…enchemos a vida
de filhos
que nos enchem a vida
um me enche de lembranças
que me enchem
de lágrimas
uma me enche de alegrias
que enchem minhas noites
de dias
outro me enche de esperanças
e receios
enquanto me incham
os seios. “,
Alice Ruiz – trecho do livro “Dois em Um “
Por Claudia Costa
A maternidade ainda é um sonho e desejo para a maioria as mulheres. Algumas gerações de mulheres que vivenciaram e/ou tiveram contato com a luta pela emancipação feminina, a busca da igualdade e pelo reconhecimento dos seus direitos tão batalhados pelos movimentos feministas sentiram consciente ou inconscientemente a pressão da sociedade para NÃO reproduzir o comportamento da geração das suas mães, que tinham como objetivo o casamento, filhos e a construção de uma família. Então, a realização profissional se tornou um objetivo importante, fazendo com que muitas postergassem o sonho de ser mãe, como se o tempo não fosse mais um empecilho fisiológico para uma mulher gerar um filho, tendo em vista o avanço da medicina etc.
Eu mesma fui mãe aos 32 anos e casar e ter um filho sempre foi um desejo, mas devo confessar que a minha carreira profissional foi o meu principal objetivo por um longo período. Em 1993 quando decidi e planejei meu filho não me passava pela cabeça que talvez tivesse dificuldade para engravidar e que poderia não ser um processo natural e fácil. Felizmente no meu caso foi e quando planejei, eu engravidei, e o Lucas esta ai hoje com 26 anos.
Assim como eu, muitas mulheres por questões profissionais acabam adiando o sonho da maternidade e quando decidem engravidar se deparam com obstáculos e problemas que dificultam a realização do sonho de ser mãe. Aqui não vamos entrar no mérito da opção da adoção de uma criança, pois o tema desta matéria é a superação dessas mulheres que não abriram mão de sentir em seu ventre a gestação de um filho. Esses são os casos Jenifer Batista, especialista em marketing e comerciante , e da jornalista Claudia Lopes que deram depoimentos emocionantes para o Portal IDEIA DElAS sobre como batalharam para engravidar e gerar um filho.
JENIFER BATISTA
“Sempre sonhei em ter um bebê. Pensava que ainda que fosse uma produção independente iria fazer de tudo para realizar meu sonho. Quando casei a condição imposta foi o marido também querer ter um filho. Hoje, muitas pessoas já não tem o desejo de ter filhos.
Casei com 35 anos e o plano era ter filho não imediatamente. Estávamos começando nossa vida a dois, eu havia me mudado recentemente para Curitiba (PR) e queria antes, estabelecer-me financeira e profissionalmente. Eis que nesse período iniciamos alguns negócios próprios e com isso a maternidade foi sendo adiada. No entanto, anualmente eu me consultava com ginecologistas para saber se estava tudo bem, afinal o tempo estava passando. Em todas as consultas e todos os exames sempre eram positivos. Aliados a isso, minha geração cresceu ouvindo que ter filhos depois dos 40 anos já não era mais um problema. Ouvia que a medicina estava muito evoluída e que a vizinha, a cunhada de não sei quem teve filhos com 42, 45 anos. Com isso, confesso que negligenciei e nunca fiz uma busca no Google sobre o assunto.
Há aproximadamente quatro anos resolvemos finalmente ter nosso bebê. Voltamos ao médico. Eu e Juliano fizemos todos os exames novamente e tudo lindo. Cerca de seis meses de tentativa e engravidamos. Foi a minha alegria. Porém, a gravidez não evoluiu e com oito semanas tive meu primeiro aborto. Foi chocante. Nunca esperava que aconteceria comigo. Mas enfim, juntados os cacos, em aproximadamente um ano depois engravidei novamente. Aquela alegria, mas dessa vez tinha um medo acompanhando… com seis semanas abortei também. Uma tristeza sem fim. Foi aí que a minha médica ginecologista indicou uma investigação mais específica com um médico especialista. Após inúmeros exames identificamos o básico, devido a minha idade, 40 anos na época, minha reserva ovariana era baixíssima. Normalmente, quando isso acontece, a qualidade dos óvulos também está comprometida, o que dificulta a gravidez, causa abortos ou mesmo evolução de bebês com várias síndromes, inclusive de Down. Fiquei muito brava com os médicos, pois nunca foi me pedido um exame anti-mulleriano para saber como era minha reserva. Entenda que O HAM é um dos exames que oferece a estimativa mais aproximada da quantidade de óvulos que uma mulher pode produzir, já que ainda não é possível saber o número exato. Se eu soubesse “desse detalhe”, nosso planejamento familiar seria diferente. Foi aí que comecei minhas pesquisas sobre o assunto e descobri que a medicina ainda não consegue aumentar a quantidade e nem melhorar a qualidade dos óvulos que a mulher “estoca”. Quando fala em evolução da medicina, quer dizer sobre gravidez assistida. Só não dão ênfase que que são tratamentos bem caros e que as chances de positivo giram em torno de 50% pra menos. Mas enfim, a opção então foi primeiro tentar engravidar por Coito programado. Mais duas tentativas frustradas. Decidimos então pela Fertilização in Vitro.
