Parte I
Por Claudia Costa
Como todo bom descendente de italiano, Walmor Macarini é uma pessoa que fala com as mãos e expressa muito suas emoções. Natural de Meleiro, cidade do interior de Santa Catarina, o jornalista de 80 anos (vaidoso, não gosta de revelar a idade) é uma referência no jornalismo paranaense e, por que não dizer, brasileiro.
São 62 anos de jornalismo, sendo 27 deles como diretor de Redação da Folha de Londrina. Simultaneamente a este trabalho, atuou como correspondente dos jornais Folha de São Paulo (por 2 anos ) e Estado de São Paulo ( por 12 anos). Londrina foi a capital do café e naquele período a cidade era sempre notícia nas editorias de agricultura e economia. Natural de uma família de agricultores, Walmor diz que a editoria agrícola/rural foi a que mais gostou de cobrir. Atuou em todas as editorias, só não se deu muito bem na cobertura esportiva.
Por sua coordenação na redação da Folha de Londrina passaram mais de mil jornalistas. Walmor gosta de dizer que é o mais antigo funcionário vivo da Folha de Londrina, jornal que foi propriedade do seu tio João Milanez e onde fez sua carreira e escreveu a sua história no jornalismo.
Walmor Macarini chegou a Londrina em março de 1955. Logo no primeiro dia na redação da Folha, foi cobrir a área policial. “A mais difícil das editorias no jornalismo é a policial, pois você precisa entender um pouco de direito e de leis, pois o delegado usa uma linguagem jurídica e o repórter precisa entender”, salienta, contando que naquela época se entrevistava também o próprio preso dentro da cela da delegacia. “Eu não tinha experiência, então muitas vezes o Nilson Rimoli reescrevia a matéria com os dados que eu tinha levantado.”
A leitura sempre fez parte da sua vida. Ele recorda que desde a infância devorava os livros que pegava na biblioteca da escola e emprestados dos amigos. “A nossa professora era uma pessoa muito empenhada e conseguia muitos livros para a escola. Um vizinho comprou uma enciclopédia e deixou que eu a lesse toda”, relembra.
Walmor Macarini chegou a trabalhar como auxiliar de contador (fez um curso por correspondência no Instituto Universal Brasileiro), mas o jornalismo sempre esteve presente na sua vida. “Meleiro era uma cidade muito política. Na juventude eu já fazia um tipo de jornalismo. Escrevia as provocações políticas na vidraça da minha casa”, recorda.
A vinda para Londrina
Sem nenhuma experiência como repórter, mas com muita vontade e necessidade de aprender e sobreviver na profissão, Walmor Macarini fala o que representou a oportunidade de trabalhar como jornalista na sua vida: “Quando cheguei a Londrina, é como se eu tivesse chegado à Lua e não tivesse viagem de volta”, explica. Ele conta que vivia na cola do jornalista Nilson Rimoli, chefe de Redação na época, uma “faculdade” para muitos jornalistas e referência por sua ética, honestidade, dedicação e exigência. Nilson Rimoli imprimiu um padrão de redação elevado, exigindo o máximo de todos. Ele pregava que o jornalismo deveria ser sem partidarismo, crítico, mas com uma visão construtiva.
Após a saída de Nilson Rimoli da Folha, o patrão João Milanez o convidou para assumir o cargo que foi do profissional com quem diz que aprendeu quase tudo de jornalismo.
Censura e Regime Militar
Walmor Macarini assumiu a chefia de Redação da Folha em 1964. “Senti muito medo. Sabia que a censura era pesada e os perigos eram muitos”, explica, dizendo que o jornal dava espaço para as opiniões contrárias ao regime.
O jornalista diz não considerar 1964 um golpe. “Eu acho que foi um contragolpe, porque os partidos de esquerda daquela época estavam se preparando para tomar conta do Brasil e implantar um regime comunista. A Rússia já estava financiando Cuba e as tropas e os navios de guerra já estavam no Caribe. Quase que começa a Terceira Guerra Mundial. O presidente Kennedy, dos EUA, estava preparado para o que desse e viesse”, explica.
Ele relembra que o clima no Brasil estava tenso com a renúncia de Jânio Quadros. “O vice-presidente era o João Goulart (Jango), do PTB, partido do ex-presidente Getúlio Vargas. O Jango fez um discurso, em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, em frente à igreja da Candelária, e pregava a tomada do poder com violência, tomando as propriedades agrícolas, fábricas, indústrias, e entregar na mão do Partido, dos pobres. Era um projeto de revolução de esquerda”, ressalta o jornalista.
Segundo Walmor Macarini, “os parafusos da República estavam frouxos. Depois do discurso de Jango, que inflamou a população, houve a célebre descida do general Olímpio Morão Filho, que marchou do 4º Exército em Juiz de Fora (MG) ao Rio de Janeiro para arregimentar seus pares e desencadear o golpe”.
Enxada de ouro
Para ele, foi a sociedade que gerou a Revolução. “Além do discurso, houve a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade e uma série de eventos ocorridos em março de 1964 em resposta à considerada ‘ameaça comunista’ do comício do presidente João Goulart. Os militares assumiram o governo e não tinham dinheiro. No período, foi realizada a campanha ‘Ouro para o bem do Brasil’, quando os brasileiros fizeram muitas doações. Os ricaços encheram as burras do governo de joias. O grupo Garcia (pecuaristas com diversos negócios, dentre eles a empresa de ônibus) doou uma enxada de ouro maciço. Ela pesava dois quilos”, relembra Walmor.
Agradecimentos: Jackson Liasch ( Revisão), Alecksey Willians ( Ilustração) e Lucas Costa Milanez ( Vídeo)
Vera Barão diz
Muito legal. Walmor é ótimo!
Edenilson de Almeida diz
Um ícone do nosso jornalismo. Parabéns!
mara sallai diz
Uma delicia ler e ver os amigos . Vcs arrasaram com esta pauta. Parabéns Claudia!!!
Claudia Costa diz
Obrigada querida!!! Estamos aguardando a sua dica de turismo ai da sua cidade para a nossa coluna Passaporte!!!
Claudia Costa diz
Obrigada querida Mara! Um elogio de uma jornalista da sua qualidade e experiência é muito gratificante. beijos
Almir diz
Muito bom… Adorei a entrevista….
maria cristina toledo siqueira de toledo diz
Excelente, Claudia! Trabalhei tantos anos na Folha e o Walmor ainda pode nos ensinar! Além dos textos dele que adoro ler e guardar. Parabéns, a pauta abordou a essência!
Claudia Costa diz
Obrigada Cristina. beijos
Leonardo diz
Só um reparo: quem doou a enxada de ouro foi outro Garcia – José Garcia Molina, igualmente bem sucedido pioneiro de Londrina mas que não tinha vínculo nenhum com o grupo encabeçado pelo Celso Garcia Cid, da empresa de ônibus.
Heraldo Felipe de Faria diz
Claudia, trabalhei na Cruzeiro AM, quando pertenceu FL, e exastava instalada dentro da redação. Foi ali, nos anos 84, 85, que conheci o Valmor. Foi ali, que ele me deu alguns puxões de orelha, aoscquais, eu agradeço. Boa entrevista. Estes vídeos precisam ser preservados e depositados em museu. Parabéns !
Amanda macarini diz
Linda homenagem, parabéns Cláudia . Bjs Amanda
Rosangela Rivera diz
Um grande previlégio ter conhecido a A essência desse homem espetacular.