Histórias sobre o Rakugo, a tradicional arte de contar histórias japonesa,e as inusitadas experiências vividas pela Rakugo-ka Ramune compõe a série, que estreou dia14 de abril, no canal do Youtube da Fundação Japão.
A Fundação Japão promove, em seu canal do Youtube, “WAGEI, a arte de narrar histórias”. São dois episódios, com estrearam em 14 de abril, trazendo como tema o Rakugo, a tradicional arte de contação de histórias japonesa. Quem apresenta os episódios é Ramune, uma Rakugo-ka (contadora de história) nipo-brasileira, que atua no Japão.
A primeira história, “Jugemu”, permite a Ramune introduzir, de forma divertida, o universo tradicional do Rakugo através de sua perspectiva singular, valorizando sua identidade cultural nipo-brasileira. Ela incorpora elementos únicos, como o idioma português e inglês, ao repertório clássico japonês.
As inusitadas e cômicas experiências vividas diante das dificuldades no idioma japonês durante a infância de Ramune são tema de “Makura”, uma pequena introdução realizada pela contadora antes da segunda história, a também clássica “Manju Kowai”.
WAGEI, a arte de narrar histórias’ estão disponíveis no canal do Youtube da Fundação do Japão em São Paulo, acesse https://www.youtube.com/c/
Mais detalhes sobre esta arte e a série ‘WAGEI, a arte de narrar histórias’, no site: https://fjsp.org.br/
RAMUNE
Descendente de terceira geração de japoneses (sansei), nascida no Japão e filha de pais nipo-brasileiros, não sabia japonês quando criança.
Formada pela Universidade de Artes de Musashino e encantada pela arte narrativa RAKUGO, em 2017, ingressou com Hayashiya (anterior), tornando-se discípula do RAKUGO-KA Rabuhei (atualmente) como aspirante no caminho da arte RAKUGO, tornando-se a primeira RAKUGO-KA brasileira nipo-descendente.
Sua estreia aconteceu apenas seis meses depois de ter se tornado discípula de Rabuhei. A oportunidade veio como atração de abertura antes da apresentação principal de seu mestre, para um público de 900 pessoas no Blossom Hall, em Guinza, com a performance de “SORAIDŌFU”, com temática da vida cotidiana.
“Desejo aprimorar um RAKUGO próprio, que somente eu como nipo-brasileira de terceira geração conseguiria”.
É com esta determinação que atualmente se apresenta nos palcos de diversos teatros YOSE por todo Japão, apresentando sua performance trilíngue (japonês, inglês e português).
“Há algum tempo, eu também não sabia falar japonês. Mas hoje, o meu trabalho é conversar em japonês. Por isso, fiquem tranquilos, com certeza conseguirão aprender a falar japonês”, faz questão de proferir estas palavras de encorajamento às crianças estrangeiras .
RAKUGO
A arte narrativa RAKUGO consiste na interpretação solo de um narrador que o faz sentado, contando histórias hilárias ou tocantes do comportamento humano. Essencialmente, as narrativas se desenrolam com base nos diálogos dos personagens. Usualmente, o narrador faz uso apenas de um leque, uma toalhinha e as gesticulações para interpretar diferentemente cada um dos papéis.
As histórias têm sempre um desfecho inusitado e esdrúxulo, chamados de “ochi” ou “sage”. Diz-se que a origem da denominação RAKUGO é literal da junção dos ideogramas “otosu – fazer cair” e “hanashi – história/conto”, literalmente histórias pra fazer cair (…de rir/chorar/emoção).
RAKUGO também é por vezes chamado de HANASHI, sendo que aqueles que o fazem são chamados de HANASHI-KA (lit.: contador de histórias).
As histórias
JUGEMU
Desejando saúde e longevidade para o filho que acabara de nascer, este pai vai ao templo consultar o abade para que o ajude a escolher um bom nome para o filho. Este pai, com a enorme lista de palavras auspiciosas sugeridas pelo abade, acaba dando nome ao filho juntando TODAS essas palavras.
Graças ao LONGUÍSSIMO nome, talvez a criança cresça saudável em demasia a ponto de se tornar um menino muito travesso. Um dia, ele brigou com um menino da vizinhança e lhe bateu na cabeça, formando um galo, e este foi reclamar com o pai. Narrativa hilariante, que retrata o vaivém da conversa que faz repetir o longuíssimo nome tantas vezes e acaba levando tanto tempo, que o galo gigante da cabeça do menino havia desaparecido antes de concluir a reclamação.
MANJU KOWAI – Pavor de manju (*bolinhos doces recheados)
Alguns rapazes à toa, sem ter o que fazer, conversam animadamente sobre coisas que não gostam e que lhes causam medo. Aranha… cobra… formiga… em meio à discussão acalorada, chega Tetsu com fama de ser do contra… “Que vergonhoso ouvir esse monte de machões dizendo que têm medo dessas coisinhas… não existe nada nesse mundo que cause medo”, diz. “Tem certeza que nada te amedronta?”, perguntam os rapazes. Depois de um momento pensando… “Na verdade, tem sim…”, confessa Tetsu. “Então, do que você tem medo?”, perguntam a ele, que reponde baixinho… “MANJU. Só de ouvir falar de manju já comecei a passar mal” E vai dormir no quarto ao lado. Os rapazes, que ainda estavam por lá, comentam… “Ele é sempre muito arrogante! Não vamos perder a chance de ameaçá-lo”. E fazem uma vaquinha para comprar o quanto possível de MANJU e colocam os bolinhos doces amontoados na cabeceira de onde dormia Tetsu. Ao despertar, solta gritos de terror de dentro do quarto. “Tenho pavor de manju”, e se deliciava com os MANJUs que adorava… e a cada bocada, gritava… “Tenho pavor de MANJU…” e acabou comendo tudo. Fez-se silêncio, e os rapazes, preocupados, espiam o quarto. Ao vê-lo se deliciar com os MANJUS, finalmente percebem que foram enganados! Irados, perguntam… “Afinal, o que é que te apavora de verdade?” E o dito-cujo, com a boca adocicada demais, depois de se empanturrar com o monte de MANJU, responde… “Bem, neste momento, acho que tenho pavor de um chá verde amargo…” Sendo esse o desfecho da cômica história do astuto velhaco…
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