Parte II
Por Claudia Costa
Momento atual do Brasil
O jornalista estabelece um paralelo entre o momento que o País vive atualmente e o período de 64. “Hoje as pessoas estão com o mesmo sentimento daquela época, algo estava errado e as coisas não andavam bem, muita pobreza, miséria, desemprego… A história está se repetindo”, enfatiza Walmor Macarini. Ele ressalta que as pessoas pedem a intervenção militar sem saber o que foi aquele período no Brasil. “Eu vivi aquela época, mas muitos já morreram. O brasileiro está com sentimento de repulsa a este estado de desordem que estamos vivendo hoje. Acho muito difícil os militares intervirem, ter outro golpe militar, pois eles teriam que prender esses deputados corruptos, fechar o Congresso e, inclusive, desativar o poder judiciário. Isto não dá para fazer mais. Não existe regime melhor do que o democrático”, salienta Walmor, enfatizando que no País vivemos uma democracia falha.
“Dizer que o Brasil vive uma democracia não é verdade. Uma grande parcela da população não tem comida na mesa, então não é democracia. Temos que dividir as riquezas e eliminar essa desigualdade social, desemprego alarmante, fome, miséria, violência. Não há democracia no Brasil, as instituições funcionam bem ou mal, a justiça pune, prende e solta. É um arremedo de democracia. Para mim, democracia tem que ter a participação de todos, podendo opinar, ganhar seu dinheiro, comer, beber, ter moradia e seus direitos assegurados”, explica.
Sou contra uma nova intervenção militar, mas separo intervenção e tomada do poder. “Os militares tomaram o poder e governaram por 20 anos. Uma intervenção poderia ser algo provisório para afastar os corruptos, hipoteticamente, e depois entregar o Brasil para um regime de eleições gerais. Isto era o que a Revolução de 64 queria fazer e não fez. Os militares gostaram do poder, ficaram violentos, começaram a prender, matar e torturar. Também houve sinais de corrupção no meio militar”, salienta Walmor Macarini.
O experiente jornalista vê com surpresa a repercussão junto aos jovens do deputado federal Jair Bolsonaro (militar da reserva que cumpre seu sexto mandato na Câmara dos deputados e que, segundo o Ibope, é um dos mais cotados para disputar a Presidência da República em 2018). “É um fenômeno ver essa rapaziada aplaudindo o Jair Bolsonaro. Ele é egresso das forças armadas e tem uma ideologia militarista. Ele tem um discurso de livrar o País dos corruptos. Até o momento não teve nada que comprometa a imagem de honesto dele. É capaz de se eleger”, sentencia o jornalista, que acredita que o ex-presidente Lula não chegará a ser candidato e vê como frágeis as candidaturas do prefeito de São Paulo, João Dória, da ex-senadora Marina Silva e do senador paranaense Álvaro Dias.
“A comunidade do capeta”
O período era de muita ebulição política e cultural no Brasil e a redação da Folha de Londrina fervia com jovens e talentosos jornalistas. Walmor Macarini fala com carinho dos colegas de profissão e dos embates que muitas vezes tinha que ter com a equipe. “A turma do caderno dois era a ‘comunidade do capeta’. A Rose Arruda era chefe do clã dos Arrudas (ela e os irmãos Carlão e João Arruda), Nilson Monteiro, Nelson Capucho, Marcelo Oikawa. Eu tinha que cuidar do jornal senão eles fechavam a Folha. Eu falava: ‘vocês precisam me ajudar’”, ressalta. “Nunca fui um superdiretor. Mas segui o conselho do velho Pascoal Milanez, meu avô e pai do João Milanez: ‘Contrate os melhores, as pessoas mais especializadas, que assim você fica com a glória’. Foi o que fiz”, salienta.
O jornalista diz que nunca foi intransigente com o que publicava. “Eu dizia para a nossa equipe: ‘vocês têm que me ajudar. Eu não posso impor e censurar vocês’, e os colegas acatavam”, lembrando alguns profissionais que contribuíram muito para a qualidade da Folha, que tinha sucursais em todo o Paraná, dentre eles Jota Oliveira, Délio Cesar, Widson Schwartz, Domingos Pellegrini, Bernardo Pelegrini, Jotabê Medeiros, o publicitário Pedrinho Scucuglia, dentre tantos.
Sua amizade com o jornalista Oswaldo Militão vem desde o início da carreira, pois começaram na mesma época e chegaram a dividir o mesmo teto. Walmor e Militão assinavam uma coluna de variedades com receitas, poemas, dentre outros assuntos de interesse feminino. Usavam o pseudônimo de Tia Jurema.
Sobre o seu tio João Milanez, a quem também chamava carinhosamente de patrão, como os demais funcionários, relembra que este muitas vezes ia aos eventos e encontros com políticos e trazia anotadas as informações. “Eu ou outro jornalista produzia o texto com as informações que ele tinha trazido. A Folha não deixava de dar nenhuma matéria por falta de jornalista se o patrão estivesse presente”, relembra.
