Por Claudia Costa
“ A pessoa só faz com a gente o que permitimos”. Essa frase ouvi certa vez de uma psicóloga que me fez refletir sobre determinadas situações. É certo que existem exceções, mas na maioria das vezes, até para não ter uma discussão, acabamos aceitando comportamentos que nos provocam tristeza e mal-estar. Se não colocarmos um ponto final nisso, esses fatos vão se avolumando, aumentando de frequência e podem até chegar à agressão. A relação abusiva pode ser de cunho psicológico, verbal ou físico.
Um relacionamento abusivo ou tóxico nem sempre envolve agressão física, muitas vezes ele é sutil e vai destruindo aos poucos a autoestima da pessoa. Calar-se perante os fatos pode ser uma reação adquirida no seio familiar através da educação que recebemos. É fato que também existe muito relacionamento abusivo na própria família.
Alguns sinais frequentes de relacionamento abusivo envolvem desde o controle sobre a sua vida, de situações banais, como definir a roupa que você pode usar, sobre as pessoas com quem você pode conviver. Sempre com argumento/desculpa de que “eu sei o que é melhor para você”. E muitas pessoas não percebem que esse controle é um abuso e não um gesto de amor.
O companheiro (a) abusador(a) não pode ver o sucesso do parceiro (a), sempre diminui as conquistas do parceiro, visando minar e acabar com a autoestima do parceiro para que ele não tome as próprias decisões.
A chantagem emocional é um comportamento frequente do abusador. Ele joga a culpa para o outro, mesmo quando ela não existe. É um jogo de poder no relacionamento que visa minar as decisões e a autoestima da outra pessoa. Essas atitudes podem tomar grandes proporções e se transformando em até agressão física.
Nesta matéria ao Portal IDEIA DELAS, três profissionais bem-sucedidos em suas áreas contam como viveram relacionamentos abusivos e como conseguiram superar e se desvencilhar destes relacionamentos nocivo à sua saúde mental. Vamos aos depoimentos:
Alesandra, 47 anos, Mentora & Coach, divorciada, Londrina.
Você tinha consciência de que seu relacionamento era abusivo? Como você lidava com a situação?
Eu não tinha consciência que vivia um relacionamento abusivo. Fui compreendendo aos poucos até que decidi sair da relação e aí ficou bem nítido.
Como eu não tinha clareza que vivia um relacionamento abusivo, no meu entendimento ele apenas não era bom, então eu focava no trabalho e nos filhos, e assim “lidava” com a situação, sendo que essa vivência vai matando aos poucos a autoestima e as relações da mulher, ela vai se achando ruim e cada vez pior em todos os papéis que ocupa, até que ela questiona sua própria existência.
Muitas pessoas acreditam que o comportamento do companheiro é por AMOR, você viveu isso?
Sim, essa é a “justificativa” do comportamento abusivo. No entanto, preciso dizer que não existe vítima e algoz, ambos são vítimas de um vício emocional, e ambos têm a sua parcela de responsabilidade deste relacionamento ser dessa forma. É como na natureza, existe o hospedeiro e o parasita, e ambos se acomodam nessa relação, criando dependência e acreditando que essa é a única forma de sobreviver.
Por quanto tempo viveu essa situação?
Foram 12 anos. É importante ressaltar também que não foi o primeiro relacionamento abusivo, mas sim o último! Não foi o primeiro porque hoje entendo que eu tinha esse vício emocional que me conduzia a essa repetição de padrão nas relações… o famoso “dedo podre”.
Pode contar um pouco (citando um exemplo) de situações?
Vivenciei traições, desrespeitos verbais, indisponibilidade para a família e falta de afeto. Tudo que era dele, era dele e tudo que era meu, era nosso. Além de ofensas, desprezo, ameaças, dentre outros.
Como conseguiu romper com esse relacionamento doentio ?
Através de terapia, mergulho profundo no autoconhecimento, e medida protetiva. Busquei ajuda profissional, pois eu sentia vergonha de contar o que vivia, parecia ridículo, ninguém acreditaria
Há quanto tempo você rompeu com essa situação? Você se sente mais forte agora?
