Elas estão rompendo tabus e comportamentos machistas e assumem o direito ao seu prazer. As mulheres representam 70% dos clientes das lojas especializadas. Hoje elas contam com a facilidade da compra pela internet ou do atendimento personalizado de uma consultora sensual.
Por Claudia Costa
O dia dos namorados ( 12/06) está chegando e, dentre as várias opções de presentes, alguns chamam a atenção dos casais. São os produtos eróticos, que têm uma grande variedade de itens e brinquedos como vibrador, óleo de massagem, anéis penianos, próteses, lubrificantes, lingeries e artigos de fetiches (algemas, vendas, chicotes).
A paulista Letícia Felician, 25 anos, médica-veterinária de formação, deixou de lado o trabalho em sua área para trabalhar como consultora sensual. Ela diz que desde muito jovem se interessava para entender mais sobre produtos eróticos e o prazer que o corpo pode proporcionar. “Eu sempre pesquisava vídeos e materiais na internet”, diz ela, que atende principalmente mulheres que estão na faixa dos 20 aos 55 anos, das classes A e B. Letícia trabalha com os produtos da A Sós, empresa líder do mercado e que patrocinou o filme “De pernas pro ar 3”. A consultora recebe treinamento semanalmente e sua empresa @o.prazer.e.todo.seu atende eventos como chás de lingerie, encontros de mulheres, despedidas de solteira/casada e datas comemorativas como o dia dos namorados.
Letícia explica que o seu atendimento personalizado ajuda a identificar a necessidade e as expectativas das suas clientes. “A grande maioria dos produtos que comercializo já testei com meu namorado, então eu consigo saber o que pode atender o que minha cliente deseja.” A forma tranquila e explicativa como a consultora sensual apresenta os produtos eróticos e fala sobre seus benefícios transmite segurança para quem está vendo pela primeira vez uma mala cheia de acessórios (esta jornalista que vos escreve).
As mulheres representam 70% da clientela
O mercado de produtos eróticos é um dos que mais cresceram no Brasil. De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), o setor previa superar a cifra de R$ 1,8 bilhão em receitas no ano passado.
A disparada é atribuída, principalmente, às facilidades – e discrição – proporcionadas pelo e-commerce e à maior participação das mulheres nas vendas. Elas representam 70% das consumidoras desses produtos. Além disso, os sex shops virtuais representam 90% de todas as vendas.
“O debate sobre o empoderamento sexual e o prazer feminino ajudou a implementar os negócios do setor”, diz o presidente da Abeme, Edvaldo Bertipaglia. “Além disso, fenômenos de massa, como novelas, filmes e revistas com informações sobre o universo sexual foram fundamentais para o mercado erótico no Brasil”, afirma o empresário em entrevista ao jornal Correio Braziliense.
“Os tempos modernos liberaram as mulheres de antigos tabus e de padrões machistas de comportamento”, afirma Paula Aguiar em entrevista recente ao Correio Brasiliense. Ela é empresária do setor e ex-presidente da Abeme. “Hoje em dia, as mulheres representam cerca de 70% das vendas dos sex shops e, graças a isso, estamos crescendo entre 30% e 35% ao ano desde o começo de 2018.”
De acordo com os dados da Abeme, São Paulo lidera o mercado brasileiro, com 33% das vendas do País. Em seguida aparecem Rio de Janeiro (16%) e Minas Gerais, com fatia de 11% do setor. Para o presidente da entidade, todos os mercados estão com as mulheres na liderança.
Mulheres contam que usam e abusam dos acessórios
A advogada Ana Lúcia, 45 anos, divorciada, moradora de Ribeirão Preto (SP), mãe de dois jovens, explica que nunca teve uma vida sexual satisfatória, nem na juventude e tampouco durante o seu casamento. Desde que se separou há dois anos ela só teve relacionamentos rápidos. Agora, Ana Lúcia resolveu conhecer alguns “brinquedos” e produtos como vibrador, óleos lubrificantes e de massagem. “Sou uma mulher adulta e mereço viver minha sexualidade em toda plenitude e com responsabilidade. A nossa criação castradora fez com que eu me sujeitasse a um casamento sem paixão e tesão. Não foi bom para nenhum dos dois. Agora, estou descobrindo o meu corpo e os meus desejos. Poder usufruir do prazer que o meu corpo pode proporcionar é um direito meu e de toda mulher”, salienta ela. A sugestão para ela conhecer os produtos foi do namorado, o empresário Antônio Carlos, que está viajando a trabalho e que por causa da pandemia deverá demorar um tempo até poder reencontrá-la. “Na hora eu fiquei chocada, até me senti rejeitada. Mas depois refleti e entendi que ele estava pensando no meu prazer. Espero em breve reencontrá-lo e poder usar com ele, mas até lá vou conhecendo melhor os ‘brinquedos’ que comprei.”