Primeira tentativa foi com um médico de Curitiba. Após as estimulações, tive apenas três óvulos. Após os dias de fertilização, não tive nenhum embrião para implantar. O médico chegou à conclusão que realmente meu maior problema seria a qualidade dos meus óvulos devido à baixa reserva. Eu poderia fazer mais outras tentativas e quem sabe em algum momento poderia ter a sorte de ter um embrião saudável para implantação, mas isso levaria tempo e custaria muito dinheiro. Nossa opção foi pela ovorecepção (A fecundação do óvulo doado acontece com o espermatozoide do marido da receptora e, após a fertilização, é transferido o embrião já fecundado para o ovário. Nesse tratamento, a receptora precisa tomar medicamentos para o espessamento do endométrio, necessário para a gestação. O tratamento possui alta taxa de sucesso, que chega a até 70% por tentativa.).
Eu iria tentar engravidar com óvulos de outra mulher mais jovem. Nesse caso, em geral o tratamento acaba sendo mais caro porque você paga o seu e uma parte do tratamento da doadora (por isso ela doa os óvulos dela). Para essa tentativa optamos por um médico de São Paulo porque era muito bem recomendado e eu imaginava que o banco de doadoras dele seria maior. Eles mandam vários cadastros, quase igual um currículo, pra você avaliar. A identidade da doadora é sigilosa, eu não tenho acesso. Algumas clínicas mandam a foto da pessoa quando criança. A doadora que eu escolhi tinha 22 anos. Todo o processo dessa fase durou cerca de 2 meses. É um período de muita ansiedade. Nessa tentativa só tive um embrião bem fraco, porém, não passou na biópsia. O médico me indicou trocar de doadora. Lá fomos nós… mais quatro meses de tratamento porque nesse meio tempo também descobrimos uma fragmentação no DNA espermático do meu marido Juliano.
Finalmente conseguimos dois embriões saudáveis para implantar. Em novembro de 2019 fizemos a transferência do embrião do nosso menino. Após dois descolamentos de saco embrionário e repouso absoluto durante quase toda a gravidez finalmente em 20 de Julho de 2020 nasceu nosso polaquinho lindo, Nicolas. Hoje, ele está com quatro meses, mais de 8kg. Forte, perfeito e saudável, graças a Deus. Nicolas tem uma irmã gêmea que ficou “congeladinha” para ser implantada futuramente. Os médicos aconselharam implantar um embrião por vez, pois gravidez de gêmeos na minha idade é sempre bastante arriscado. Pretendemos transferir nossa menina quando o Nicolas fizer um aninho.
Claro que durante o processo a gente pensa em desistir. É extremamente desgastante, frustrante, caro… a gente se pergunta se realmente é vontade de Deus que tenhamos filhos, essas coisas… mas no nosso caso também fizemos um planejamento de quantas tentativas conseguiríamos financiar. Pelos nossos planos, se a segunda tentativa com doadora não desse certo, tentaríamos adotar um embrião (óvulo e espermatozoide de terceiros). Se não desse certo talvez tentaria uma adoção de criança. Sempre pensamos em adotar. No entanto, eu sempre quis muito um bebê e no Brasil a adoção de bebês demora mais de cinco anos. Por esse motivo acabamos decidindo abandonar essa ideia. Eu queria ser mãe agora. Não teria mais emocional para esperar mais cinco anos.
O meu marido foi incrível no processo. Aceitou totalmente as minhas decisões, afinal, toda parte de medicação e os efeitos colaterais são sofridos pela mulher. Mesmo quando a infertilidade é masculina, ainda será a mulher que tomará todos os hormônios e outros medicamentos para a concepção do bebê.
Também ouvia muitas pessoas não aceitarem óvulos ou esperma de um doador porque achavam que o filho não seria da pessoa. Sugiro estudarem um pouco sobre epigenética…
Meu conselho para todas as mulheres que querem ter filhos um dia, principalmente as com mais de 35 anos, é que façam o exame antimulleriano para saber como está sua reserva. Caso tenham o primeiro aborto, já iniciem um processo de investigação profunda. Muitos médicos, infelizmente, trabalham por tentativa e erro. Investigam apenas um único problema. Quando a gravidez “dá errada” é que investigam outras possibilidades. Com isso o tempo passa, nosso emocional fica cada dia mais fragilizado, e o valor investido aumenta muito.
No meu processo investimos mais de 80 mil reais. O plano de saúde cobriu algumas consultas e a maioria dos exames médicos que são muitos, tanto de sangue como de imagem que são muito importantes”, 43 anos, profissional de marketing, mora em Curitiba (PR), é casada com o engenheiro de segurança, Juliano Moraes.
