De alguns anos para cá, sempre escutava algo sobre a síndrome do ninho vazio. Eu ouvia uma amiga comentar algo aqui, outra lá, na maioria das vezes com a voz embargada quando se tocava no assunto. Era a filha que tinha se casado e mudado, ou o filho que havia ido embora para cursar a universidade. Ou, então, que a filha tinha optado por ter seu próprio apartamento ou que o filho havia resolvido morar fora. Eu achava exagero aquela lamúria toda por se tratar de um novo ciclo, de calmaria e liberdade. Na verdade, eu nunca havia parado para pensar nessa hipótese porque era uma situação avessa aos meus propósitos de vida. Meus filhos, de alguma forma, não sei como, iriam permanecer comigo pelo resto da vida. Só que não. Eles bateram asas, foram viver as suas vidas. O Fernando, buscando autonomia, e a Roberta, casando. Um processo natural da vida, quando os filhos crescem e deixam a família. Mas quem disse que é fácil enfrentar esse desafio?
Você começa a andar pela casa olhando as paredes, os cômodos, os armários vazios, se perguntando: E agora? Como será a minha vida sem eles? Parece que tudo ficou maior, quieto demais, sobrando espaço. O que restou? Geladeira vazia, cama arrumada, televisão desligada, sem barulho na cozinha, silêncio nos banheiros, tudo impecável, arrumado, em ordem. Tudo perfeito demais numa casa que antes era barulhenta, com gente entrando e saindo, som ligado a tarde toda, barulho na cozinha nas madrugadas, latinhas de Coca-Cola no quarto, toalha molhada na cama, controle remoto sumido.
Sou uma mulher divorciada há muitos anos. Enfrentei desafios profissionais, financeiros e de saúde. Saí fortalecida de todos eles. E não ter meus filhos morando comigo é mais um, que chegaria mais cedo ou mais tarde, no momento propício, quando as expectativas mudam de rumo. Agora voltam-se para a vida profissional de ambos, para os futuros netos que certamente vão encher minha casa de barulho e alegria. Meus objetivos mudaram. Não preciso de um apartamento novo, não quero nada maior na minha vida. Quero viver a plenitude de uma mulher que cumpriu muito bem o papel de mãe, criando, sustentando, edificando a sua casa durante muito tempo, sozinha durante 20 anos, e, em algumas situações, exercendo uma dupla função.
Lembro-me de quando cheguei em casa, após a festa de casamento da minha filha, o dia estava amanhecendo. Sentei-me no sofá da sala e chorei. Era um misto de alegria e tristeza, que naquele exato momento eu não sabia definir. Chorei muito, porque dali alguns dias meu filho também retornaria para São Paulo, onde mora há dois anos. Aos poucos a vida foi sendo encaixada novamente. Precisei me adaptar ao silêncio. Depois, à rotina do dia.
Estranhamente, continuei comprando tudo no supermercado e, claro, jogando fora frutas e verduras. Fui aprendendo a comprar menos, a comer fora, a estabelecer um novo padrão de vida. Tudo começou a sobrar na minha casa. E eu não sabia o que fazer com aquele espaço todo. As conversas diárias com a Roberta, sempre tarde da noite, cederam espaço aos livros engavetados. Os almoços preparados pela Clarice foram substituídos por uma dieta eficaz feita rapidamente e saboreada ao som de um louvor que tanto gosto. A mesa do café da manhã, que eu montava antes de dormir, cedeu lugar a uma xícara de café preto e uma fatia de pão sem glúten. Sim, a minha vida mudou radicalmente. Ainda estranho chegar em casa com tudo absolutamente em ordem, da mesma forma que deixei antes de sair.
A gente passa uma vida escutando que os filhos são criados para o mundo. É bonito escutar, mas viver esse ciclo é complicado. Até porque a maioria das mulheres, culturalmente, tem como meta a maternidade. E ter filhos é aprender todos os dias na raça. Ter filhos é uma atitude tão corajosa, acho que é a maior de todas. Mas tê-los longe dos nossos olhos e braços também é.
Com a saída dos filhos, acabamos nos transformando em companheiros no caminho e não em condutores, quando, antes, determinávamos a direção da vida. Creio que nada irá substituir a saída dos filhos, mas entendo que a fase da vida mudou e que estou me redescobrindo aos poucos. Nós precisamos de muita valentia para dar conta dessa solidão que um marido ou um namorado não preenche.