Já a veterinária Mariana, 24 anos, solteira, moradora de Curitiba (PR), diz que sempre consumiu produtos eróticos como óleos, vibradores, cremes, dentre outros. “Gosto bastante e melhora muito a relação com o meu namorado. Tenho vários produtos e estou sempre comprando. São objetos diversificados e os preços são bastante variáveis. Usamos quando tem alguma ocasião especial”, explica Mariana, que é cliente da consultora sensual Letícia. Ela salienta que tinha vergonha de frequentar um sex shop por ser algo íntimo, mas com o atendimento individualizado e as orientações da consultora ela ficou mais à vontade, pois existem o sigilo e a privacidade da cliente. “Eu tenho algumas amigas homossexuais que também usam esses acessórios”, diz Mariana.
A professora Ana Luiza, 46 anos, divorciada, moradora de Londrina (PR), explica que sempre gostou de usar produtos eróticos. “Mas o meu ex-marido era machista e não curtia. Acredito que os produtos e as brincadeiras ‘apimentam’ o relacionamento do casal”, explica, dizendo que desde moça sempre gostou de ler sobre o assunto para aprender mais sobre o prazer que o corpo pode proporcionar. “Faço alguns exercícios de pompoarismo (exercício íntimo que, com diferentes movimentos de contração vaginal, garante benefícios para a saúde e para a sexualidade feminina). Teve uma ocasião que me fantasiei para ele de enfermeira”, lembra a professora, salientando que usa vibrador, cremes, lubrificantes como Hot Ball Plus Gel, com sabor, calcinhas comestíveis, dentre outros. “Após os 40 anos, com o nascimento dos filhos, já não temos um corpo perfeito como das mocinhas. Essas brincadeiras ajudam a gente a relaxar na hora do sexo e não ficamos preocupadas se o corpo é perfeito, pois seu companheiro vai ficar ligado nas ‘brincadeiras’”, salienta Ana Luiza.
A veterinária gaúcha Olivia, de 24 anos, diz que antigamente tinha preconceito de usar produtos eróticos, mas que hoje em dia vê com naturalidade esses acessórios na hora do sexo. Ela conheceu os produtos com a consultora Letícia. “A consultora conversa com naturalidade, explica os diversos produtos como óleos de massagens e demais aparelhos. Já faz mais de um ano que uso, algumas vezes com meu namorado. Quando contei para o Mateus ele deu uma risada meio sem graça, percebi que ficou constrangido. Mas agora ele está bastante acostumado”, diz Olívia, que acrescenta que o uso dos produtos mudou a vida sexual dela. “É uma sensação bem diferente em relação a uma masturbação comum sem nenhum aparelho. Com o vibrador a sensação de prazer é prolongada. Eu recomendo o uso. Nós gostamos bastante”, explica.
O que os homens pensam sobre usar produtos eróticos?
Muitos casais apimentam o relacionamento sexual usando produtos eróticos. Foto: Pixabay
“Já usei várias vezes. Sou fã de brinquedos eróticos para apimentar a relação sexual. Tanto eu como minha namorada sempre compramos vários acessórios para fazer surpresa para o outro. Só ficamos sabendo o que é na hora, sem aviso prévio. Já usamos vibradores, plugs, cordas e vendas. Ela já usou calcinhas eróticas. Também usamos velas para usar nas partes erógenas. Para nós esses produtos eróticos acabam propiciando um maior prazer durante o sexo. Eles permitem brincarmos com as nossas fantasias e descobrirmos pontos erógenos que às vezes recebem pouca atenção durante as preliminares”, afirma o jornalista Fábio, 54 anos, morador em Curitiba (PR), e que namora uma garota de 40 anos.
“Nunca usei nenhum produto erótico nem na época de namoro e tampouco depois de casado. Nunca investi nisso. Mas tenho curiosidade, sim”, afirma o professor Ronaldo, 54 anos, Londrina (PR).
“Eu curto esses produtos. Mas acho que a iniciativa de comprar esses acessórios é mais da mulher.”
Mário, 50 anos, Rio de Janeiro, professor
“Se minha namorada aparecer com um vibrador eu falo para ela ficar com ele. Não aceito esse tipo de fetiche.”
Júlio Cesar, 54 anos, vendedor, Londrina (PR).
*** Os nomes das pessoas entrevistadas nos depoimentos são fictícios para preservar a identificação e a intimidade.
Serviço
O prazer é todo seu/ Leticia consultora sensual – fone (11) 97095-2882
Instagram @o.prazer.e.todo.seu
Site A Sós- vocês podem tudo – https://produtosasos.com.br/a-sos/
Agradecimento:
Revisão de textos: Jackson Liasch (fone (43) 9 9944-4848 – e-mail: jackson.liasch@gmail.com)
Fonte
Marquinho Gomes diz
Ideia delas. Perfeito, Falando sério dos brinquedos e do prazer ao alcance das mãos. Sem rótolos e charmoso.
Claudia Costa diz
Muito obrigado Marquinhos, a opinião de um jornalista que eu admiro e respeito é muito importante para mim. abraços!!!
Valtemir Soares diz
É incrível que em pleno século 21, a sexualidade humana ainda é tratada como um tabu e uma grande parte das pessoas tenha dificuldade de lidar com o prazer do próprio corpo e do da parceira ou parceiro. Assim, matérias como esta são bem-vindas para lançar um pouco de luz sobre o tema que ainda é abordado às sombras por muitos. Parabéns pela abordagem!!
Claudia Costa diz
Obrigado por suas considerações. Abraços!!