Há quatro anos rompi com esse relacionamento tóxico. Hoje não me sinto mais forte, me sinto mais preparada e com mais conhecimento sobre mim mesma para não mais me colocar em situações que me levem a repetir essa experiência, estes vícios emocionais.
Esse relacionamento abusivo deixou alguma “sequela” emocional em você?
Claro que sim, em todos os envolvidos… a cura é um processo…
Qual a sua sugestão para quem está vivendo esta situação?
Não se feche, não se esconda atrás dos excessos de trabalho, maternidade, o que for, não aceite viver com menos do que muito amor, respeito, companheirismo, etc.
É importante dizer que o relacionamento abusivo não começa na vida adulta, aqui ele apenas se manifestou… por isso considero uma relação de dependência entre duas vítimas. A semente de toda relação abusiva do adulto está na infância.
Rafael , 46 anos, solteiro, auxiliar de enfermagem , Londrina.
Você tinha consciência de que seu relacionamento era abusivo? Como você lidava com a situação? No começo dos relacionamentos vem o desejo de ser seguro um para o outro. Ouvir e conversar sobre o que gosta e o que não faz bem em um relacionamento. Isto para dar conhecimento do seu dia a dia do outro, então não se esconde, mas depois vem as cobranças.
Muitas pessoas acreditam que o comportamento do companheiro é por AMOR, você viveu isso? Sim, ela dizia que o ciúmes era por amor. O sentimento de posse começa a sufocar.
Por quanto tempo viveu essa situação? Vivi essa experiência com duas namoradas e durante três meses.
Pode contar um pouco (citando um exemplo) de situações? Geralmente ela me perseguia, me vigiava, salvava as postagens das minhas redes sociais. Nossas conversas não era algo afetuoso de um casal apaixonado, eram conversas longas que pareciam com um interrogatório e que eu tinha que contar detalhes sobre o meu dia a dia. Ela fazia comparações, tinha ciúmes de outras mulheres, chorava, gritava e agia com vitimização (se fazia de vítima).
Há quanto tempo você rompeu com essa situação? Buscou ajuda de algum profissional ou pessoas amigas? Terminei o relacionamento há três meses, conversei com ela e disse que poderíamos ser apenas amigos. Não procurei ajuda profissional, apenas conversei com meus amigos.
Você se sente mais forte agora? Esse relacionamento abusivo deixou alguma “sequela” emocional em você? Me deixou com um sentimento de cobrança que eu não quero para minha vida. Eu não quero em um relacionamento doentio, com ciúme exagerado. Isso afeta nossos sentimentos, alma e energia.
Qual a sua sugestão para quem está vivendo esta situação? Compartilhe o que esta vivendo com os amigos mais íntimos e familiares. Eles podem te ajudar dando opiniões que te fazem refletir. Profissionais só em último caso, se houve abuso físico e abuso psicológico que deixaram sequelas e que precisam de cura.
Mirian, 50 anos, divorciada, empresária, Londrina.
Você tinha consciência de que seu relacionamento era abusivo? Como você lidava com a situação?
Mãe, cristã e uma mulher que ama viver
Desde o início eu percebi que tinha algo errado, não conseguia identificar o que, mas houve vários sinais desde o início. Só consegui visualizar de fato os abusos depois de algum tempo que eu saí da relação.
Muitas pessoas acreditam que o comportamento do companheiro é por AMOR, você viveu isso? Sim, como eu vim de uma história familiar pouco acolhedora e amorosa, quando me deparei com este “cuidado todo” eu pensei que era uma forma de amor.
Por quanto tempo viveu essa situação? Foram 22 anos.
Pode contar um pouco (citando um exemplo) de situações? Logo no começo ele não deixava eu sair sozinha, eu tinha uma viagem programada com amigos, tive que cancelar. Não deixava eu andar de transporte público sozinha, com medo de eu conhecer outra pessoa. Me propôs me buscar e levar todos os dias de casa para o trabalho, como para mim era conveniente, (quem quer andar de ônibus?) eu aceitei. Mudou a data do meu aniversário, não deixava eu visitar meus familiares. Minha identidade foi aos poucos sendo desconstruída.