De um tempo para cá, estou conjugando alguns verbos que desconhecia. “Desapegar” é o principal. Isso tem sido muito bom e reflexivo porque mudanças na vida precisam trazer frutos e aprendizagem. Sei que vou chegar em casa, daqui a pouco, ao anoitecer. Algum tempo atrás eu inventaria algum lugar para ir. Hoje não mais. Aprendi que estar distante dos meus filhotes não significa perdê-los. Mas, sim, trata-se de uma nova forma de convivência. E que a quietude não é nada desesperadora – pensando bem, hoje é um artigo de luxo! E, na verdade, tenho apreciado a minha companhia.
Maeve diz
O ninho nunca fica vazio quando dentro dele temos Deus para conversar, rir e chorar um pouquinho…….livros, musica e obviamente.nòs mesmos……….eu convivo muito bem comigo mesma………..nòs nos damos muito bem….e voce tbem tem tudo isso. Logo vem os netos e a casa ficarà bagunçada outra vez! Curta bastante esse tempo.
Sadi Chaiben diz
O mundo é assim mesmo. Temos que nos adequar. Os amigos nunca substituem um ente familiar mas ajudam muito. Reuniões, danças, viagens nos ajudam. O trabalho também faz parte da substituição. Ainda mais usando a experiência profissional.
Grace Arrabal diz
Elisie a vida é um vai e vem,não demora sua casa estará cheia de sorrisos e travessuras maravilhosas; a gente nasce novamente quando chegam os netos; aguarde Deus nos recompensa com essa maravilha!
Silvia veras diz
Eu sai de casa com 15 anos para estudar… 5 irmãos, casa grande e alegre…e de repente um grande colégio e um mundo totalmente novo…isto tudo forjou em mim um caráter forte!!!sou irritantemente otimista… hoje uma mulher de fé maiuscula! Como vencer este mundo se não usarmos a fé?? Sei q os meus sonhos todos estão nas mãos do Senhor!!! E me pego sonhando e feliz pq creio q o melhor eh Ser… do q Ter…. coisas ou pessoas!!!! Sucesso amiga!!!Graca e muita Paz!!!!
Elisiê Peixoto diz
Silvia, voce eh tudo isso mesmo. Dona de uma fe genuina. E muito independente, sempre alegre, otimista. A vida eh mesmo para ser vivida, mesmo quandooa filhos batem asas! Bjsaa
Vivian Valente diz
Assim que temos filhos sabemos que serão para o mundo, preparamos nossos filhos para a escola, para a primeira noite fora na casa de amiguinhos, para a primeira viagem sem os pais, para o primeiro relacionamento, assim como nós nos preparamos também, mas quando chega a hora de eles baterem as asas, parece que tudo que fizemos ao longo de uma vida, simplesmente desaparece da nossa memória, acho que não queremos aceitar o fato de que o tal dia chegou.
Elisiê Peixoto diz
Vivian, eh bem assim….vc que tem o Thiago morando longe e eu o Fernando, vamos nos acostumando aos poucos…mas eh o caminho que escolheram! O que eh possivel fazer, fazemos. O que nao eh, pedimos a Deus. Bjss
Luciana diz
simples e verdadeiro. Estou entrando aos poucos nessa fase. Curtindo meus momentos sozinha e valorizando os encontros com elas. Ficar só não nos faz pessoas solitárias. Agora chegou o tempo de colhermos os frutos do tempo doado. Agora a casa é nossa, podemos reunir as amigas com mais frequência, ouvir as nossas músicas no volume que queremos e podemos nos dar ao luxo de cozinharmos ou não, dependendo da nossa fome. Chegou nosso tempo amiga. Quando quiser companhia chama. Beijo e Deus te abençoe.
Elisiê Peixoto diz
QUerisa Lu, quando escrevi, pensei em voce. Nova fase. Mas gloria a Deus, tudo normal e segundo a vontade Dele. Bjssss
Antenor Ribeiro diz
Mantemos o ninho aquecido de tal forma que vez por outra os filhotes retornam… e a cada encontro parece ser o dia em que nasceram e tivemos a alegria da chegada. Se é inevitável, façamos com que não seja doloroso o processo.
Elisiê Peixoto diz
Agradecemos a Deus por situacoes assim que fazem parte do ciclo naturalda vida!! Mesmo sendo dificil. Abs!!
Vania Melo Brandao diz
O ninho vazio so se preenche com amor. Amor do seu parceiro ou um novo amor, um novo parceiro. Alem disso o amor e carinho de receber os filhos e netos inundam nosso coração A vida é um ciclo e precisamos nos adaptar e aprender a ser feliz em cada momento dela. Sempre colhendo o que plantamos. Se amamos tanto nossos filhos eles sempre estarão próximos de nos.