CLAUDIA FERNANDES LOPES
“Durante minha vida, eu tentei engravidar várias vezes por breves períodos de tempo, mas nunca consegui. No fundo eu sabia que poderia ter alguma coisa errada, mas como foquei em projetos profissionais e também morei fora do País por muitos anos acabei esquecendo do sonho da maternidade.
Na verdade, esse sonho ficou guardado em algum lugar do meu cérebro até que aos 48 anos, quando comecei um relacionamento afetivo com meu atual parceiro, a vontade de ser mãe voltou com força total. Procurei uma médica de fertilização in vitro, que também é especialista em investigação, a dra Eliana Morita, da Clinica Hinode, em São Paulo, e começamos o que eu chamo de uma ´´revirada de ponta cabeça“ em termos de exames. Fiz mais de 50 exames e foram detectados vários problemas, além do fator idade.
Eu tenho dois tipos de trombofilias e tive que tomar injeções de enoxaparina (antigoagulante) diárias durante toda a gravidez, e também tinha miomas e pólipos recorrentes, líquido no endométrio, adenomiose e endometrite e, por conta disso, fiz seis cirurgias para preparar o útero para receber um embrião.
Engravidei em abril de 2019, depois de quase quatro anos de tratamento e na quarta transferência de embriões (#fertilizaçãoinvitro). Devo ter gasto uns 70 mil reais no processo, embora meu plano de saúde tenha coberto a maioria dos exames. Mas eu sabia que seria uma luta para eu conseguir já que minha médica falava em 10% de chances de um positivo a cada transferência, e nunca pensei em desistir. Aliás, uma vez uma amiga me perguntou se eu não me arrependia de ter gasto o dinheiro de um carro zero em busca de um sonho. Minha resposta foi de que algumas pessoas sonham com um carro zero, mas que meu sonho era um carro usado com uma cadeirinha de bebê no banco traseiro.
Durante esses anos de tratamento, chorei a cada negativo por dois ou três dias e depois voltei pra batalha com mais convicção de que um dia daria certo. Nesse processo, fiquei ainda mais próxima de Deus.
Eu acredito que num tratamento desse tipo é preciso cuidar do corpo, através dos exames e vitaminas, da mente para que consigamos combater a ansiedade e estresse e também do lado espiritual, que foi de onde eu tirava minha força. Meu companheiro,o inglês Stuart Clarke, 47 anos, chefe de cozinha, com quem namoro ha 5 anos e moro junto há três meses, também me apoiou durante todo o tratamento e foi fundamental para que eu me mantivesse calma e focada.
Além disso, contei com uma das maiores especialistas em reprodução humana em São Paulo, a médica Eliana Morita, da Clínica de Fertilidade Hinode, especialista em reprodução humana e obstetra de alto risco. Ela foi tão importante que no final acabamos amigas. Talvez por sempre me dizer a verdade sobre as minhas reais chances, mas com muito carinho e acolhimento. Além de ser especialista em fertilização, a dra Eliana é obstetra de alto risco e me acompanhou durante toda a gravidez e também fez meu parto.
O Anthony nasceu numa cesárea de emergência no dia que completei 37 semanas. Fiquei quase uma semana internada numa unidade semi-intensiva porque minha placenta começou a parar de funcionar e precisei de um acompanhamento muito de perto. Aliás, foi essa médica que descobriu que eu tinha placenta acreta (quando a placenta gruda no útero) e também conseguiu salvar meu útero na hora do parto. “Devo muito à ela. O meu filho e o meu útero“.
Embora eu esteja adorando a maternidade, e tenha embriões congelados, não me sinto preparada para passar por tudo isso novamente. Talvez uma das possibilidades para dar um irmãozinho ou irmãzinha ao Anthony e aumentar a família seja através da adoção. É uma opção que não está descartada.
Para as mulheres com mais de 40 anos que ainda gostariam de engravidar, deixo algumas dicas: procurem um bom médico de fertilização, façam uma investigação detalhada e cuidem do lado espiritual. A medicina está muito avançada e nos dá várias opções para nos tornamos mães tardias. E foi pensando em ajudar outras mulheres nessa caminhada, que resolvi abrir um instagram sobre o assunto: @fertilizacaoaposos40 Eu tento ser um apoio para quem ainda está na batalha.”, Claudia Lopes,54 anos, jornalista, vive em São Paulo com o namorido, o inglês Stuart Clarke que é chef chefe de cozinha na capital Paulista. Eles são pais do sapeca e risonho Anthony.
- Fotos: Arquivo pessoal das entrevistadas
- Agradecimentos arte da capa: Vladmir Farias
Mais fontes:
https://materprime.com.br/programa-de-ovorecepcao/
João Batista diz
Matéria bastante interessante Claudia.
Penha diz
Olá ideia delas gostei demais do seu conteúdo! Tratamento número 1 do mundo para fertilidade-Seu sonho de ser mãe começa aqui .
Claudia Costa diz
Bom dia!
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