O Presidente do Instituto MetaSocial, Fernando V Heiderich, explica o trabalho que realizam pela inclusão laboral de pessoas em situação de deficiência, salientando que elas agregam valor para os negócios e para as pessoas.
Por Claudia Costa
Antes mesmo do filho nascer, os pais já estão fazendo planos para o seu futuro. E quando essa criança nasce com alguma deficiência (física ou intelectual), os pais levam um “choque” e vão assimilando aos poucos a realidade do filho. Não é por falta de amor, mas sempre idealizamos os filhos “perfeitos”, mas ninguém é perfeito. Lidar com a deficiência do filho e buscar meios para ele ter uma vida feliz, com autonomia é um grande desafio. Tanto o pai como a mãe não sabem como agir e o medo com o futuro do filho, o preconceito que ele vai enfrentar são “fantasmas” que rondam suas mentes. “E quando eu não estiver mais aqui, como vai ser a vida do meu filho, quem vai cuidar dele? Esses São alguns dos pensamentos que rondam a mente dos pais”.
Nesta entrevista, com Fernando Heiderich, presidente do Instituto MetaSocial, ele fala sobre o trabalho de inclusão e promoção do conhecimento, visando diminuir os níveis de exclusão e desigualdades social.
O Instituto MetaSocial www.metasocial.org.br é uma Organização da Sociedade Civil, criado há mais de 25 anos, que tem por finalidade, individualmente ou em parceria com outras entidades, a promoção de atividades de relevância pública e social, a promoção da diversidade, o desenvolvimento humano, a diminuição dos níveis de exclusão e desigualdade social. O instituto executa projetos com vistas à criação de condições e oportunidades para que crianças, jovens e adultos possam ampliar plenamente seu potencial como pessoas, cidadãos e futuros profissionais, por meio de programas e ações nas áreas de cultura, entretenimento, saúde, trabalho, construção do conhecimento, qualidade de vida, cidadania, esportes, artes, preservação do meio ambiente, sustentabilidade e inclusão. Fernando conhece de perto a realidade de pessoas com deficiência. Ele é pai de uma jovem com síndrome de down, a Tathiana Piancastelli, de 37 anos. Ela tem uma vida produtiva, é atriz, ativista, e criadora de conteúdo digital.
A pessoa com deficiência pode ter uma vida profissional produtiva e satisfatória?
Naturalmente que sim! As pessoas em situação de deficiência podem muito mais do que a gente imagina. Só precisam de oportunidades e apoios. Na medida certa para cada uma. E vale lembrar que na vida profissional, a inclusão laboral traz benefícios para as outras pessoas da área na empresa e, consequentemente, para o negócio como um todo. Sim podem ser produtivas e agregam muito valor.
Onde as famílias podem buscar ajuda?
Nas diferentes organizações da sociedade civil (OSC’s) como o Instituto MetaSocial, nas federações, na ANEA (Associação Nacional do Emprego Apoiado) etc. Selecionem as que acreditam na educação inclusiva, que não usem ‘oficinas protegidas’ e que façam uma inclusão real em todos os sentidos, seja escolar, social ou na empregabilidade.
A partir de que idade os pais ou responsáveis devem iniciar a busca de colocação profissional para a pessoa com deficiência?
A partir da mesma idade dos outros filhos. Seja com 16 ou 18 e vai depender da situação de cada uma. O importante é que criem seus filhos e filhas de tal forma que tenham autoestima e autoconfiança. Só assim se sentirão empoderados para a vida plena e inclusiva.
Qual a principal dificuldade de colocação profissional?
Atualmente ainda temos muita falta de informação por parte das pessoas que lideram as empresas. Ainda há muito capacitismo, que é o preconceito com as pessoas em situação de deficiência. Ao ignorar o valor que essas pessoas agregam, perdem a oportunidade de ganhar com a diversidade e aumentar o rendimento do negócio.
Existe capacitação especifica para pessoas com deficiência?
Existem metodologias mais adequadas para pessoas que precisam de mais apoio, sejam com ou sem deficiência. Nós, no MetaSocial, temos diversos cursos de pré-formação profissional com uma metodologia que inclui linguagem simples, acessibilidade e o EA (Emprego Apoiado), dentre outras coisas.
Como você vê a legislação brasileira quanto a questão profissional da pessoa com deficiência?
Temos boas leis, mas com baixíssima aplicação na prática. A Lei de Cotas é um exemplo disso. Não chegamos nem a 50% de execução da lei, que já tem 30 anos! E veja que ela estabelece níveis bem baixos de inclusão laboral. De 1 a 5% do total de colaboradores quando pessoas em situação de deficiência chega a 14-15% da população. Tem um gap grande ai e precisamos rever isso logo. Mas mesmo assim não são cumpridas e a impunidade ainda é uma realidade.
Explique o trabalho que vocês desenvolvem no MetaSocial?
Focamos em dois pilares: o da informação e o da empregabilidade. No primeiro informamos sobre as potencialidades das pessoas em deficiência e o ganha-ganha da convivência com elas. E fazemos isso usando uma abordagem de ‘agenda positiva’. Nada de pena, de especial, de coitadinhas. São pessoas com suas características como todas são. Nosso slogam principal é “Ser Diferente É Normal” e comunicamos a diversidade onde todos ganham. No segundo, promovemos a inclusão laboral como ferramenta de agregação de valor para os negócios e pessoas. E fazemos isso através de uma metodologia própria que inclui o EA, uma metodologia que trabalha a pessoa, os responsáveis/família e a empresa. Antes durante e depois da inclusão laboral. Por isso vamos além da cota. Na verdade, nosso propósito vai além pois ganham também os governos e a sociedade como um todo.