Geo montoza diz
Como já passei pelo processo, tal como você, com dois filhos saindo de casa , sei bem o que é isso na prática. No segundo foi mais fácil. Sempre que a síndrome me atacava, eu pensava que eles estavam prontos para sair e isso tinha um significado muito especial. Eu acreditava ter sido bem sucedida na educação a eles ofertada. Eram auto-suficientes para tomar uma decisão que para eles também não era fácil: o grito de independência. E essa é seguramente uma das tarefas mais importantes a que eu, você e muitas outras mães nos dedicamos para que eles tivessem a coragem de serem donos de si e da própria vida .
Então Elisiê. estamos de parabéns E chegou a hora de tomarmos conta de nós mesmas, para nos nutrirmos de todas as formas que nos fazem nos sentir bem.
Ana Lucia diz
Não tenho muito como mensurar esta falta, mas é a vida que passa e nos cabe ter sabedoria, ou pedir muito por ela com fé, para tornar esta nova etapa tranquila , plena de coisas novas e aprazíveis. Com certeza os amigos serão muito importantes….
Lucia diz
Querida! A leveza ao escrever e o dialogar de coração para coração são sua marca registrada. Gosto imensamente das suas colunas! Sinto que estou com o ninho parcialmente vazio. Estou separada há três anos e tenho dois filhos incríveis, Guilherme de 25 e Flávia de 20, ambos moram comigo mas já sonham em voar. Uma parte de mim incentiva e acredita nesse caminho, aposta na autonomia de ambos e na possibilidade de fazer suas próprias escolhas, território que só a liberdade e muitas conexões podem construir. Outra parte de mim gostaria de morar em três casas bem próximas, para ficarmos “pertinhos e grudados” para sempre! Enfim, meu desejo é que eles sejam felizes, sensíveis e vivam em paz, muita paz!
Sandra Paolielo Piazzalunga diz
Que texto mais próximo da realidade q eu vivi recentemente !!! Super agradável de lêr como todos os seus textos querida amiga !!! E o.Portal vai trazer suas histórias pra nós de novo …muito bommm !!! Ninho vazio é vida q segue…e graças à Deus…dentro do ciclo normal da vida !!! Vamos pedir sabedoria p saber vivê-lo em plenitude !!!
Rosane diz
Querida amiga de uma vida inteira, como vc escreve bem, muito gostoso de ler, vc consegue dizer com clareza coisas que eu por ex não saberia expressar. Pensando no que escreveu, como é lindo observar o ciclo da vida, um dia deixamos também nossa casa, nossos pais, em busca de nossos sonhos, foi tão importante, foi uma aventura, construimos, conquistamos, filhos vieram e como nós, filhos seguiram, isso tb é uma conquista, uma vitoria, portanto, entramos em um novo ciclo e posso te dizer, pra mim, o melhor . Já já netinhos vão te coroar, bjs
Elisiê Peixoto diz
Obrigada Rosane,uma amizade de uma vida desde os nossos filhos bebes…tantas coisas ao longo desses anos…mas os ciclos são encerrados e outros se iniciam, a vida eh assim e temos que ser gratas a Deus por isso. Um grande beijo e muito obrigada!! Toda semana tem coisa nova!
Fernando Peixoto diz
Ô mãe! Não existe pessoa nesse mundo que signifique mais pra mim do que você. Eu sei que muitas mudanças aconteceram de supetão, principalmente minha vinda pra São Paulo. Mas saiba que da mesma forma que você sente falta da rotina de quando vivíamos juntos, eu sinto a sua aqui. Não digo nem pela comodidade, por ter louça e roupas sempre lavadas, ou até mesmo pela das nossas discussões… Existe um espaço vazio dentro de mim em relação à essas coisas justamente pela distância, e nada pode preenchê-lo. Mas eu aprendi e amadureci tanto mudando de cidade que hoje eu enxergo de forma muito mais clara o quanto você cumpriu seu papel de mãe de forma tão singular. E você sabe, mesmo com 500km entre nós, você continua sendo a mesma mãezona preocupada e disposta que eu sempre tive. Você ainda cuida muito bem de mim. Obrigado por ter dado o sangue por minha causa em tantas situações difíceis. Nada é mais valioso do que amor de mãe pra um filho! Amo você.
Elisiê Peixoto diz
Obrigada filho, que bom saber disso. Love you
monica Bastos diz
Linda mensagem desse filho amoroso, Eliziê!!