As matérias críticas da Folha de Londrina contribuíram para a queda de Haroldo Leon Peres, governador do Paraná indicado em março de 1971 pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici e à revelia dos líderes políticos locais, Paulo Pimentel e Ney Braga. Ele renunciou ao cargo em novembro do mesmo ano.
Walmor conta que também foi perseguido pelo regime militar. “O jornalista da Folha de Londrina Leonardo Henrique dos Santos, que hoje é mais ligado à ala direita, foi para Cuba a convite do governo. Eu fiquei com medo, pois um jornalista nosso foi para Cuba fazer o quê?” Outro fato relembrado por Macarini foi quando ele visitou a Alemanha. “Os militares brasileiros me monitoraram. Quando eu voltei ao Brasil, me perguntaram: ‘para onde você foi na Alemanha que ninguém o viu? Foi para a Rússia?’ Por sorte eu tinha umas fotos da visita que fiz na Itália e da ida ao Vaticano. Passei momentos de muita ameaça”, relembra.
O jornalismo impresso vai acabar
Walmor, que foi um dos proprietários da Folha de Londrina, diz que está desencantado com o jornalismo praticado hoje no País. “O jornalismo no Brasil hoje em dia é pífio. O jornal impresso vai acabar em pouco tempo. O jornalismo não vai morrer, mas o impresso vai. A mídia eletrônica obrigou o jornalismo a se recriar, porém os jornalistas ainda não souberam recriar ou não deu para fazer. No Paraná quase não tem jornal impresso mais.”
Macarini não era favorável à venda do jornal que pertenceu à família, assim como seus tios João Milanez e Ferdinando Milanez também não eram. Porém, os demais sócios quiseram, então acabaram vendendo os veículos de comunicação que pertenceram à família por décadas. Mesmo após a venda da Folha de Londrina para o ex-senador José Eduardo Vieira, Walmor Macarini continuou prestando serviço para a empresa, redigindo durante muitos anos os editoriais do jornal.
No seu apartamento, no centro de Londrina, Walmor possui um escritório repleto de lembranças e recordações, como uma antiga máquina de escrever Remington dos tempos do jornal que mandou pintar de vermelho, e que tem um espaço de destaque ao lado do seu notebook.
Ele não se distanciou do jornalismo e escreve diariamente artigos e livros. Atualmente, Walmor Macarini também mantém uma página no facebook, em que escreve muito sobre misticismo e fé. Ele diz que hoje em dia todas as pessoas são jornalistas em potencial, já que relatam nas mídias sociais os fatos que presenciam. Porém, faz uma ressalva para aqueles que desejam seguir a profissão de jornalista: “A profissão é fantástica. Quem tem vocação tem que seguir em frente, estudar e dominar o que faz. Deve praticar o jornalismo de fato e não um jornalismo ideológico babaca. Isto é campanha política!”, enfatiza o experiente jornalista de 62 anos de atuação profissional.
Agradecimentos: Jackson Liasch ( Revisão), Alecksey Willians ( Ilustração) e Lucas Costa Milanez ( Vídeo)
Elisie diz
Falar do Walmor representa voltar no melhor tempo da minha vida. Tornei-me uma jornalista através da sua confiança e ensinamentos. Porque eu era uma jovem com 22 anos, inexperiente, recém-casada, cheia de sonhos, cheia de vontade para exercer o jornalismo, afinal, acabava de me formar.Aprendi tudo com você querido Walmor. Absolutamente tudo. Tenho tanto carinho e respeito e tanta consideração! Muito obrigada por me permitir atuar ao seu lado durante tantos anos cheios de boas recordações. Orgulho-me de contar que trabalhei com o jornalista Walmor Macarini. É muito bom saber que está bem ao completar 80 anos. Deus te dê saúde, anos de vida, alegria, sabedoria. Amo você de todo o meu coração,mesmo estando longe e pouco nos encontrando. Estará eternamente no meu coração, meu querido chefe! Cláudia, parabéns pela excelente matéria! Adorei! O Walmor é merecedor!
Carlos Boer diz
Walmor sempre lúcido, suas ponderações no depoimento traduzem nosso passado de forma ponderada e com muita clareza.
Vivemos desesperança com o rumo da política no Brasil e para os mais velhos vem a lembrança da década de sessenta.
Hoje, de um lado o cadáver da esquerda corrupta e incompetente caminhando a esmo por nossas Antares tentam reviver, contrapondo a este fantasma surge o radicalismo de direita. Sabemos, a história já demonstrou, nenhum é solução para os graves problemas moral e ético que vivemos, pelo contrário, nos afundará ainda mais neste caos.
Neste Saara ético da nossa política está dificil vermos brotar um líder confiável, aí mora o perigo e a desesperança.
Apesar de tudo, ainda, a democracia “verdadeira” continua a melhor opção.