Quantas pessoas vocês conseguiram inserir no mercado de trabalho?
É difícil quantificar pois atuamos no Brasil todo e muitas delas são incluídas também indiretamente pelas nossas campanhas e nossos diversos cursos de pré-formação. São centenas de pessoas envolvidas nos nossos cursos como por exemplo o ‘Sou+Pet’, que prepara pessoas para trabalharem em petshops. Temos também o ‘Sou+Loja’ que prepara para trabalharem no varejo. O ‘Sou+Office’ prepara para trabalharem nos diversos tipos de escritórios e por ai vai. Temos ainda o ‘Sou+Digital’ que prepara as pessoas para a inclusão digital, muito importante para qualquer um. Aprendem a usar as redes sociais, ‘netiqueta’ etc. Estamos finalizando o ‘Sou+Autonomia’ que trabalha somente as habilidades sócioemocionais, coisa fundamental para qualquer individuo. Em todos os cursos e turmas temos pessoas em deficiência e também sem deficiência mas sob vulnerabilidade social. Dessa forma tudo o que fazemos é inclusivo. Nada separado. Sempre eventos, campanhas, turmas e classes inclusivas. Como diz a Tathi Piancastelli, ”tudo junto e misturado’.
Oferecemos também cursos de formação em EA (Emprego Apoiado) em parceria com a ANEA. Essas informações estão no site www.metasocial.org.br .
As empresas brasileiras recebem alguma orientação para ajudar na adaptação da pessoa com deficiência física?
Sim, especialmente com relação à acessibilidade que deve ser plena. As empresas recebem orientações num processo muito mais amplo que inclui mudança de cultura e que termina com resultados melhores e mais sólidos. Não só na deficiência física mas em todas elas.
Que dica você como pai de uma filha com deficiência dá para os pais, muitos superprotegem com medo dos seus filhos sofrerem. Sua filha tem uma vida autônoma?
Sim a Tathiana tem muita autonomia e, assim como as duas irmãs (Ana Cibele e Debora), acho que isso se deve primeiro a cada uma delas e ao fato de termos sempre estimulado o protagonismo e as empoderando para que se sintam capazes. A autoestima e a autoconfiança são matérias primas da autonomia. Permitir que tentem, que errem e que façam é permitir que aprendam. E assim foram criadas desde bem cedo. Fundamental não infantilizar, não fazer por elas o que elas podem fazer e permitindo que vivam plenamente sua liberdade de escolha, suas preferências e ao mesmo tempo que tenham suas tarefas e seus propósitos de vida.
Se a Tathiana se tornou a bem conhecida influncer digital @tathipiancastelli e faz sucesso com as pessoas e empresas/negócios, foi e é por méritos dela, que soube construir autonomia e assumiu sempre o protagonismo da vida. A gente só ofereceu os apoios e pavimentou a jornada das três com empoderamento e ao mesmo tempo com os adequados sensos de coragem, responsabilidade e humanidade.
Serviço:
Instituto Metasocial
e-mail: contato@metasocial.org.br
Sede: Rua: Artur de Azevedo, nº 1767, Salas 154/155, Pinheiros, São Paulo – SP
CEP: 05404-014
Ana diz
Claudia, como faço para compartilhar no instagram? Consegue me mandar a materia pelo whatsapp?
Reinaldo C Zanardi diz
Boa reflexão. A pessoa com deficiência pode e deve ter vida produtiva, mas a inclusão não ocorre por mera bondade. A oportunidade não
é uma decisão individual. Tem de ser uma política pública, com ação coletiva. É preciso leis e fiscalização para que se cumpra. Parabéns ao instituto pelo trabalho.
Dayse Betania da Silva diz
Excelente texto!
Fabio Costa Prado diz
Parabéns pela entrevista.
Como diz o Fernando, as empresas, assim como a sociedade como um todo, só têm a ganhar com a inclusão ativa de todos os tipos de pessoas, com as mais diversas características. A convivência quebra estigmas.
Adriana Fernandes diz
Fico tão feliz em tomar conhecimento de um trabalho tão bonito, que visa o desenvolvimento e aprimoramento de nossa sociedade como um todo, pela inclusão (verdadeira) …
Tornando autônomo e valorizanfo a colaboração do diferente . Acredito ser este o caminho ..,
Parabéns pela matéria !
OLAVO diz
Que matéria esclarecedora e motivacional, lembro-me que em meados da década de 80, eu trabalhava em uma empresa no ABC paulista, que já tinha em seus quadros de funcionários, pessoas especiais, na ocasião trabalhava na fábrica um rapaz com dificuldade motora, mas os responsáveis dos setores operacionais sempre davam funções que não fossem perigosas, isto me faz crer que na sociedade e os empreendedores e industriais, em sua maioria têm a bondade e a consciência em abrir oportunidades a todos.
Parabéns pela matéria, vou seguir a Tathiana e compartilhar esta matéria.
Alessandra Fanelli diz
Fantástico o trabalho do Instituto Meta Social, eu ainda não conhecia. Pela matéria é possível ver que a família conseguiu manter o foco nas potencialidades da Thatiana, é nossa postura em casa também com nossa filha Isadora, que tem paralisia cerebral. A sociedade ainda fica nas dificuldades das pessoas com deficiência, é necessário uma mudança cultural.
Parabéns pela matéria!