Sempre pediu para eu sair do meu trabalho para que eu ficasse “cuidando da casa”, insistia muito nisso, eu pedi demissão por três vezes, meu antigo patrão não aceitava meu pedido de demissão, me dizia para pensar melhor. Hoje eu sou uma das sócias da empresa.
Como conseguiu romper com esse relacionamento tóxico? Após alguns anos de casamento ,veio a primeira traição, eu perdoei, dois anos depois veio a segunda, e na terceira vez, a vergonha ardia na cara.
Há quanto tempo você rompeu com essa situação? Depois que eu decidi me separar, ainda demorei um ano para conseguir de fato me separar. Tive acompanhamento de terapia, onde fui entendendo que eu estava num relacionamento abusivo. Minha separação de fato ocorreu há 4 anos.
Buscou ajuda de algum profissional ou pessoas amigas? Quando eu estava com dez anos de casada, ele me proibiu de doar sangue, de dirigir e de fazer a faculdade que eu queria, aí eu procurei ajuda do meu pastor. Ele me disse que eu teria direito de fazer tudo aquilo, mas que se eu o fizesse iria acabar com meu marido. Com isso eu entendi que eu teria que aguentar como estava. Depois de 12 anos, quando eu decidi me separar, o pastor que celebrou meu casamento me disse, você pode separar, mas vai perder a guarda dos teus filhos. Hoje eu entendo que nem todas as pessoas que você julga capaz de ajudar e se propõe a ajudar tem condições de fazer isso. Boa vontade não te capacita.
Você se sente mais forte agora? Esse relacionamento abusivo que você vivenciou deixou alguma “sequela” emocional em você?
Hoje estou reconstruindo a minha identidade, leva tempo, a sequela emocional existe. Ainda não confio em nenhum relacionamento, me distanciei da igreja e penso que na verdade o grande erro foi eu ter confiado nas pessoas.
Qual a sua sugestão para quem está vivendo esta situação? Eu penso que identificando o abuso, procurar ajuda de um profissional para que de fato possa ajudar. Conversas com amigas também ajudam muito. Na minha opinião, a pessoa que sofre desse abuso emocional, não tem forças para reverter esta situação sozinha.
Obrigada ao portal IDEIA DELAS pela oportunidade de ajudar outras mulheres, contando um pouco da minha vivência!.
Todas as fotos são ilustrativas: Pixabay
Enrique Moliba diz
É difícil perceber quando está num relacionamento tóxico ou doentio. Requere-se coragem, atitude e saber pedir ajuda…!
Uma matéria necessária e urgente para os tempos que vivemos. Parabéns…!
Nadia Essada diz
É muito triste saber que há muitos relacionamentos abusivos e que os envolvidos não percebem até que algo pior aconteça.
A auto estima é uma arma poderosa pra que uma pessoa não se deixe levar pelas loucuras e obsessões do outro.
Marise Saderi diz
Três depoimentos dolorosos, porquê envolve o sentimento mais nobre, que é o Amor . Nós somos criados para amar e sermos amados, e desde criança nós sonhamos com algo como nos contos de fadas.
Infelizmente quando você mergulha em um relacionamento você quer tanto que seja eterno, que muitas vezes, as pessoas não tem coragem de enxergar a dura realidade, e sofrem muito, porquê elas mesmas se sabotam, minimizam os problemas, às agressões físicas e verbais.
E, por isso eu acho válido o constante acompanhamento psicológico, poder ter um parecer de alguém que não convive e tem experiência em relacionamentos.
Afinal, a vida é curta para perdermos tempos com pessoas tóxicas e colecionarmos traumas e feridas. Nunca é tarde!
Bjs 😘
Rozangela diz
Infelizmente hoje é muito
Comum relacionamento abusivo , triste, e muitas vezes a gente tenta ajudar mas a pessoa tem que querer mudar e perder o medo …
Parabéns pela matéria muita necessária 👏🏽👏🏽👏🏽