Darcy diz
Maravilha de matéria estando primorosa pelos dois lados : entrevistado e redatora. Uma verdadeira aula pra quem faz ou quer fazer do jornalismo sua profissão. Walmor um mestre neste difícil ofício. Claudia um grande talento sempre nos revelando o seu talento. Parabéns aos dois e a todos nós que saboreamos está delícia de perfil.
Ana Marta diz
Oi Walmor,
Muito bom rever você, figurinha difícil de se encontrar pessoalmente. Parabéns pela sua entrevista. Amei. Convivi com você vários anos na Folha e aprendi muito, não só de jornalismo como também da vida. Levei muitos pitos, chorei muito, mas aprendi bastante!!!
Concordo com tudo que você disse e desejo a você muita saúde e que continue escrevendo para nos enriquecer. Beijo grande,
Ana Marta
Antônio Mariano Júnior diz
Toda a minha reverência, jornalista Walmor Macarini!
Caty Mileny Garcia da Silva diz
Convivi pouco com Walmor, mas sempre reconheci nele um grande jornalista. Muito bom ver que continua lúcido!!
Edenilson de Almeida diz
Bom relembrar todas essas história e perceber a análise lúcida sobre a nossa profissão em tempos líquidos. Parabéns.
Walmor Maccarini diz
-Com tantos elogios vocês me corrompem… Fui apenas um profissional normal.
Bons mesmo eram os que trabalharam comigo. Eles já eram bons, então os capturei… Outros aprenderam com os colegas, eu também aprendi com eles. Eu buscava não atrapalhar, e isto já era uma boa atitude. Quando se entra numa empreitada pensando saber tudo, aí voce pode se preparar para o pior. Começar não sabendo, nos faz mais cuidadosos e humildes. Claro, na condição de chefia voce também não pode deixar as rédeas soltas. Tive um razoavel aprendizado com minha familia, nesse sentido. João Milanez me ensinava a moderação, mas ele era ao mesmo tempo arrojado. E na FOLHA DE LONDRINA eu encontrei outros grandes mestres: Nilson Rimoli, então editor-chefe, seu irmão João Rimoli, Manoel Vilela de Magalhães, e alguns outros mestres e conselheiros. O ritmo pulsante de Londrina me levava de roldão, e tive que surfar junto… Meu lado místico (citado na entrevista de Claudia Costa) eu adquiri de João Rimoli. João Milanez me ensinava prudencia e honestidade; Nilson me ensinava jornalismo e elaboração da escrita; João Rimoli, além de jornalista me falava de temas de espiritualidade. É sábio o ensinamento de que “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”. Se eu houvesse saído de uma escola de jornalismo (inexistente na época), talvez bancasse o sabichão, mas quando voce entra não sabendo, voce se curva diante dos que sabem, e então aprende. Todos aqueles com quem convivi – familia, instrutores, colegas – eram honestos, e isto não signfica que virei um santo, mas certo é que esse bom “policiamento” dos que estão ao seu redor é fundamental.-WALMOR MACCARINI.
Renata Milanez Cordioli diz
“Tio” Walmor,
Uma pessoa querida e agradável!!!
Lembro-me de esperar com ansiedade os dias que escrevia para poder ler sua coluna , ainda adolescente , gostava de recortar as que tocavam mais meu coração.
Um orgulho para nós todo seu talento, multiplicado pelo seu esforço e dedicação!
Deus continue abençoando muito a sua vida!
Grande Abraço ,
Renata
Leonardo diz
“Mais ligado à ala direita” não, amigo Walmor. Aceitaria essa sua avaliação se eu defendesse ou demonstrasse um mínimo de condescendência para com os adeptos de uma nova quartelada, ou, como queiram os que defendem essa solução, “intervenção militar constitucional”; ou mesmo simpatia pelo Bolsonaro, que jamais será meu candidato. Creio que você, ou os que leem minhas eventuais manifestações, jamais me viram demonstrar nenhuma simpatia por aquela solução ou por tal candidato. Antes, pelo contrário.
Tenho, sim, me posicionado aberta e explicitamente contra os governos petistas que tivemos que engolir por quase 14 anos, mas sempre deixei isso bem claro: não por serem supostamente esquerdistas, mas apenas por terem se revelado patronos e beneficiários dos maiores esquemas de roubalheira dos recursos públicos de que já tivemos notícia, que foram o mensalão e depois o petrolão. E além de ladrões, incompetentes – quando levaram o merecido pé na bunda, já haviam deixado a inflação atingir dois dígitos, o total de desempregado suplantar a marca dos 12 milhões e a dívida pública passar de 2,8 trilhões de reais.
Era isso, amigo.
Heraldo Felipe de Faria diz
Conheci Valmor, quando a Cruzeiro AM foi para dentro da redação da FL. Ali tbem.ne deu UBS dois ou três puxões de orelha. Metade deles, merecido. Kkkkk. Tudo isso ocorreu em 84, 85. Sabe muito esse Valmor !