um profissional com que se identifique e tenha iniciado um tratamento, a manutenção em casa também é muito importante, caso contrário você perde todo o trabalho feito”, diz Rose. “Então, é legal conversar bem com o seu cabeleireiro e saber exatamente quais produtos levar para casa e como utilizá-los. As pessoas às vezes acham que não tem o jeito certo de fazer certas coisas e não perguntam. Mas para fazer uma chapinha, uma escova em casa, é preciso usar os protetores termoativados, às vezes um óleo reparador depois. Máscaras de tratamento, por exemplo, muitas pessoas usam no final do banho – na verdade, elas vêm antes do condicionador, que precisa fechar suas cutículas após você tê-las tratado.”
Pergunto sobre aquela concepção de que, após usar um xampu e um condicionador por certo tempo, o cabelo “se acostuma” com eles, e se há como evitar isso. “Acredito que o seu cabelo tem certas necessidades e você precisa de um tratamento para alcançá-las. Após um tempo com aqueles produtos, você alcança esse objetivo e não é mais daquilo que o seu cabelo precisa. Não é que ele se acostumou; aquele tratamento está concluído e precisamos avaliar novamente o que é necessário.”
Para finalizar, Rose diz que, seguindo as instruções do seu cabeleireiro sobre como dar continuidade a tratamentos iniciados no salão, usando os produtos certos para o seu tipo de cabelo, de forma correta, e tomando alguns cuidados, como não dormir com o cabelo molhado ou úmido, é possível ter seu cabelo bonito e saudável em qualquer estação do ano.
Como escolher e manter um corte para o cabelo?
Para esse segundo tema, o profissional consultado foi Caio Matos, do salão Caio Matos Cabeleireiros. Ele montou seu salão em Londrina há quatro anos e, antes disso, acumulou muita bagagem na profissão, trabalhando em outros salões londrinenses e curitibanos. Ele explica que o mercado mudou e se tornou extremamente competitivo. E, nesse contexto, conseguirão se manter aqueles que prezam pela qualidade, estão constantemente se atualizando e sabem entender e orientar bem suas clientes.
“Podemos falar em tendências de cortes, mas estaremos falando de coisas que a maioria das pessoas já sabe”, diz Caio. “Com a internet, nossas clientes têm acesso às últimas tendências, ao que todo o mundo está fazendo e usando. É por isso que a demanda no mercado está tão alta e esse meio cada vez mais competitivo. Os cabelos curtos têm um pouco mais de variação: o pixie cut, que é aquele bem curtinho; o blunt, corte bem simétrico e reto; o texturizado, para cabelos mais grossos. Existem os bobs – long bob e short bob – que vieram para ficar mesmo. Ou, com os longos, repicados, mais retos. Cabelos curtos brancos são tendência forte, também, por exemplo. Só que, mais do que entender de tendências e nomes, o cabeleireiro hoje tem que entender da sua cliente, e do que vai funcionar melhor para ela.”
Caio diz que, com as redes sociais, ter acesso aos cortes mais quentes é fácil, mas que as clientes nem sempre conseguem avaliar o que lhes serve melhor. “É preciso conversar muito com a cliente, em vez de só seguir as tais tendências da indústria. Como é o dia a dia dessa pessoa? Às vezes, uma cliente diz que quer cortar uma franja, por exemplo, mas esquece que no dia a dia seu cabelo precisa estar sempre preso, que ela faz corridas matinais e que a franja ficaria pouco prática”, exemplifica. “Pela experiência, o cabeleireiro tem de saber o que vai funcionar melhor para a cliente, assim como o que vai ficar mais harmônico para ela. Junto disso, entender os gostos e necessidades dela.”
Sobre a manutenção desses cabelos em casa, Caio reafirma essa necessidade de troca entre a cliente e o profissional, para chegar a uma receita específica para cada pessoa. “Algumas dicas do cabeleireiro podem fazer grande diferença no cotidiano da cliente. Às vezes algo pequeno, como o modo de secar, o uso de um finalizador, e sempre pensar em como manter esse corte. Para os curtos, eu costumo dizer que a manutenção é quase como a de cabelos masculinos, praticamente mensal. Para os longos, imagina-se que há maior espaço para isso, mas é importante sempre eliminar as pontas duplas, tirar o que não está mais saudável. Ter em mente esse tipo de cuidado faz muita diferença.”
Colorir e cortar o cabelo levando em conta a sua personalidade – o visagismo
Denise Ferreira é visagista e trabalha, junto com sua equipe, no salão Studio One, em Londrina. Ela é também a única embaixadora da linha de produtos Kerastase, da L’oreal. Assim, ela alia o seu conhecimento no trabalho de personalização de cabelos às possibilidades que vêm junto com o trabalho especializado em uma só marca.
“Conhecendo a linha toda de uma marca, o profissional pode avaliar qual produto é o melhor para cada cabelo. Independentemente da marca com que você trabalha, estudar todos os produtos a fundo é o que conta”, diz Denise. “Quando escolhi a L’oreal para ser a minha marca, cinco anos atrás, fiz uma verdadeira imersão. Então, hoje, quando a cliente vem, consigo dar para ela um diagnóstico preciso. Às vezes um cabelo precisa de brilho ou densidade, e para cada coisa um produto é o ideal. As pessoas acabam se fechando muito em nutrição, reconstrução, mas às vezes não é disso que o cabelo precisa. E você só consegue saber o que aplicar em cada caso quando conhece muito bem uma marca.”
Denise explica que, quando ela se formou cabeleireira, havia regras e formas muito engessadas de como se fazer as coisas. “Hoje o profissional não simplesmente faz, seguindo um script. Ele pode criar, deixar sua identidade no cabelo da cliente. Hoje tudo é muito mais conceitual, muito mais artístico”, ela diz. “Essa leva mais jovem de cabeleireiros que está se formando agora já tem essa concepção, eles já vêm preparados para isso. Nós, que estamos no mercado há muito tempo, tivemos uma formação diferente. Mas eu sempre tive essa visão e acredito ser um diferencial. Existem lugares que são como fábricas de produção e os cabelos saem todos iguais. Eu acredito em encontrar uma cor e um corte que reflitam a personalidade da cliente, porque ela tem que se sentir única.”
Assim como Caio, Denise diz que as tendências estão aí, sim, mas o mais importante é adaptar isso para a realidade de cada cliente. “Hoje, acredito que nem só no cabelo, mas o mundo em si está com uma pegada mais natural – na sobrancelha, na maquiagem, na maneira de se vestir, até comida, casa… A naturalidade está em alta. E está tudo conectado, as tendências do cabelo não são diferentes das tendências das outras esferas da moda. E essa percepção, de que é tudo interligado, de potencializar o que já é naturalmente bonito, faz diferença para o profissional”, acrescenta ela. “É por isso que escolhi o visagismo – de cor, ou dentro do penteado – para ser um dos destaques da minha profissão. Na hora de fazer o cabelo, você tem que conversar com a cliente, descobrir a imagem que ela quer passar, o tipo de roupa que ela usa e tudo tem que estar em harmonia. Às vezes, você quer um cabelo que é moderno, tendência, mas que, para o que você vai fazer e com a imagem que você precisa passar, não combina. Não é você ter o cabelo da moda, é ter o cabelo certo para você, que mesmo dentro da sua rotina vai favorecê-la.”
Revisão: Jackson Liasch
Fotos: Arquivo Pessoal
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